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Texto do episódio
1155

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 21, 19-23)

Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”.

Neste domingo de Pentecostes, em que a Igreja proclama o Evangelho de São João, capítulo 21, versículos de 19 a 23, vamos pedir a Deus que ilumine o nosso coração com o dom do Espírito Santo, para que possamos mergulhar nesse grande mistério que hoje celebramos. 

Ora, já sabemos que Pentecostes é a festa do Espírito Santo, em que Ele é derramado sobre a Igreja, representada ali pelos Apóstolos. Esta é também a ocasião de renovarmos o nosso fervor e, em suma, a nossa abertura para os dons que já recebemos no Batismo e, especialmente, na Crisma — são os sete dons do Espírito Santo. 

Vamos entender o significado dessa realidade. E a maneira mais eficiente para entendermos isso é observarmos que o primeiro a receber esses dons em plenitude foi Nosso Senhor. Esses sete dons estavam de forma exemplar — e ainda hoje estão — na alma de Jesus. E receber esses dons é receber em nossas almas uma capacidade de verdadeiramente captar o sopro do Espírito, que quer configurar a nossa alma à alma de Cristo. Ora, é por isso que os santos são aqueles que melhor manifestam os dons espirituais. Mas você pode reclamar: porque, depois de batizado e crismado, ainda não vê os dons do Espírito do Senhor em sua vida; isto é, não percebe diferença alguma. 

Pois bem, os dons do Espírito Santo são uma realidade passiva, receptiva — são como antenas que captam os sinais que vêm de Deus. Aliás, os Santos Padres comparam os dons do Espírito a velas de um navio: em alto mar, você quer ser santo, então você rema com bastante esforço — pela vivência das virtudes —, mas, se as velas da embarcação estiverem abertas, quando o vento do Espírito Santo soprar o barco será impelido com mais facilidade. Ou seja, você terá de despender menos esforço, porque há agora um auxílio da graça para que você consiga agir de forma divina — como os santos e como o próprio Cristo, que recebeu  abundantemente o Espírito Santo em sua alma. 

Precisamos fazer uma distinção: nós recebemos o Espírito Santo, assim como Nossa Senhora, os Apóstolos, os santos e os anjos; porém, em Jesus o Espírito permanecia, pois Ele é o Cristo. Nele há a plenitude dos dons espirituais, isso porque Jesus recebe continuamente o sopro do Espírito — eis a beleza. 

Contudo, isso ainda não resolve o nosso problema fundamental: por que não vemos os dons do Espírito Santo no nosso cotidiano? Ora, a razão fundamental para isso é a triste realidade dos pecados veniais habituais. Cometer um pecado venial esporadicamente tem um determinado peso, mas viver habitualmente na prática desses pecados é um grande problema. É o palavreado torpe, a piada suja, o comentário malicioso; é a oração feita com desleixo, o olhar que não se desvia quando poderia; é o comer excessivamente, o cultivo das vaidades etc. Esses pecados veniais embotam nossa alma e nos fazem ver o mundo carnalmente. Assim, mesmo sendo cristãos, a mundanidade ainda está bastante presente em nosso interior. Assim, por não combater os pecados veniais, eles se tornam hábitos permanentes em nossa vida.

Mesmo que sejamos bons cristãos, vivamos em estado de graça, combatamos os pecados mortais — que é o mínimo para ser salvo, mas não santo —, participemos da Missa diariamente, rezemos o terço etc; mesmo assim, há certos pecados de estimação, os pecados veniais, que vão se arraigando em nós e, apesar de não extinguirem a caridade — o estado de graça —, eles vão nos tornando pessoas mundanas. 

Embora não caiamos em pecados graves, nossas avaliações da realidade tornam-se carnais. Por exemplo: tudo nos irrita; estamos sempre à procura do que é mais cômodo e prazeroso, os melhores lugares; buscamos sempre estar em evidência, querendo sempre ser elogiados etc. Em suma, vamos nos conformando com uma “virtude” medíocre. Ora, se agimos assim, não é de espantar que os dons do Espírito Santo não se manifestem em nossa vida. A verdade é que eles estão em nosso coração, porque nos encontramos em estado de graça, mas a verdade é que não queremos ser santos e os sete dons do Espírito Santo são feitos para a santidade. Ainda no exemplo da embarcação: o Espírito do Senhor quer soprar sobre o nosso navio, ou seja, quer conduzi-lo à santidade, mas nossas velas estão dobradas. Isso porque os pecados veniais são como dobras na alma, porque não nos esforçamos para combatê-los; é como se estivéssemos resignados — como se esses pecados já fizessem parte da nossa própria natureza. Mas nenhuma pessoa nasceu para pecar. 

Ora, a primeira coisa que temos de entender nesta celebração de Pentecostes é que celebramos o Espírito Santificador. E esse Espírito — recebido no Batismo e confirmado na Crisma — quer nos fazer santos. Aliás, os dons nos foram dados precisamente para isso. O Concílio Vaticano II, na “Lumen Gentium”, capítulo V, diz que há uma vocação universal de todos os fiéis à santidade.  Mas nós, resignados à mediocridade, não ouvimos o chamado — vocação é um chamado. Deus está nos chamando, o Espírito Santo está fazendo um apelo, mas não sentimos esse apelo, esse chamado.

Naquelas ocasiões em que, rezando, sentimos consolações, era o Espírito a nos convidar. Geralmente, quando as pessoas, rezando, sentem o amor de Deus, elas acham que já estão amando. Mas isso não é verdade. Não estamos amando, é Deus quem está nos amando e chamando-nos a amar. É um convite de amor. Se, durante a oração, sentimos essa unção, esse toque do Espírito Santo, é um apelo de Deus para sermos santos e amarmos a Deus. Todavia, por acharmos que a consolação já é uma forma de amar, decidimos não reagir, pensando que nossa vida espiritual medíocre já está acima da média. Mas Deus nos chama para a santidade. Ele se aproxima de nós assim como se aproximou daquela mulher samaritana à beira do poço e disse: “Dá-me de beber” (Jo 4, 10). Desse modo, se atendermos ao chamado de Cristo, do nosso interior brotará uma fonte de água vida, que jorra para a vida eterna. 

Agora, sejamos práticos: o que fazer para verdadeiramente desenvolver esses dons do Espírito Santo? Os dons têm uma graduação, trata-se de uma escada de sete degraus: o primeiro deles é o temor do Senhor — que é o princípio da sabedoria, como dizem as Escrituras (cf. Pr 9, 10). E no sétimo degrau está, portanto, a sabedoria, o maior dentre os dons. 

Vejamos o primeiro degrau, o temor do Senhor. Esse é o primeiro passo, quando nos colocamos em busca da santidade. Esse dom primeiro está naquela pessoa que começou a combater precisamente os pecados veniais — é evidente que tal pessoa já combate os pecados mortais, ou seja, ela está em estado de graça. Não estamos falando de ser salvos, mas de ser santo — para ser salvo, basta o salário mínimo do estado de graça, porque, nesse caso, os pecados veniais serão queimados no fogo do Purgatório. Mas queremos, desde já, começar a combater os pecados veniais, especialmente aqueles que são habituais, porque eles drenam a nossa energia espiritual, deixando-nos tíbios e mornos. E então, ao combater esse tipo de pecado, começaremos a perceber uma mudança interior: o medo de pecar — que é totalmente diferente do mero escrúpulo. E, se progredirmos ainda mais, vamos notando que, a bem da verdade, esse medo é de ofender a Deus — que tanto amamos. 

Vemos, portanto, que houve uma evolução: inicialmente, tínhamos medo de pecar, mas agora, esse amor servil se transformou em amor filial. Ora, se Deus é tão bom conosco, morreu na Cruz para nos salvar e deu-nos tantas benesses, por que o ofenderíamos? Então, eis que na nossa alma tem início a manifestação de um verdadeiro dom de Deus: a contrição perfeita — essa realidade de, a todo custo, não querer ofender a Deus. E aqui o Espírito já está atuando dentro de nós; o dom do temor do Senhor já começa a mostrar a sua presença — são as velas do nosso navio que começam a se desdobrar para o vento do Espírito. Assim, por causa disso, começamos a generosamente fazer mais mortificação, começamos a orar mais, a se confessar com maior frequência etc. Em suma, começamos a perceber uma certa facilidade de buscar as coisas do alto. O temor de Deus, porém, é um dom negativo, por assim dizer, porque temos medo de ofender o Pai, por amor. 

Mas é necessário dar um passo além. O lado positivo dessa realidade é o dom da piedade filial, isto é, do filho que quer agradar. Dessa forma, quando, nas palavras de Santa Teresa d’Ávila, dispomo-nos com uma “determinada determinação” a jamais ofender a Deus, e agora procurando agradá-lo, então começamos a observar que o sopro do Espírito Santo vai conduzindo a nossa vida a querer verdadeiramente manifestar uma confiança filial. Somos preenchidos de confiança quando pronunciamos as palavras do Pai-Nosso. Olhamos para o Céu tendo em nosso coração a certeza de que somos filhos, herdeiros do Pai; Deus quer nos dar a herança da vida eterna. Efetivamente, agora em Cristo somos co-herdeiros do Pai. 

Assim, quando a pessoa que já começou a rezar — que já tinha em si aquelas consolações iniciais — esbarra na aridez, ela mesma já tem força para continuar, porque agora há o dom da piedade. É esse dom que nos impele à frente, apesar da aridez; isso porque agora confiamos no Espírito Santo que nos alimenta com suas consolações — e isso nos dá tremenda confiança. 

O temor do Senhor e o dom da piedade são os dois primeiros degraus sumamente importantes sobre os quais nós temos de subir — com confiança. É claro que é Deus quem dá esses passos; tudo o que temos de fazer é consentir com a ação divina. E fazemos isso por meio do combate aos pecados veniais, de uma generosa vida de oração e de mortificação. Com isso, começaremos a notar a ação do Espírito Santo em nossa vida — os outros dons virão em consequência. Gastamos mais tempo falando desses dons primários, mas também virá o dom da ciência, que nos ajuda a distinguir o bem do mal. É quando Deus mostra com maior clareza a sua presença nas coisas boas da criação — à vista do bem e do mal, o dom da ciência nos dá horror ao pecado. 

Mas como o dom da ciência não é suficiente, é necessário subir ao próximo degrau: o dom da fortaleza. Uma vez que distinguimos o bem e o mal com a ciência, agora precisamos combater o mal e lutar pelo bem. Para isso, precisamos ser fortes, e o Espírito Santo irá nos ajudar com isso.

Às vezes, o entendimento do bem e o do mal não é suficiente, porque em algumas circunstâncias não é meramente uma escolha entre bem e mal, mas entre diferentes bens, um elevado e outro inferior. Há momentos nos quais nós nos encontramos numa verdadeira sinuca de bico, encurralados. Então há o dom do conselho; é o Espírito Santo conselheiro que nos ajuda a tomar decisões e nos mostra como executá-las na prática.

Em seguida, é o dom da inteligência que nos dará a capacidade de penetrar nas coisas reveladas por Deus. Para quem é desprovido desse dom, os dogmas são meramente fórmulas do Catecismo; porém, para a alma simples que recebeu do Espírito Santo o dom da inteligência — mesmo sem estudar teologia —, os mistérios da Encarnação e da Eucaristia, por exemplo, são compreendidos perfeitamente. Tais realidades permanecem misteriosas, mas há uma luz capaz de penetrá-las, que nos dá uma capacidade de “intus legere” — “ler interiormente” — o segredo das coisas. E isso nem os sábios deste mundo podem fazer sem o Espírito Santo. 

E temos finalmente o dom da sabedoria, que é o mais elevado dentre todos os dons. Ele nos conduz à verdadeira capacidade de saborear, por assim dizer, o amor verdadeiro — mesmo quando ele é um amor crucificado. Nós saboreamos o amor e nos entregamos àquele que nos amou primeiro. 

Esses são os sete dons do Espírito Santo, e é precisamente essa realidade que precisamos renovar em nós em Pentecostes. Derramado sobre a alma de Cristo, o Espírito lhe deu abundantemente esses dons — por isso Ele é o Cristo, isto é, o Ungido. E, como vemos, todos os santos partilham da abundância desse óleo derramado sobre Jesus — e que agora transborda em nós. É como o óleo derramado sobre a cabeça e que desce pela barba — a barba de Aarão — até chegar à orla das vestes.

Por isso, celebremos bem Pentecostes, renovemos nosso Batismo e nossa Crisma, tomando a firme decisão de não mais ofender a Deus e de agradá-lo sempre. E então, com essa “determinada determinação”, poderemos ver os dons do Espírito brotarem em nosso coração — aliás, eles já estão aí, escondidos. Sejamos generosos, e o Espírito Santo que sopra inflará as velas do nosso navio, conduzindo-o velozmente até o Céu.

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K
Karein
13 Jun 2025

Entendi e compreendi, que bençao. Gratidao eterna 

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MJ
Marisa J.franco
8 Jun 2025

Nunca antes ouvi uma explicação tão clara dos dons do Espírito Santo como degraus para a santidade,Deus o abençoe Padre!!

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ÁL
Álerson Lima
8 Jun 2025

Amém!

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SS
Siomara Sanglard
8 Jun 2025
(Editado)

Os caminhos do Padre hoje foi sempre tentando nos colocar negativamente. A teologia a beleza do pentecoste na homilia foi sem encantamento.  Mais para nos entristecer que nos alegrar, aprender. Todos recebem a inteligência , a vontade, de formas diferentes  e o poder sobrenatural  que caiu em são Paulo os escolhidos não é para todos, os outros ficarão de fora, portanto dobremos estudando para conhecer nos testemunhos e seguir para conhecer ser bom, nascer o homem novo e matar o homem velho.

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AS
Aparecida Santos
7 Jun 2025

Padre Paulo sempre nos enriquece com suas homilias. Através delas, crescemos no conhecimento do amor e da misericórdia  de Deus. Que o Espírito Santo encontre em nós um coração dócil, humilde,  aberto à  surema graça  que Ele quer derramar em nossos corações. Vinde Espírito Santo,  e renovais a face da terra. Amém 

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CS
Crislosânia Sousa
7 Jun 2025

uma bela catequese, Padre Paulo é de uma sabedoria que consegue nos tocar, nos fazer entender a grandeza das coisas de Deus.

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MF
Maria Francisca
7 Jun 2025

Que top. 3° dia após a morte de Jesus... Cristo morreu. Já alcançou para nós a salvação. Agora, ele envia os apóstolos para anunciar e aplicar a salvação que Cristo nos mereceu... 

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AS
Antonio Souza
7 Jun 2025

Não tem o texto disponível 

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DS
Davi Silva
7 Jun 2025

Texto do Episódio?

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Texto do episódio
Comentários dos alunos