Desemprego, arrocho salarial, inflação, carga tributária sufocante... Se você e sua família estão sofrendo com a atual crise econômica, saiba como enfrentar espiritualmente estas dificuldades, transformando-as numa oportunidade maravilhosa de amar a Deus e colocar o seu coração no devido lugar.
"Haec enim omnes gentes inquirunt – Os pagãos é que vivem procurando todas essas coisas", diz Jesus, sobre as constantes preocupações dos homens com as coisas materiais. "Portanto, não vivais preocupados, dizendo: 'Que vamos comer? Que vamos beber? Como nos vamos vestir?' (...) Vosso Pai que está nos céus sabe que precisais de tudo isso. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo" (Mt 6, 31-33).
Esta aula pretende ser uma direção espiritual a todos os brasileiros, afetados pela crise econômica que tem gerado desemprego e arrochado a renda familiar. Mais do que oferecer uma solução para os problemas da economia, a intenção desta aula é ajudar as famílias a enfrentar de modo cristão as dificuldades inerentes a esta vida terrena.
Deve-se começar por dizer que os bens materiais são as maiores fontes de disputas e desavenças entre os homens, já que não podem ser possuídos ao mesmo tempo por muitos. A propriedade de um é simultaneamente a necessidade de outro e, quando se transfere algo a alguém, é inevitável que se perca aquilo que se doa. Os bens espirituais, ao contrário, quanto mais se dão, mais se ganham. Quem dá Deus a outrem, enriquece-se; quem, ao contrário, deseja a condenação eterna a alguém, é o primeiro a perder a graça divina. É o que ensina Santo Tomás de Aquino, quando resume que "os bens espirituais podem ser possuídos ao mesmo tempo por muitos, não, porém, os bens corporais" [1].
Como, porém, é inevitável que o ser humano se entregue ao cuidados das coisas temporais, com as quais ele provê o seu sustento, importa muito que se saiba como lidar saudavelmente com as realidades deste mundo, entendendo o que vem em primeiro lugar e tendo sempre diante dos olhos a imitação de Cristo, o qual foi "pauper in nativitate, pauperior in vita et pauperrimus in cruce – pobre em Seu nascimento, mais pobre em vida e paupérrimo na Cruz" [2].
No Sermão da Montanha, Nosso Senhor ensinou o valor da santa pobreza, quando disse: "Beati pauperes spiritu, quoniam ipsorum est regnum caelorum – Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus" (Mt 5, 3). Na verdade, Ele mesmo, enquanto Deus, é, ao mesmo tempo, riquíssimo e pobre: rico, porque a Ele, que tem em Si todas as riquezas, nada Lhe falta; pobre, porque não possui Ele nada fora de Si de que tenha necessidade. Por isso, é possível repetir com Santa Teresa de Jesus que "sólo Dios basta – só Deus basta" [3].
O primeiro ensinamento de Cristo é, portanto, o primado de Deus. O Verbo sai dos céus e, ao fazer-Se homem, também Se faz pobre. Quem já teve a oportunidade de visitar a Santa Casa de Loreto, onde viveu a família de Nazaré, já atestou que, de fato, "o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça" (Mt 8, 20). Durante toda a sua vida nesta terra, Jesus foi verdadeiramente pobre das coisas materiais. Fê-lo, entre várias razões, "para que tanto maior se mostrasse o esplendor de sua divindade, quanto mais vil parecesse por causa da pobreza" [4], indicando com a sua vida simples aquele "único necessário" ao qual fazia referência em sua pregação (cf. Lc 10, 42). Com Ele, viveu por trinta anos a bem-aventurada Virgem Maria, cuja pobreza de espírito ela mesma descreve em seu Magnificat, quando canta: "A minha alma engrandece o Senhor (...) porque ele olhou para a humildade de sua serva" (Lc 1, 47-48).
Muitos outros santos na história da Igreja encarnaram em sua vida o mesmo ideal de pobreza evangélica do Cristo. Basta olhar para a vida de São Francisco de Assis, o qual viveu a perfecta laetitia da miséria material, ou para a de Santa Teresa de Ávila, que não cansava de lembrar às suas irmãs o grande bem que há em viver a santa pobreza [5].
Nas últimas décadas, a Igreja tem falado muito da importância de socorrer os pobres. Essa preocupação social, que é legítima e encontra amparo no longo desenvolvimento da Doutrina Social da Igreja, é legítima e necessária. Mas a religião cristã, mais do que isso, consiste sobretudo no primado de Deus. Ao lado da pobreza efetiva – que é o desprovimento de bens materiais –, é importante aprender a pobreza afetiva – que consiste em colocar os olhos na verdadeira e única riqueza, a qual Deus preparou para os que O amam, riqueza "que os olhos jamais viram, nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu" (1 Cor 2, 9).
Pelas palavras "De que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria alma?" (Mt 16, 26), Cristo indicava a tristeza de muitos que, possuindo muitos bens nesta vida, não conhecem, no entanto, a amizade de Deus e o caminho da vida eterna, e terminam perdendo as suas almas. A verdadeira riqueza dos cristãos nesta vida são a graça divina, os Sacramentos e a comunhão dos santos.
Quando chamou o jovem rico do Evangelho para segui-Lo (cf. Mt 19, 16-30), Cristo queria justamente fazer de Si a única riqueza daquele rapaz. Reside aqui o grande erro da chamada "teologia da prosperidade", que engana as pessoas prometendo-lhes sucesso e fartura nesta vida, em detrimento da eterna. Nosso Senhor não prometeu nada neste mundo a ninguém. Ao contrário, Ele disse: "Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me" (Lc 9, 23); e, como foi colocado no começo desta aula: "Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo" (Mt 6, 33).
Isso não significa que quem tem o dever de sustentar a sua família deva, agora, fazer um voto de pobreza. Ainda assim, aqueles que vivem no mundo, senão fazem expressamente tal voto, devem estar dispostos a viver essa virtude, se a miséria bater à sua porta. Quem quiser ser santo, esteja ou não na vida religiosa, deve viver o espírito dos conselhos evangélicos, ainda que não faça a sua profissão. Quem quiser ser santo deve aprender a não pôr a esperança nos bens materiais, ainda que os possua.
Isso é muito difícil para a sociedade materialista moderna, que acha que a bem-aventurança humana está no dinheiro. De um lado, os capitalistas se movem pela ganância; doutro, os socialistas se articulam pela inveja. No fim, todos morrem abraçados – e apegados – aos seus bens. Nosso Senhor, ao contrário, adverte, no mesmo Sermão da Montanha: "Ninguém pode servir a dois senhores: ou vai odiar o primeiro e amar o outro, ou aderir ao primeiro e desprezar o outro" (Mt 6, 24).
Certa vez, dirigindo-se a Deus, Santo Agostinho disse: "Ama-te menos quem ama fora de ti algo que não ama por tua causa" [6]. Se, portanto, alguns devem possuir, que possuam como recomenda o Apóstolo: "Então, que, doravante, os que têm mulher vivam como se não tivessem; os que choram, como se não chorassem, e os que estão alegres, como se não estivessem alegres; os que fazem compras, como se não estivessem adquirindo coisa alguma, e os que tiram proveito do mundo, como se não aproveitassem. Pois a figura deste mundo passa" (1 Cor 7, 29-31).
Nestes tempos de crise, que os cristãos se lembrem da imitação de Cristo, o qual, de rico que era, tornou-se pobre por causa de nós, para que nos tornássemos ricos por Sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9). Perguntemo-nos, sinceramente: "O meu Deus se fez paupérrimo por amor a mim. Não serei eu capaz de ser pobre por amor a Ele e de transmitir isso aos meus filhos?" Confiemos, por fim, na divina providência. Quando Deus permite alguma cruz em nossa vida, é porque Ele tem uma grande ressurreição por trás.
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