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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 10,1-9)

Naquele tempo, o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. E dizia-lhes: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita.

Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós. Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: ‘o Reino de Deus está próximo de vós’”.

Celebramos hoje a festa de São Lucas, Evangelista. São Lucas é um desses evangelistas que não conheceram pessoalmente a Jesus, mas estiveram ligados a um Apóstolo; no caso, aqui, ao Apóstolo São Paulo. Quem foi Lucas? Bom, em primeiríssimo lugar, Lucas, pelo próprio Evangelho que escreveu, era certamente uma pessoa culta. O grego de São Lucas é de quem foi realmente preparado para escrever. Nós sabemos que ele acompanhou São Paulo. Por quê? Porque ele escreveu um evangelho e também os Atos dos Apóstolos. Lá pelas tantas, na segunda viagem apostólica de São Paulo, antes de São Paulo dar o passo decisivo, historicamente, de atravessar o Mar Egeu e chegar à Europa, os Atos dos Apóstolos começam a narrar a viagem de Paulo com o pronome “nós”, sinal de que Lucas estava presente, acompanhando-o em viagem.

É exatamente aqui que nós queremos, com gratidão imensa, dirigir a Deus louvor e glória pelo apostolado do grande São Lucas, que, junto com São Paulo, trouxe o Evangelho para a Europa; trazendo-o para a Europa, trouxe-o para Portugal; e consequentemente para o Brasil. Se nós hoje cremos, nós o devemos ao apostolado de São Paulo com esse seu querido companheiro, São Lucas. Depois que São Paulo foi decapitado e deu testemunho em seu martírio, São Lucas se pôs a escrever tanto o seu evangelho como os Atos dos Apóstolos.

Nós não sabemos com exatidão se ele o escreveu logo antes de Paulo morrer ou logo depois. O que acontece, porém, é que é interessante nós vermos que São Lucas quis ser fiel aos acontecimentos históricos, àquilo que realmente aconteceu na vida de Jesus. Ele mesmo diz, no início do seu evangelho, naquele famoso prólogo escrito a Teófilo, “amigo de Deus”, que foi buscar as fontes primárias, ou seja, foi procurar as pessoas que realmente viveram aqueles fatos para os poder relatar e escrever o Evangelho, já que ele mesmo não era testemunha ocular de tudo aquilo.

Isso é uma coisa interessante, porque em São Lucas temos o grande evangelho da Virgem Maria. São Lucas narra a infância de Jesus a partir da ótica de Nossa Senhora, o que quer dizer que boa parte do evangelho de Lucas contém coisas que ele ouviu diretamente da Virgem Santíssima. Pois bem, aqui nós vemos duas coisas impressionantes que nos levam a celebrar hoje e a fazer festa no dia de São Lucas: a gratidão por ele estar na origem da evangelização da Europa, e gratidão por ele ser o evangelista da Virgem Maria, portanto o Evangelho já chega à Europa com este sabor da Virgem Santíssima.

Rezemos, rezemos a Deus pela Europa, tão atribulada e necessitada de evangelistas. São Lucas evangelizou junto com São Paulo a Europa, e fez isso levando o testemunho colhido dos lábios da própria Virgem Maria.

Que a Virgem Santíssima mais uma vez mostre que está conosco nesta grande batalha, batalha de evangelização, e ajude nossos irmãos europeus a retomarem o Evangelho na sociedade, que já vai tão secularizada. Nós brasileiros nos sentimos espiritualmente unidos à Europa, sobretudo por nossa união a Portugal espiritualmente. Rezemos por eles e, oferecendo preces e sacrifícios para que a evangelização retome o seu caminho, novamente a Europa dê testemunho de que ela pode, como já o fez no passado, ressurgir das cinzas e ser um continente cristão.

* * *

Lucas, contração de Lucano [1], parece ter sido antioqueno, segundo o testemunho de Eusébio (cf. HE III 4), nascido fora da religião judaica [2] e perito em medicina, pelo que diz São Paulo: “Saúda-vos Lucas, o caríssimo médico” (Col 4,14). Seus principais feitos foram conservados em parte nos livros do Novo Testamento (em Atos e algumas epístolas paulinas), em parte nos documentos da Tradição. É autor de Atos dos Apóstolos, onde emprega desde o início a terceira pessoa, embora, ao narrar a segunda viagem de Paulo (c. 51–54 d.C.), desde a expulsão do Apóstolo de Trôade até sua ida a Filipos (cf. At 10,16-40), utilize a primeira. A partir daí, volta a usar a terceira pessoa até o retorno do Apóstolo, ao cabo da terceira viagem (c. 55–59 d.C.), à cidade de Filipos (cf. At 20,5s). Deste ponto da narração até o final do livro, o autor fala sempre na primeira pessoa. É opinião comum que o uso da primeira pessoa designa o tempo em que Lucas acompanhou São Paulo.

Também é fato, pelo que consta nas epístolas, que Lucas foi companheiro e ajudante de Paulo (cf. Col 4,14), esteve junto do Apóstolo quando do primeiro aprisionamento (cf. Fl 24) e não o abandonou no segundo (cf. 2Tm 6,9ss); tampouco parece provável, de resto, que durante o período entre ambas as prisões (i.e., nas expedições apostólicas pela Hispânia, por volta de 62–67 d.C.) que Lucas, seu médico caríssimo (cf. Col 4,14), tenha deixado o Apóstolo das gentes.

Que o terceiro evangelista haja coroado a vida com o martírio, afirmam-no desde a antiguidade tantos autores, que seria difícil enumerá-los. São incertas, em todo o caso, suas pegadas. De acordo com Santo Epifânio (cf. Hær. LI 11), Lucas teria evangelizado a Dalmácia, a Gália, a Itália e a Macedônia; segundo São Gregório de Nazianzo (cf. Orat. XXX 11), a Acaia; segundo Simeão Metafrastes (Vita S. Lucæ 7), o Egito e Tebas. O prólogo monarquiano acrescenta: “Não teve nunca mulher nem filhos, morreu aos 74 anos na Bitínia, cheio do Espírito Santo”, ao que fazem eco Santo Isidoro de Sevilha (cf. De vita et ob. Patrum 82) e São Jerônimo (De vir. ill. 7): “Foi sepultado em Constantinopla, viveu 84 anos, sem esposa, à qual cidade, no vigésimo ano de Constâncio, os ossos dele, junto com as relíquias do Apóstolo André, foram transferidas da Acaia”.

Um antiga tradição, atestada por Nicéforo Calisto (cf. Hist. Eccl. II 43), Simeão Metafrastes (cf. Vita S. Lucæ 6) e, antes deles, já no séc. VI, por Teodoro Anagnosta (Excerpta I 1), afirma que Lucas teria sido pintor e o primeiro retratista da Virgem Maria. Nesse (suposto) quadro primitivo se teria inspirado, tempos mais tarde, o autor do ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Embora não se possa ter certeza de tal tradição, tampouco há razões para rejeitá-la. É incerto porém quando e onde os dois se teriam encontrado: se em 49–50 d.C., no início da segunda viagem paulina, Maria teria entre 67-70 anos; se apenas em 58 d.C., quando Lucas acompanhou Paulo a Jerusalém, teria ela entre 78 e 80.

No terceiro Evangelho há vários indícios de uma tradição proveniente dos lábios e do coração de Maria. Com isso estão de acordo não só os católicos como também alguns protestantes e racionalistas. Embora não falte quem ponha em dúvida que Lucas se tenha encontrado alguma vez com a Virgem bendita, tampouco faltam razões para pensar que o evangelista não só a viu como dela ouviu a narração do mistério da encarnação e muitos outros fatos da vida oculta em Nazaré. Tome-se, e.g., (a) o testemunho mesmo de Lucas, que supõe uma relação direta com Maria (cf. 2,19.33.51); (b) o conteúdo de certas passagens, que, se não fosse revelado por ela, não poderia ser conhecido por outra pessoa; (c) nem é verossímil que Lucas, preocupado em consultar as fontes mais em primeira mão (cf. 1,1-4), haja negligenciado uma testemunha tão privilegiada como a Mãe do Senhor, principalmente para o relato da vida oculta.

Notas

  1. Contrações do tipo sucedem também a outros nomes como, e.g., Anás (= Annanus), Apolo (= Apollonius), Ártemas (= Artemidorus, cf. Tt 3,12), Cléopas (= Cleopatros), Dimas (= Demetrius), Ninfas (= Nymhpdorus). Para alguns autores, Lucas viria de Lúcio (lt. Lucius; gr. Λούκιος).
  2. Prova disso seria o seu domínio do gr., muito mais correto que o de Marcos. Lucas, portanto, seria grego, de origem pagã, embora nada impeça que ele fosse, antes de converter-se à fé, prosélito da religião judaica. Essa última possibilidade parece apoiar-se no conhecimento que ele mostra ter, sobretudo nas narrativas da infância, do AT.

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