CNP
Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
Todos os direitos reservados a padrepauloricardo.org®

Aproveite a maior promoção do ano!

Descontos regressivos:
quanto antes você assinar, maior o desconto. A partir de 45% na assinatura anual.

  • Descontos diminuem com o tempo;
  • Quanto antes você assinar, maior o desconto;
  • 50 cursos à sua disposição;
  • Biblioteca de livros digitais para complementar seus estudos;
  • Acesso a transmissões exclusivas para alunos;
  • Participação no programa Studiositas;
  • Condição especial na compra dos livros da Editora Padre Pio;
Assine agora
  • 38
  • 39
  • 40
  • 41
  • 42
  • 43

O que nos revela a Transfiguração de Cristo?

Manifestam-se na Transfiguração do Senhor dois milagres: a visão da luz de sua glória, a redundar em seu corpo, e a visão de sua insondável humildade, pela qual Ele quis ocultar sua própria grandeza, a fim de nos salvar por sua carne.

Texto do episódio
04

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 9,28b-36)

Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz. Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Então Pedro tomou a palavra e disse: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias”. Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!” Quando ouviram isto, os discípulos ficaram muito assustados e caíram com o rosto em terra. Jesus se aproximou, tocou neles e disse: “Levantai-vos, e não tenhais medo”. Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. Quando desciam da montanha, Jesus ordenou-lhes: “Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”.

Ao celebrarmos a Transfiguração do Senhor, celebramos o mistério da Encarnação. Jesus, como diz a Carta de São Paulo aos filipenses, no capítulo 2, “embora fosse Deus”, igual a Deus em tudo, “não se apegou a esta majestade divina, mas esvaziou a si mesmo e assumiu a forma de servo”, ou seja, a nossa forma miserável de sermos humanos.

O que acontece é que, se Deus se une à nossa humanidade, o efeito imediato desta realidade chama-se glória. Isto é uma coisa evidente: se Deus tomou para si uma humanidade em união hipostática, o que é espantoso não é que Jesus resplandeça e mostre toda a sua glória no Monte Tabor (como nós celebramos hoje); o espantoso é que Ele não se apresente assim desde o começo! Por quê? Porque, é evidente, Deus se uniu a uma natureza humana, a um corpo e a uma alma, o que é razão de grande glória.

Ora, vamos entender isso. Se você pega um pedaço de ferro enferrujado e une-o ao fogo ardente e abrasador, é evidente que o ferro derrete e fica parecendo fogo. Não é isso? Existe a transformação do ferro: o ferro, ao invés de assumir a natureza de ferro, parece assumir a natureza de fogo. Então, assim é Deus: se uma humanidade se uniu a Deus, ela passa a ser gloriosa! Mas por amor a nós, Jesus quis que isto fosse contido, e Ele, apesar desta união divina, profunda, misteriosa e insondável, pudesse viver uma vida de servo, uma vida como a nossa; por amor a nós, viver uma vida como a nossa: sentir fome, sentir sede, ficar cansado, precisar dormir. Jesus é a encarnação do Deus de amor que, para nos levar ao estado de glória que Ele manifesta no Tabor, assume o estado de miséria de Adão na sua natureza decaída, rebaixada pelo pecado. Jesus é igual a nós em tudo, exceto no pecado.

O que quer dizer “igual a nós em tudo”? Quer dizer o seguinte: igual a nós em tudo, inclusive em certas misérias que decorreram do pecado, ou seja, a nossa situação de dor, nossa situação de fragilidade. Deus tinha outro projeto para Adão. Deus pensou que o homem, embora sendo uma criatura mortal, pudesse viver alguns dons acima de sua natureza, para além da sua natureza (os chamados dons preternaturais): por exemplo, não morrer, não sentir dor, não ter de se cansar com o suor do seu rosto. Com o pecado, Adão perdeu todas essas coisas, como relata o livro do Gênesis.

Pois bem, Jesus assume a nossa humanidade nesta fragilidade e vem até nós; mas para que os seus Apóstolos Pedro, Tiago e João não fiquem escandalizados quando o virem desfigurado no Getsêmani, desfigurado na cruz, Ele se mostra aqui transfigurado, mostra a verdade, a verdade, como Ele diz claramente no evangelho de São João: “Ninguém tira a minha vida, eu a dou livremente”. Ou seja: Deus permitiu que Jesus vivesse toda aquela miséria, toda a dor da crucifixão; Deus quis isso livremente por amor a nós.

Há quem pense que isso diminuiu a humanidade de Cristo e torna essa humanidade menos “autêntica”. Porém, basta pensarmos qual forma de amor é maior: quando você sofre uma coisa que é inevitável (por exemplo, uma dor de dente em que nada se pode fazer), ou quando você sofre de modo voluntário e livre, dizendo: “Eu não precisava estar sofrendo isso, mas por amor a você, estou vivendo isso”. Assim percebemos que cada pequeno gesto de fragilidade humana de Nosso Senhor Jesus Cristo se torna um gesto livre e salvífico, de amor grandioso! A Transfiguração ilumina o restante da vida de Cristo e nos mostra: Ele podia não ter sofrido, mas por nós homens e para a nossa salvação desceu dos Céus.

* * *

1. Circunstâncias (Mt 17, 1; Mc 9, 2; Lc 9, 28). — V. 1. Seis dias depois do colóquio com os discípulos em Cesaréia de Filipe, Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, seu irmão, os mesmos que admitira como testemunhas da ressurreição da filha de Jairo (cf. Mc 5, 37; Lc 8, 51) e havia de admitir na agonia do Horto (cf. Mt 26, 37). Quanto ao número de dias, estão de acordo Mt. e Mc., Lc. porém escreve: Passados uns oito dias, o que alguns explicam dizendo que o evangelista numera o termo a quo e o ad quem, enquanto os outros não. Talvez o mais adequado seja dizer com Maldonado que Lucas não indica o tempo de maneira precisa, mas confusa, por isso diz uns, i.e., “cerca de”.

E os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha, para que Ele se entregasse à oração (em Lc.), e os três contemplassem sua glória.

Discutem os autores sobre o monte em que se deram estes acontecimentos. — 1) Tabor: Uma antiga tradição, de que são testemunhas Orígenes (cf. In Ps. 88, 13: PL 12, 1547), Santo Epifânio (cf. De gemmis), São Cirilo de Jerusalém (cf. Catech. 12, 16: PL 33, 744), São Jerônimo (Epist. 46, 12 e 108, 13: PL 22, 491) etc., afirma que se trata do monte Tabor (hoje Djebel el-Tor, a 320 m acima da planície circundante e 662 m acima do Mediterrâneo), opinião defendida ainda por bons autores. [1]. — 2) Outro monte: Há no entanto quem rejeite essa tradição como infundada e opine que o monte da Transfiguração foi algum cômoro do Antilíbano ou, mais provavelmente, o grande Hérmon (hoje Djebel el-Sheikh) [2]. As principais razões em que se baseia a última sentença, defendida desde o séc. XIX sobretudo por católicos, são as seguintes: a) segundo Políbio (cf. Hist. V 70, 6), no tempo de Antíoco, o Grande, em 218 a.C., havia no monte Tabor (Itabyrium ou Atabyrium) uma cidade que Antíoco mesmo conquistara e fortificara. Embora não seja certo que ela ainda existisse no tempo de Cristo, Flávio Josefo (cf. Bell. jud. IV 1, 8) afirma que em 67 d.C. havia ali uma planície amuralhada e habitantes que “não tinham outra água além da chuva”. Isso porém não parece concordar com a narração evangélica, que supõe um lugar deserto. — b) Os evangelistas situam a Transfiguração imediatamente após o colóquio em Cesaréia de Filipe, sem fazer menção alguma a um possível retorno à Galiléia; sinal, portanto, de que tanto uma coisa com outra aconteceram na mesma região.

Resposta: Estas razões não têm peso suficiente para obrigar-nos a rejeitar a tradição. Com efeito, à 1.ª pode-se responder que Flávio Josefo, na obra citada e em sua Vita (cf. 37), não chama ao Tabor nem “cidade” nem “aldeia”, nomes com que designa, na mesma passagem, outros locais habitados, mas “monte”. Além disso, não seria de estranhar que, em tempos de rebelião, os habitantes daquela zona tenham se refugiado no topo do monte, nas ruínas de uma antiga cidade. A melhor resposta à 2.ª é que Cristo e seus discípulos poderiam, sem nenhuma dificuldade, ter percorrido o caminho de volta num espaço de seis dias [3]; de fato, os próprios evangelistas parecem supor que Cristo estava retornando à Galiléia, já que o descrevem, ao descer do monte, rodeado de turbas e escribas (cf. Mt 17, 14; Mc 9, 14; Lc 9, 37) e, ao sair dali, já percorrendo a Galileia (cf. Mt 17, 21; Mc 9, 28), o que dificilmente poderia ter se dado aos pés do monte Hermón.

2. Cristo se transfigura (cf. Mt 17, 2-9; Mc 9, 3-9; Lc 9, 29-36). — V. 2. E foi transfigurado (μετεμορφώθη) diante deles (Lc. diz: Enquanto orava, transformou-se o seu rosto); como tenha sido essa transmutação, declara-se logo em seguida: O seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como neve (gr. ὡς τὸ φῶς = como luz), i.e., apareceu envolto de claridade celeste. — É mais vívida a descrição de Mc.: Suas vestes tornaram-se resplandecentes e de uma brancura tal, que nenhum lavadeiro sobre a terra as pode fazer assim tão brancas.

V. 3. Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Lc. acrescenta: Que apareceram envoltos em glória, e falavam da morte dele (gr. τὴν ἔξοδον αὐτοῦ), quer dizer, do êxodo ou partida dele deste mundo, pela morte, ressurreição e ascensão, que se havia de cumprir em Jerusalém, i.e., falavam da morte de Cristo como fim e complemento da Lei e dos profetas. “Por Moisés é significada a Lei, por Elias são significados os profetas, pelo Senhor é significado o Evangelho: Cristo apareceu pois entre Moisés e Elias, como se o Evangelho fora confirmado pela Lei e os Profetas” (Santo Agostinho, In Joan., tract. XVII 3) [4]. Lc. complementa: Entretanto, Pedro e seus companheiros tinham-se deixado vencer pelo sono (donde talvez se possa inferir que tudo sucedera à noite); ao despertarem (gr. διαγρηγορήσαντες, i.e., resistindo ainda ao sono, ou acordados do sono), viram a glória de Jesus e os dois personagens em sua companhia.

V. 4. Então Pedro, sem saber o que dizia (cf. Lc 9, 33), i.e., fora de si por causa da grande alegria, tomou a palavra e disse: Senhor, é bom, i.e., grato e prazeroso ficarmos aqui. Se queres, vamos fazer (gr. ποιήσω = vou fazer) aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e outra para Elias, para nos deliciarmos sem cessar com este espetáculo, ou para que ponhas neste monte, com Moisés e Elias, o trono de tua glória. De resto, com efeito, não seria difícil construir as tendas com ramos de terebinto e carvalho, abundantes no monte Tabor. — Nota Mc. que os Apóstolos estavam sobremaneira atemorizados, i.e., com aquela reverência e pavor de que são tomados os homens ao verem coisas extraordinárias. Tal pavor, contudo, não excluía a alegria e o gozo.

V. 5. Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa, sinal e símbolo da presença divina (cf. Ex 16, 10; 19, 9.16 etc.), os cobriu, a saber: a Jesus, Moisés e Elias, tirando-os da vista dos Apóstolos, com sua sombra; e da nuvem uma voz dizia: Este é o meu Filho amado [5], no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o, i.e., obedecei-lhe como Legislador e crede nele como Mestre.

V. 6-8. Aterrorizados pela aparição da nuvem e pelo som da voz celeste, caíram os Apóstolos com o rosto em terra, até que Jesus se aproximasse e os tocasse com a mão, como também nós fazemos quando desejamos acordar alguém sonolento. Tendo os discípulos voltado a si, desapareceu a visão celeste e, olhando eles logo em derredor, já não viram ninguém, senão só a Jesus com eles. Os Apóstolos então ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus.

V. 9. Ao descerem do monte, Jesus lhes ordenou que, antes da ressurreição (até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos), não contassem a ninguém, provavelmente nem aos demais Apóstolos, nada do que viram:. A proibição de divulgar o fato tem o mesmo motivo que outras ordens semelhantes de Cristo após a realização de um milagre, qual seja: para não acirrar ainda mais o ânimo de seus inimigos e evitar que o povo o procure mais pelo desejo de ver maravilhas que pela doutrina da salvação.

Mc. nota que os discípulos não entenderam o que queria dizer ser ressuscitado dentre os mortos, como tampouco haviam entendido outras vezes as predições da paixão.

Reflexão. — 1) Por que Cristo quis transfigurar-se? a) Para corroborar em nós a fé na ressurreição; b) para erguer e confirmar nossa esperança; c) para acender em nós o fogo da caridade divina; d) para consolar com a luz da glória sua Igreja, peregrina pelas trevas do mundo; e) para mostrar-nos quem de fato Ele é: Deus encarnado; f) para dar a seu Corpo místico ocasião de festa e alegria espirituais, muito distintas dos excessos e bacanais do mundo. — 2) As quatro transfigurações do homem: a) a desfiguração, do estado de graça para o de pecado; b) a recriação, do estado de pecado para o de graça; c) a condenação, dos prazeres do mundo para os suplícios da geena; d) e a glorificação, das misérias desta vida para o descanso da pátria celeste [6].

Notas

  1. Na Igreja grega, a festa da Transfiguração (6 de ago.) é conhecida como τὸ θαβώριον.
  2. Assim pensavam Calmet, Patrizi, Fillion, Le Camus, Plummer etc.
  3. Cf. *G. Dalman, Les Itinéraires de Jésus. Trad. fr. de J. Marty. Paris, 1930, p. 269: “Podia-se ir a pé de Jerusalém a Cesareia de Filipe (165 km) em seis dias, sem maiores delongas”; em linha reta, Cesareia dista 80 km do monte Tabor.
  4. Já o dissera Orígenes (cf. In Matt., tract. 12, 38: PG 13, 1069s). Mas como Elias não profetizou nada sobre o Messias nem é contado entre os escritores proféticos, alguns autores mais recentes se perguntam qual teria sido o verdadeiro motivo de sua aparição. Alguns confessam simplesmente não sabê-lo, enquanto outros o veem nas semelhanças entre Jesus e Elias quanto à virtude, às obras, aos frutos do Espírito Santo etc. 
  5. Cristo é Filho de Deus não somente κατ’ εξοχήν, i.e., por excelência ou mais do que os outros (pela plenitude infinita da graça habitual), mas também por ser Filho único, unigênito, por consubstancialidade, como sempre entendeu a Tradição e claramente se deduz da aposição de “o amado”, com art. (lt. dilectus, gr. ὁ ἀγαπητός = caríssimo, termo com que a LXX frequentemente traduz o hebraico יָחִיד, “único” (cf. Gn 22, 2.12.16; Jr 6, 26; Am 8, 10; Zc 12, 10; Pr 4, 3); é portanto Filho natural, eterno, único, coigual.
  6. Esta homilia é uma tradução levemente adaptada de H. Simón, Prælectiones Biblicæ. Novum Testamentum. 4.ª ed., iterum recognita a J. Prado. Marietti, 1930, vol. 1, pp. 403–405, n. 280–281.

O que achou desse conteúdo?

Mais recentes
Mais antigos
Texto do episódio
Comentários dos alunos