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Texto do episódio
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Os livros de J. R. R. Tolkien são apreciados no mundo todo, e muitos nem imaginam que, por trás da mitologia criada pelo autor — cheia de elfos, magos e anões —, existe uma sólida base cristã. Sim, Tolkien foi um católico devoto, e grande parte de O Senhor dos Anéis surgiu graças a essa devoção.

Na faculdade, Tolkien apaixonou-se pela linguística e seu “vício secreto”, como gostava de dizer, era inventar línguas antigas. Essas línguas míticas serviram para criar mitologias como a que vemos em O Senhor dos Anéis e em O Hobbit. Para escrever esses livros, o autor criou um mundo pré-cristão, mas repleto de referências perfeitamente aplicáveis ao cristianismo. De fato, a narrativa tolkieana não conta apenas historietas mágicas, mas verdades profundas da vida humana.

Tolkien não gostava de alegorias e, assim, desenvolveu uma mitologia bem diferente da de C. S. Lewis, por exemplo, em As Crônicas de Nárnia, cujos personagens são arquétipos da realidade: o leão Aslam não pode ser outra pessoa senão Jesus. Em O Senhor dos Anéis, ao contrário, as personagens não são apenas uma figura da realidade; elas reúnem características da criação, de sorte que a mitologia tolkieana não é uma apologia católica, mas, antes, uma tentativa de reproduzir aquilo que Tolkien entendia como um chamado de Deus para cocriar o universo, pois os mitos, na visão do escritor, seriam uma maneira melhor de se transmitir verdades profundas.

Para Tolkien, o nosso mundo seria um grande mito narrado por Deus. A diferença, dizia o escritor, é que os mitos humanos permanecem na fantasia, no mundo secundário, ao passo que os de Deus se fazem carne, entrando no mundo primário!

No dia 19 de setembro de 1931, Tolkien convenceu C. S. Lewis a tornar-se cristão, explicando-lhe justamente essa função do mito. Foi graças a uma longa conversa com o autor de O Senhor dos Anéis que Lewis percebeu que a narrativa do Evangelho de São João era, na verdade, um fato: o Filho de Deus encarnou-se e viveu como homem no meio de nós.

Mas, afinal, por que alguém deveria perder seu tempo lendo Tolkien ao invés das Sagradas Escrituras ou de um livro de teologia?

Ora, Deus deseja que participemos da criação, como no texto de Silmarillion, uma obra póstuma de Tolkien, que reúne alguns dos primeiros contos sobre a Terra Média. No primeiro capítulo, Tolkien narra a gênese do mundo: “Havia Eru, o único, que em Arda é chamado de Ilúvatar. Ele criou primeiro os Ainur, os Sagrados, gerados por seu pensamento, e eles lhe faziam companhia antes que tudo o mais fosse criado” [1].

Notem que a mitologia de Tolkien não é ateia nem politeísta; Ilúvatar, em élfico, significa Pai de todos. Ele é o Único, e os Ainur são apenas anjos sagrados, que lhe fazem companhia. A história prossegue:

E ele lhes falou, propondo-lhes temas musicais; e eles cantaram em sua presença e ele se alegrou. Entretanto, durante muito tempo, eles cantaram cada um sozinho ou apenas alguns juntos, enquantos os outros escutavam, pois cada um compreendia apenas aquela parte da mente de Ilúvatar da qual havia brotado e evoluía devagar na compreensão de seus irmãos. Não obstante, de tanto escutar, chegaram a uma compreensão mais profunda, tornando-se mais consonantes e harmoniosos. [2]

A imagem usada por Tolkien para contar a criação é a música. Ilúvatar propõe um tema aos Ainur, chamando-os a subcriar, no sentido de participar da criação de Deus. Os Ainur, então, criam uma melodia belíssima e alegram o coração de Ilúvatar. Mas, de repente, aquela melodia começa a desafinar pela ação do mais poderoso dos Ainur:

Enquanto o tema se desenvolvia, no entanto, surgiu no coração de Melkor o impulso de entremear motivos da sua própria imaginação que não estavam em harmonia com o tema de Ilúvatar; com isso procurava aumentar a glória e o poder a ele designado. A Melkor, entre os Ainur, haviam sido concedidos os maiores dons de poder e conhecimento, e ele ainda tinha um quinhão de todos os dons de seus irmãos. [3]

Melkor desejou criar por si mesmo uma melodia, instaurando um caos na belíssima música que os Ainur cantavam para Ilúvatar. O seu gesto levou outros à desafinação, e, à medida que Ilúvatar mudava a direção da orquestra celeste, Melkor se empenhava ainda mais nas próprias ideias. Percebendo a malícia de Melkor, Ilúvatar deu um basta àquela canção e fez surgir outra mais triste. E Ilúvatar falou:

Poderosos são os Ainur, e o mais poderoso deles é Melkor; mas, para que ele saiba, e saibam todos os Ainur, que eu sou Ilúvatar, essas melodias que vocês entoaram, irei mostrá-las para que vejam o que fizeram. E tu, Melkor, verás que nenhum tema pode ser tocado sem ter em mim sua fonte mais remota, nem ninguém pode alterar a música sem a minha vontade. E aquele que tentar, provará não ser senão meu instrumento na invenção de coisas ainda mais fantásticas, que ele próprio nunca mais imaginou. [4]

Os descrentes podem não entender, mas essa narrativa é profundamente cristã. O cristianismo é a única religião que fala de um Deus amoroso e pessoal, que permite a liberdade de seus filhos ainda que estes o traiam, desejando outras coisas para além da sua vontade. Esse mesmo Deus não quer o nosso pecado, e, no entanto, sabe aproveitar-se do mal que fazemos para dele tirar um bem maior. As pessoas são apenas instrumentos da providência divina.

Tolkien explicou a presença do cristianismo em seus livros em uma conferência para a Universidade de Oxford, onde lecionou por muitos anos:

Eu me arriscaria a dizer que, abordando a História Cristã deste ponto de vista, por muito tempo tive a sensação (uma sensação alegre) de que Deus redimiu as corruptas criaturas-criadoras, os homens, de maneira adequada a esse aspecto da sua estranha natureza, e também a outros. Os Evangelhos contêm um conto de fadas, ou uma história de tipo maior que engloba toda a essência dos contos de fadas. Contêm muitas maravilhas — peculiarmente artísticas, belas e emocionantes, míticas no seu significado perfeito e encerrado em si mesmo; e entre as maravilhas está a maior e mais completa eucatástrofe possível. Mas essa história entrou para a História e o mundo primário; o desejo e a aspiração da subcriação foram elevados ao cumprimento da Criação. O nascimento de Cristo é a eucatástrofe da história do homem. [5]

No pensamento de Tolkien, os homens são como os Ainur, e Deus os convida a participar da criação, contando histórias belas e cheias de verdades. Essas histórias tornam-se História na encarnação de Cristo, e transmitem aos homens coisas que nenhum livro de teologia seria capaz de transmitir com tanta sensibilidade.

Os homens são também livres para criar o caos; eles podem distorcer a narrativa divina, introduzindo ideias paralelas e contrárias à vontade do Criador. Mas essas narrativas não podem ser contadas sem ter em Deus sua fonte mais remota, como diz Ilúvatar. O diabo tornou-se um instrumento “na invenção de coisas ainda mais fantásticas, que ele próprio nunca mais imaginou”, levando Cristo para a cruz. Daí que Tolkien considere o Evangelho como a eucatástrofe por excelência, ou seja, Deus venceu o mal quando o mal parecia ter chegado a uma situação irreversível.

Os contos de fadas são, portanto, histórias que transformam os ouvintes e os encaminham para verdades absolutas. Quem quer que leia O Senhor dos Anéis ou O Hobbit pode intuir essa pedagogia do autor, pelo que Tolkien afirmava ser “cristão (isso pode ser deduzido a partir de minhas histórias), e, de fato, católico romano” [6]. Embora não fosse sua intenção inicial, segundo Tolkien, “o Senhor dos Anéis obviamente é uma obra fundamentalmente religiosa e católica; inconscientemente no início, mas conscientemente na revisão” [7].

Afinal, nos livros de J. R. R. Tolkien, as sementes do Verbo estão espalhadas para ajudar o leitor a romper as cadeias do materialismo e encontrar, finalmente, o mito que se fez carne.

Referências

  1. J. R. R. Tolkien. O Silmarillion. (Trad. de Waldéa Barcellos). São Paulo: Martins Fontes, 2012, p. 10.
  2. Ibidem, p. 10.
  3. Ibidem, p. 11.
  4. Ibidem, p. 12.
  5. ______. Árvore e Folha. (Trad. de Ronald Eduard Kyrmse). São Paulo: Martins Fontes, 2013, pp. 58-59.
  6. Humphrey Carpenter. As cartas de J. R. R. Tolkien. (Trad. de Gabriel Oliveira Brum). Carta 213.
  7. Ibidem, Carta 142.

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