O sacerdote é, como já vimos noutro lugar, o homem do sacrifício. Em razão disso, o seu ministério está intimamente ligado ao sacramento da Eucaristia, que torna presente o mesmo e único sacrifício de Cristo na cruz. Aquele que recebe o sacramento da Ordem recebe, de fato, um verdadeiro poder para agir in persona Christi, razão por que ele é chamado a oferecer, juntamente com o Senhor, não apenas as oblatas durante a Liturgia, mas toda a sua vida, que deve tornar-se um holocausto de amor pela conversão dos pecadores. Essa é, em linhas gerais, a fé da Igreja Católica.
Nos dias de hoje, porém, essa doutrina não só é objeto de dúvida como chega até a ser negada. Sem exagero, muitíssimos teólogos modernos questionam o fundamento do sacerdócio católico e do sacrifício da Missa, assumindo uma posição originariamente protestante, que nega qualquer caráter sobrenatural aos sacramentos da Ordem e da Eucaristia.
Por volta de 1521, Lutero já praguejava impropérios contra a Missa e o sacerdócio, numa atitude que revela a natureza profundamente anticatólica do protestantismo. Para ele, a Missa e o sacerdócio seriam resquícios da Antiga Lei e obras contrárias ao dogma da sola fide, isto é, a ideia de que bastaria a fé em Jesus para alguém se salvar. Lutero afirmava coisas do tipo: “Se o sacerdócio e a lei não são nada, os sacrifícios e as obras que segundo a lei devem ser feitos pelos sacerdotes são muito menos”. A partir dessa premissa, ele tirava tais conclusões: i) as leis do Papa são invenções e mentiras; ii) o seu sacerdócio é um ídolo e uma mera aparência externa; e, finalmente, iii) as Missas, que os católicos chamam de sacrifício, são a suma idolatria e impiedade.
Segundo Lutero, o sacerdócio católico não tem base nas Sagradas Escrituras e, portanto, deve ser visto como demoníaco. Com menos virulência e mais astúcia, os teólogos modernos têm ecoado a mesma cantilena, de modo que, pouco a pouco, temos assistido a uma completa subversão do ministério ordenado, reduzido a um serviço comunitário e nada mais. E, de muitos lugares, já chegam pedidos para que líderes de comunidades tenham a liberdade de celebrar a ceia, porque, no fim das contas, tudo seria apenas um rito do povo.
Com o fito de responder a todas essas heresias e, ao mesmo tempo, provar que a teologia católica não é só história, mas uma Verdade que se encarnou e deu vida sobrenatural a tantos homens e mulheres, devemos olhar oportunamente para São Pio de Pietrelcina, cuja memória litúrgica comemoramos nestes dias. No sacerdócio desse homem pobre, encontramos uma verdadeira confirmação dos céus a tudo quanto proclamou o Concílio de Trento acerca do ministério sacerdotal e da Santa Missa.
Na Sessão XXII, o Concílio de Trento afirma o seguinte: “Se alguém disser que na Missa não se oferece a Deus verdadeiro e próprio sacrifício, ou que oferecer-se Cristo não é mais que dar-se-nos em alimento — seja excomungado” (DH 1751). Em seguida, o mesmo Concílio faz a seguinte proclamação:
Se alguém disser que Cristo não instituiu os Apóstolos sacerdotes com estas palavras: Fazei isto em memória de mim (Lc 22, 19; 1Cor 11, 24), ou que não ordenou que eles e os demais sacerdotes oferecessem o seu Corpo e Sangue — seja excomungado. (DH 1752).
Para Padre Pio, que não era bispo, não era monsenhor, nem chegou a ocupar qualquer cargo especial dentro da diocese, essas palavras do Concílio de Trento eram bem concretas, e o seu modo de viver o sacerdócio e a celebração da Missa tornou visível o único sacerdócio de Nosso Senhor Jesus Cristo. A começar pelo santo Sacrifício Eucarístico, ele não podia celebrá-lo em meia hora, como boa parte dos demais sacerdotes celebrava, mas o fazia como alguém que sabe oferecer um verdadeiro e singular sacrifício. E toda vez que Padre Pio subia ao altar para imolar o Cordeiro de Deus, numa celebração de duas horas, também ele era imolado, de modo que as suas chagas aumentavam.
A Confissão era, igualmente, outro lugar onde São Pio de Pietrelcina dava testemunho da veracidade do sacerdócio católico. Ele passava horas e horas ouvindo confissões, inclusive de pessoas notáveis dentro da sociedade, que vinham de outras cidades apenas para ouvir seus conselhos espirituais e ter os pecados perdoados.
Conta-se que, certa vez, um alemão metido com espiritismo decidiu confessar-se com o santo sacerdote, embora não cresse muito na fé católica. Para esse alemão, a confissão seria apenas um recurso pedagógico da Igreja para doutrinar as pessoas acerca do certo e do errado. Então Padre Pio foi taxativo: disse-lhe que as confissões sem verdadeiro arrependimento eram inválidas, e mandou-lhe fazer um exame de consciência para descobrir quando ele havia feito uma confissão verdadeira. Perturbado com as palavras de Padre Pio, esse alemão viu, pois, que precisaria fazer uma confissão geral, desde o tempo da sua lua de mel, quando havia se confessado validamente pela última vez.
São Pio de Pietrelcina não tinha medo de negar a absolvição a quem não demonstrasse verdadeiro propósito de emenda, porque, dizia ele, no sacramento da Confissão o padre administra o próprio sangue de Cristo, pelo qual somos libertos. E foi Jesus mesmo quem disse aos Apóstolos: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes serão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos” (Jo 20, 23).
É claro que a própria pessoa do Padre Pio não passou despercebida aos olhos dos invejosos, e ele acabou se tornando objeto de perseguições, calúnias, ameaças, troças e todo tipo de ofensa, simplesmente porque vivia como um sacerdote deve viver: como um verdadeiro Cristo. Por conta disso, Padre Pio acabou proibido de ouvir confissões durante algum tempo, mas tudo ofereceu por amor aos seus irmãos, pela conversão dos pecadores e a purificação da Igreja. Deixou-se crucificar como o seu Senhor.
Padre Pio foi simples, não era um grande pregador, nem um autor espiritual. Em seu ministério ele “apenas” celebrou Missas e ouviu confissões, fazendo tudo por amor a Jesus, segundo o poder do sacramento da Ordem. E assim ele se tornou um farol para todos nós, sacerdotes e leigos.
De modo especial, porém, os padres de nosso tempo precisam crer no próprio ministério ao qual se consagraram, no dia de suas ordenações; precisam aceitar que eles, e somente eles, receberam o poder para renovar o sacrifício de Cristo, conforme a escolha dos doze para a participação na Última Ceia. Por esse sacramento, todo sacerdote que sobe ao altar e celebra na intenção da Igreja, repetindo tal e qual as palavras de Cristo na consagração do pão e do vinho, está oferecendo incruentamente o mesmo sacrifício de Nosso Senhor. E ainda que algum sacerdote não sinta nem veja o sacrifício de amor que está por trás do crime da crucificação, pode, por outro lado, lembrar-se do que acontecia ao Padre Pio, e assim inspirar-se a celebrar com o mesmo fervor.
Nessa fé dos santos poderemos, enfim, vencer a crise atual da Igreja e fazer triunfar a verdade católica sobre os erros das falsas doutrinas.
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