Celebramos hoje a memória de Santa Maria Goretti, uma menina que, no início do século XX, para defender sua pureza e sua virgindade, morreu martirizada; ela preferiu a morte a perder a pureza e a virgindade.
Em 1950, quando o Papa Pio XII a canonizou, ele fez o povo recordar em sua homilia que o Reino dos Céus é dos violentos. Essa é uma frase de Jesus no Evangelho de São Mateus, capítulo 11, versículo 12: “O Reino dos Céus sofre violência, e são os violentos que o conquistam”. Parece uma frase estranha para se comemorar a morte de uma menina que foi violentada, mas o que acontece é isto: a fortaleza de Santa Maria Goretti em resistir, em preferir perder a vida a perder Cristo, foi o que lhe concedeu a palma do martírio. Essa foi a violência que ela fez.
Ela não foi somente vítima de violência; ela fez violência. E a violência que ela fez vinha do amor de quem prefere Cristo acima de todas as outras coisas: “Christo nihil praeponere”, “Nada colocar antes de Cristo”. Cristo em primeiro lugar. Essa é a violência que todos devemos fazer em nossas vidas.
O martírio de Santa Maria Goretti também nos recorda o quanto devemos cuidar da pureza e da inocência de nossos filhos, porque, se na época de Maria Goretti, quem queria tirar a inocência dela era um vizinho, hoje quem está querendo tirar a inocência dos nossos filhos são professores, psicólogos, “conselheiros”, “youtubers”. Em todo lugar há gente querendo tirar a inocência dos nossos filhos.
Ora, por que coisas tão malucas como as que se propõem hoje em dia têm feito tanto sucesso? Por exemplo, não é novidade nenhuma para vocês o fato de que nas escolas muitos professores ensinam aos nossos filhos a “ideologia de gênero”, ou seja, que se pode escolher o que se é dentre as siglas LGBTQ+. Pode-se escolher a que “gênero” se pertence. Mas, de novo, por que isso é tão atraente para os nossos filhos?
Pode parecer estranho, mas isso não tem nada a ver com sexo. Vejam este caso conhecido: numa família, o filho chegou e disse ao pai e à mãe que estava optando por tal “tendência” sexual. Só que acontece que para aquela criança, mal entrada na puberdade, o sexo não significava absolutamente nada; no caso específico, ele não conhecia pornografia, não conhecia masturbação, nunca tivera relações sexuais. Absolutamente nada.
Mas então por que é que, de repente, induzida por vídeos, professores ou colegas, essa criança optou por uma escolha de “identidade de gênero”? Por uma coisa muito simples: porque quando você faz isso, você se torna, dali em diante, incriticável. Você se senta no trono e critica papai e mamãe; mas você mesmo não é criticável. Se o seu pai ou sua mãe criticá-lo, você dá parte à polícia, vai à delegacia e registra um boletim de ocorrência; se o seu pai ou sua mãe quiser levá-lo a um psicólogo cristão para convencê-lo a não ser assim, você os denuncia.
Você agora é “incriticável”... Você se sentou no trono e, mesmo sendo criança, ainda na puberdade, ou um adolescente, agora critica o mundo, porque conseguiu uma couraça. Essa é a realidade por trás da ideologia, e é por isso que ela é tão atraente.
Independentemente da realidade sexual, que também está presente (é claro, é um fator que tem também a sua importância nisso tudo), o problema é o que isso implica sociologicamente dentro das famílias. O seu filho e a sua filha agora se sentem protegidos por aquilo que um professor ou um psicólogo de Youtube lhes disse.
Sentem-se protegidos como? Desta maneira: se você os critica, eles o consideram um opressor; eles podem criticar você, mas você não pode criticá-los, porque isso seria “preconceito”. Eles podem criticar os pais por serem um casal cristão, branco, heterossexual, julgando-os opressores, mas nenhuma crítica pode ser dirigida a eles, porque eles são “os oprimidos”.
Ora, assim se instaura na sociedade um desequilíbrio, de modo que não haja mais pais e mães que eduquem os filhos. Acaba a autoridade do pai e da mãe. Não existe mais autoridade de pai e de mãe para ensinar aos filhos valores cristãos como a inocência, a castidade, a pureza, a belíssima missão de ser mãe e de ser pai, de constituir uma família etc. Os pais já não têm esse poder sobre os filhos. Quem tem poder agora são os funcionários da ideologia, que irão pô-lo na cadeia, se você não os deixar fazer esse “bem” ao seu filho, ou seja, o de transformá-lo numa pessoa “para além do bem e do mal”.
Isso não vale só para a ideologia de gênero, mas também para o feminismo, para as “raças”, para tudo que se quiser. Em outras palavras, a ideia é tirar as pessoas da lei de Cristo para que elas pensem assim: “Eu agora sou a minha lei, eu mando em mim mesmo, eu critico a todos; mas não posso ser criticado. Eu posso julgar o mundo; mas não posso ser julgado, porque, se você me julgar, você será um preconceituoso, você terá alguma fobia. Você é um opressor, você é mau!”
Esse, porém, é o sonho de qualquer criança egoísta, marcada pelo pecado original. Ela não quer limites nem ser julgada por ninguém, embora queira julgar o universo. Vocês compreendem que isso é a instauração do caos social? É o que estamos criando na nossa sociedade. O que estamos preparando para o futuro? Que futuro tem um país em que o cidadão já não tem nenhuma lei interna, em que já não se pode criticá-lo?
Nesse contexto, ninguém pode criticar e dizer que fulano está roubando, porque ele é homossexual; ninguém pode criticar e dizer que sicrano está sendo corrupto, porque ele é negro; ninguém pode criticar e dizer que beltrano é um assassino, porque ele é mulher… Assim, vão-se criando pessoas para além do bem e do mal.
Neste dia de Santa Maria Goretti, por outro lado, temos o exemplo luminoso de uma adolescente que conheceu o amor de Cristo e quis, sim, colocar-se sob a crítica de Nosso Senhor, debaixo do seu olhar bondoso, que nos mostra o bem e o mal. Jesus nos ama tanto, que Ele nos educa e nos mostra: “Isso aqui é veneno, não coma; isso aqui é bom e nutritivo, vá em frente”. Ele nos mostra o bem e o mal.
É a serpente quem quer que nós sejamos “donos” da árvore do bem e do mal. É a serpente quem diz: “O quê? Deus criticou você, Eva? Você não pode mais? Mas você é livre! Deus é frutofóbico! Por isso Ele está impedindo você de comer o fruto da árvore, o fruto ‘proibido’. Deus é frutofóbico”. Assim, as pessoas se sentam no trono de Deus, criticam-no e fogem de qualquer crítica.
Enfim, vocês compreendem que isso não tem nada a ver com o sexo? Isso tem a ver com a rebeldia da humanidade, que não quer se colocar sob o jugo, doce e suave, do Santíssimo Coração do nosso Redentor.
Que Santa Maria Goretti, virgem e mártir, que derramou seu sangue para estar sob a lei do amor de Cristo, possa ensinar os nossos jovens a fazer violência pelo Céu. Você que é pai, você que é mãe, você que é família, saiba também: o Reino dos Céus sofre violência, e são os violentos que o conquistam. Às vezes, a violência que se tem de fazer não é a de morrer a facadas, como Santa Maria Goretti; às vezes, é simplesmente a de sair de um emprego para dar mais tempo aos filhos, para os educar antes que venha a serpente para os deseducar. Coragem, Ele venceu o mundo.
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