Por que motivos, afinal de contas, a Igreja Católica faz questão de ser contrária ao uso de anticoncepcionais? Esta postura antiquada, expressão de um rigorismo moral tacanho e hipócrita, não está na contramão dos tempos atuais e dos assim chamados "direitos reprodutivos"? Quem quer que ouse dizer-se católico por certo já ouviu uma ou outra vez perguntas deste teor — feitas quase sempre com aquela paciente delicadeza de quem só deseja "debater ideias". A posição da Igreja a respeito de temas tais, no entanto, já está mais do que bem explicada e resumida numa multidão de documentos, à disposição fácil do grande público. O que as pessoas muitas vezes se esquecem de fazer é, deixando de lado o que diz essa ou aquela instituição, perguntar com sinceridade a si mesmas: — Mas por que eu, afinal de contas, sou favorável aos anticoncepcionais?
Se olharmos pois para as razões por que tanta gente se deixa seduzir pelos métodos contraceptivos, veremos que o problema de fundo não é outro senão uma visão estreita e materialista da vida. De fato, se o que importa é este mundo e, portanto, a felicidade que é possível gozar aqui, então por que ter muitos filhos e apertar, assim, o orçamento de casa? Não seria melhor comprar um cachorro, mais barato e, às vezes, até mais carinhoso do que as crianças? Se só há esta vida, em que se colhem consolações passageiras à custa de um sem número de amarguras duradouras, então por que dar a um pequenino a "desgraça" de sofrer, mesmo que seja um pouco? Seria uma insensatez, pensam alguns, e até falta de compaixão, acrescentam os mais caridosos, submeter novas vidas ao perigo de um dia — fechem-se os ouvidos! — terem de morrer.
Mas se cremos, como diz o Apóstolo Paulo, que os "sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada" (Rm 8, 18), então o que nós, ditos cristãos, julgaremos melhor: vir à luz, passar por essa vida carregando, sim, algumas dificuldades — pouco luxo, férias modestas, colégios públicos, casa agitada e sem sossego, longas filas do SUS etc. — e ir, enfim, ser feliz para sempre com Deus na glória do Céu, ou nunca ter existido? Não é preciso ser lá muito esperto nem saber grande coisa de teologia para adivinhar a resposta de quem se quer verdadeiramente discípulo de Cristo.
Sim. A Igreja têm muitas e bem fundamentadas razões para se opôr fortemente aos anticoncepcionais e a toda mentalidade antinatalista. Mas e nós: que razões vamos dar ao Senhor e à nossa consciência para justificar a mesquinhez de não queremos trazer ao mundo novos adoradores do Deus único e verdadeiro, destinados a participar na alegria do Céu de uma felicidade sem fim, que nem a traça corrói nem o ladrão fura (cf. Mt 6, 19)?
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