Para receber validamente o sacramento da Penitência, é necessário, como um dos atos do penitente, o propósito de não tornar a pecar. Trata-se de um elemento essencial à Confissão, o qual está implícito, como se viu no episódio passado, no arrependimento sincero dos pecados.
Com efeito, ninguém pode estar sinceramente arrependido sem a vontade de converter-se a Deus, o que exclui justamente o que afasta de Deus: o pecado mortal. Além disso, se a contrição, para ser eficaz, há de ser universal, estendendo-se ao menos virtualmente a todos os pecados, é evidente que nela se inclui a intenção de não cometer mais nenhum pecado grave, quer por medo do inferno, quer pela dor de ter ofendido a Deus, como também foi visto anteriormente.
Daí dizer o Concílio de Trento que mesmo a atrição (ou contrição imperfeita), desde que exclua a vontade de pecar, com a esperança do perdão, dispõe o pecador para receber a justificação no sacramento da Penitência [1]. O mínimo que se requer, por conseguinte, é a vontade de não pecar, o que só é possível se o homem estiver arrependido por um motivo universal, como os já mencionados.
Nesse sentido, pode-se definir o propósito necessário à Confissão como um movimento ou ato deliberado da vontade pelo qual o homem se dispõe, de agora em diante, a evitar o pecado. Daqui se depreendem as três características que todo propósito verdadeiro deve possuir:
- Ele precisa ser firme, de maneira que o penitente tenha aqui e agora, no momento de receber o sacramento, a resolução de não reincidir [2].
- Ele precisa, por isso mesmo, ser eficaz, de modo que o penitente esteja seriamente decidido a fazer o que se propôs, servindo-se dos meios, sobretudo da fuga das ocasiões próximas [3], para evitar o pecado.
- Por último, vale lembrar, ele precisa ser universal, estendendo-se não apenas aos pecados de que se tem consciência, mas a todo e qualquer pecado grave [4].
Daí se vê que não é suficiente o propósito de “esforçar-se para ser bom”. Afinal, se o propósito provém, como nele incluído, do arrependimento pelo pecado, ele deve, naturalmente, referir-se ao pecado como mal a ser evitado: de fato, é o pecado que ofende a Deus e nos torna réus da pena eterna. O propósito de “ser bom”, além de vago, não expressa uma disposição da vontade a “arrancar” pela raiz o que concretamente desvia o homem de Deus, seu fim último — o pecado [5].
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