Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 12, 35-38)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que estão esperando seu senhor voltar de uma festa de casamento, para lhe abrirem, imediatamente, a porta, logo que ele chegar e bater. Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar. Em verdade, eu vos digo: Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá. E caso ele chegue à meia-noite ou às três da madrugada, felizes serão, se assim os encontrar!”
Hoje, 19 de outubro, é dia de São Pedro de Alcântara, Padroeiro do Brasil. Nós, que amamos o nosso país e apreciamos nossa história, devemos recordar que, durante todo o tempo do Império, São Pedro de Alcântara foi o padroeiro principal da nossa nação. Que ele interceda, pois, pelo nosso país. No evangelho de hoje, Jesus conta a história do servo que está em prontidão, em casa, esperando o seu senhor voltar de uma festa de casamento. Ele está pronto para a vinda do seu senhor a qualquer hora, seja meia-noite, seja às três da madrugada... E o desfecho dessa pequena parábola de Jesus é maravilhoso, porque surpreendente: quando o senhor voltar da festa de casamento, ele mesmo vai cingir-se, fazer o servo se sentar à mesa e, passando, o servirá. Ou seja, Cristo está nos ensinando que, após um longo tempo de serviço neste mundo, teremos a alegria de ser servidos por Ele próprio.
Para aplicar tudo isso à nossa vida, olhemos alguns detalhes do evangelho de hoje. Jesus começa com a seguinte frase: “Que os vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas”. O que isso quer dizer? Para entender, precisamos observar um pouco o contexto cultural da época. No tempo de Jesus, as pessoas não usavam calça comprida, mas uma longa túnica, que muitas vezes arrastava no chão. Então, para as pessoas poderem trabalhar e caminhar com mais agilidade, cingiam os rins, ou seja, colocavam um cordão ao redor da cintura, na altura dos rins, e puxavam a túnica para cima, de modo que as pernas ficavam livres. Isso tinha uma função muito prática: primeiro, puxar a túnica para cima liberando as pernas e os pés para caminhar; mas também para que os rins ficassem firmes e, assim, não causassem dor, como era possível ocorrer numa longa caminhada. Vemos, portanto, que a motivação era bem prática e, digamos assim, bem anatômica, fisiológica. Além disso, esses servos que estão com os rins cingidos estão dizendo, de certa forma: “Eu não vou dormir”. Isso porque, ao terminar o serviço do dia e ir dormir, eles simplesmente tiravam o cinto e deixavam livre a túnica, que caía até o chão; com isso, ficavam prontos para deitar e descansar.
Jesus ensina a termos essa vigilância, justamente para percebermos que este mundo não é uma colônia de férias. Temos de estar prontos. Aqui há uma figura claríssima da devoção, que consiste na prontidão para servir. “Rins cingidos” é um sinal de devoção. Também as “lâmpadas acesas” significam isso, pois, naquela época, apagar as lâmpadas da casa não era tão simples quanto hoje, quando só se precisa apertar um interruptor. No tempo de Jesus, eles usavam fogo para acender as lâmpadas, que permaneciam acesas durante todo o tempo em que as pessoas estivessem acordadas. Na hora de dormir, as lâmpadas eram apagadas; mas, para acender outra vez, era bastante trabalhoso, porque era preciso ir à cozinha e fazer fogo novamente. Com esses elementos próprios da cultura da época, Jesus está nos alertando para não ficarmos à vontade; é preciso ficar em prontidão para servir a Deus.
Agora vejamos isso de forma um pouco mais concreta em nossa vida. O que quer dizer “rins cingidos” e “lâmpadas acesas”, mística e espiritualmente falando? Os antigos consideravam que os rins eram o lugar da sexualidade. Hoje, quando o padre celebra a Missa, ele coloca o cíngulo (aquele cordão ao redor da cintura), que simboliza a castidade; ou seja, o padre precisa estar puro para celebrar a Missa. Isso vem da cultura antiga, em que cingir os rins significava ter um controle sobre as próprias paixões, um controle sobre a vida emocional, para poder amar e servir a Deus. Se você não tiver esse controle, não cingir os rins e não manter acesa a lâmpada da sua fé, terá dificuldade de enxergar as coisas de Deus.
Isso é perceptível na vida cotidiana: quando as pessoas se entregam às paixões mais ou menos desordenadas, a primeira coisa mais evidente é que elas passam a ter dificuldade de rezar. Não há nada que dificulte mais a vida de oração, a vida do exercício da fé, do que as paixões agitadas. Não é possível uma pessoa sair da agitação da internet — depois de ter passado o dia alterando seu cérebro, à procura de produtos que comprar, notícias que ler ou até, miseravelmente, conteúdo sensual e erótico que consumir — e imediatamente se recolher, rezando frutuosamente.
Muitos têm dificuldade na vida de oração, mas não entendem que precisam pagar o preço de se desconectar um pouco da internet e dessa agitação. É necessário cingir os rins, amarrar as paixões, acalmar um pouco tudo isso, senão a sua fé não vai iluminar a sua vida e você não vai conseguir rezar. É preciso um mínimo de investimento para ter o seu tempo de intimidade com Deus.
O evangelho de hoje fala claramente: “Você será recompensado, se cingir os seus rins”, ou seja, se colocar um freio nas suas paixões, exercitar a sua fé, deixar a lâmpada acesa e tiver vida de oração. Desse modo, o próprio Deus virá para servir e alimentar você espiritualmente. É isso que acontece quando rezamos direito: Deus nos alimenta, Deus mesmo vem nos servir, e não somente no Céu, mas também nesta vida, se tivermos uma boa vida de oração. Isto não é possível, porém, a quem não renuncia de alguma forma à exposição excessiva às coisas deste mundo. Por isso, os grandes diretores espirituais aconselham as pessoas a rezar na parte da manhã, antes que as paixões acordem, antes da agitação do dia, aproveitando um momento propício para o recolhimento.
Só assim, com essa lâmpada iluminando a sua vida e Deus alimentando a sua alma, você terá cada vez mais devoção e prontidão para amá-lo e servi-lo.
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