Neste dia 5 de outubro, celebramos a memória de Santa Faustina Kowalska. Ela nasceu com o nome de Helena no início do século XX, num vilarejo “perdido” da Polônia; foi a terceira filha de uma família de dez irmãos, sentindo-se chamada desde cedo para a vida religiosa. Quanto à sua vocação, sofreu uma forte oposição de seus pais. Todavia, Jesus apareceu pessoalmente a ela e a interpelou: “Até quando me farás esperar?” Obediente a Nosso Senhor e praticamente fugindo de casa, ela então pegou o trem para Varsóvia, ainda sem saber em qual congregação seria religiosa. Finalmente, encontrou as Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia e lá ingressou.
O fato mais conhecido da vida de Santa Faustina foi quando Nosso Senhor em pessoa lhe pediu que pintasse um quadro representando seu amor misericordioso, com raios de cor branca e vermelha e a frase: “Jesus, eu confio em vós”. Jesus também pediu que se instituísse a festa da Divina Misericórdia, a ser celebrada no segundo domingo depois da Páscoa, com uma novena preparatória que começaria na Sexta-Feira Santa. Esta parte é bastante familiar a todos nós, e fazemos muito bem em nos dedicar a essa devoção.
No entanto, nesta pregação o nosso foco está em outro aspecto da biografia de Santa Faustina. Ainda durante o seu período de formação, ela teve uma visão do Purgatório, quando passou a se dedicar com especial fervor à oração pelas almas. E ao fim de sua curta vida — somente 33 anos —, e já bastante doente, moribunda, ela também terá uma visão do Céu. Um pouco antes, porém, aconteceu a visão que mais nos interessa hoje: a do Inferno.
Devemos nos atentar ao fato de que toda a devoção à Divina Misericórdia, propagada por Santa Faustina, não faz o mínimo sentido se não cremos na existência do Inferno. Afinal, Misericórdia para quê? Ora, pedimos a misericórdia de Deus para que Ele nos livre do Inferno.
Vendo o Inferno, Santa Faustina diz: “Percebi, no entanto, uma coisa: o maior número das almas que lá estão é justamente o daqueles que não acreditavam que o Inferno existisse”. Infeliz e desgraçadamente, espalhou-se na contemporaneidade entre os católicos a miserável heresia da descrença no Inferno, contrariando os dois mil anos de ensinamento da Igreja.
É triste que existam pessoas que, estando fora da Igreja, não acreditem na existência do Inferno. Mas o problema mais grave é ter se espalhado dentro da Igreja essa heresia que diz que, uma vez que Deus é amor e é misericordioso, então Ele não poderia condenar ninguém ao Inferno. Ora, exatamente porque Deus é amor misericordioso é que Ele veio ao mundo para nos salvar; e, no seu costado transpassado na Cruz, brotou o rio de água e de sangue de sua infinita misericórdia — justamente para nos livrar do Inferno. Eis o sentido da misericórdia!
Precisamos, portanto, lembrar-nos de coisas básicas: existem mais de sete bilhões de seres humanos no planeta neste momento. Destes, a esmagadora maioria jamais ouviu falar que Jesus é a porta do Céu, o único que nos levará para a vida de bem-aventurança eterna. Há pelo menos seis bilhões de pessoas que nunca ouviram falar de Jesus no sentido estrito da palavra. Isso quer dizer que o que sabem sobre Jesus não vai muito além, por exemplo, do que a maioria de nós já ouviu sobre Confúcio ou Buda. Ou seja, quase nada.
Não estamos condenando ninguém ao Inferno, mas a questão mais óbvia que prevalece diante desses dados é: não sabemos como se salvarão esses bilhões de pessoas, uma vez que nos foi revelado pelo próprio Jesus que quem crer e for batizado será salvo, e quem não crer será condenado.
Podemos restringir então a nossa análise àquele um bilhão de homens e mulheres que, teoricamente, são católicos e batizados. Ora, infelizmente a maioria dos católicos não crê nem pratica com convicção a sua fé. Podemos analisar isso, estatisticamente, em nossa realidade: considerando a população, e dividindo-a entre as paróquias, podemos supor que a Paróquia Cristo Rei atende a um território composto por 47 mil pessoas. Ora, é evidente que, se 47 mil pessoas viessem à Missa, nós não teríamos condições de abrigar a todas. Portanto, podemos dizer que não sabemos como essas pessoas serão salvas.
Nesse sentido, considerando que um pequeno percentual dessas 47 mil pessoas vêm à Missa nos domingos, já temos um grupo reduzido para em torno de três mil pessoas — sendo otimistas e considerando que um pouco mais de 5% frequentam a nossa Paróquia. Desses três mil paroquianos, quantos se confessam e estão em estado de graça? Ora, quando nós, padres, nos sentamos no confessionário e atendemos a 30 pessoas, logo dizemos entre nós: “Veja só, muita gente veio se confessar hoje!” Mas o que são 30 pessoas diante de três mil? Apenas um por cento!
Devemos então meditar no seguinte: por tudo aquilo que nós sabemos e nos foi revelado, há uma multidão incontável de pessoas na “rampa” do Inferno. Na visão de Santa Faustina Kowalska, a maioria esmagadora. Basta conversarmos com pessoas da nossa família que não vêm à Igreja: quantas acreditam que existe Inferno? E quantas, mesmo dizendo que acreditam, pensam que é preciso fazer “algo muito grave” (de acordo com seus próprios critérios) para irem para lá? Ora, sabemos que, na verdade, se precisamos fazer alguma coisa, é para irmos para o Céu! O Inferno é o lugar para onde vai a humanidade se ela não fizer alguma coisa a respeito.
Eis a missão do apostolado de Santa Faustina como apóstola da Divina Misericórdia: lutar para que mais e mais almas não terminem no Inferno, confiando na Divina Misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo que morreu na Cruz por nossos pecados. Todavia, para que isso aconteça é necessário exatamente que se creia no amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que haja arrependimento dos pecados, confissão e confiança na Misericórdia de Deus. Esta confiança se manifesta através de uma realidade muito concreta na vida do fiel: ele se arrepende profundamente de seus pecados e procura a Confissão.
Portanto, precisamos reavivar em nosso coração a necessidade de intercedermos pela salvação das almas. Um dia, Santa Faustina viu um anjo que iria punir uma cidade; e então foi revelado a ela a devoção do terço da Divina Misericórdia: a única oração que funcionou para que o anjo fosse aos poucos se retirando e não punisse aquela cidade com a ira divina.
Um ano após a morte de Santa Faustina, em 1938, a necessidade dessa devoção mostrou-se algo bastante real e concreto. Em 1939, veio a Segunda Guerra Mundial, quando a Polônia foi invadida pelos nazistas e, em seguida, pelos comunistas. É interessante notar que, durante esse período, as cidades que tinham mais devoção à Divina Misericórdia e rezavam esse terço foram poupadas durante a Guerra e sequer foram bombardeadas. Há o relato de que, em uma das cidades onde a devoção ainda não estava tão difundida, diante do alerta de um bombardeio iminente, a população começou rapidamente a evacuar as casas; e durante esta ocasião, alguém estava caridosamente distribuindo santinhos com a imagem da Divina Misericórdia. Uma devota senhora, que havia pegado uma dessas imagens enquanto fugia para algum abrigo, resolveu voltar para sua casa e pregar aquele santinho em sua porta. Após o bombardeio, ao voltar para sua casa viu, para seu espanto, que esta tinha sido a única edificação poupada do bombardeio.
A devoção à Divina Misericórdia não surgiu para nos poupar de bombardeios bélicos — é que esses prodígios e milagres são uma forma de Deus nos dizer que o nosso lar, paróquia e diocese podem ser poupados de um castigo muito pior do que a destruição material. Afinal, se uma bomba atômica caísse em Cuiabá, a destruição material que ela faria seria uma “trivialidade” em comparação ao verdadeiro drama que é o fato de que nunca veremos o rosto de Deus no Céu se não estivermos em estado de graça — na Divina Misericórdia — na iminência desse tipo de tragédia. Então, o que estamos esperando? Existem milhares de almas, não somente longe, nos países em guerra, mas aqui em nosso território e em nossa paróquia; almas que estão se perdendo. Precisamos rezar por elas!
A piedosa devoção de pararmos às três da tarde para rezarmos o terço da Divina Misericórdia é uma forma de clamarmos a ajuda dos céus para a nossa arquidiocese nestes tempos difíceis que estamos vivendo. Também é uma forma de entendermos o que estamos fazendo, de meditarmos como estamos nos comportando diante dos nossos pecados: será que estamos atraindo a Divina Misericórdia ou a ira e os castigos divinos?
A mensagem de Nossa Senhora em Fátima é totalmente compatível com a mensagem de Santa Faustina: rezar e rezar; rezar e oferecer sacrifícios e penitências, porque senão virá o castigo. Milhões de almas estão se precipitando no Inferno, por isso devemos ser firmes intercessores, confiando na bondade divina. E assim como na visão de Santa Faustina, à medida que ela rezava, um anjo que puniria a cidade ia se afastando, na visão de Fátima, o anjo bradava “Penitência, penitência, penitência!”, com raios da ira divina que se dirigiam à terra, mas que eram amparados por Nossa Senhora. A mensagem, portanto, é a mesma: nós estamos vivendo o tempo da misericórdia, no qual precisamos nos dedicar à oração, em especial a récita do Santo Terço (e podemos e devemos viver essas duas devoções: o Santo Terço Mariano e o Terço da Misericórdia). Rezemos com fervor, implorando a Deus Nosso Senhor que tenha compaixão de nós, para que vivamos em contínua conversão; e pedindo também pela alma dos pobres pecadores.
Meus queridos, o Inferno existe! E se você é uma daquelas pessoas que pensa que Deus jamais condenaria alguém ao Inferno, ouça o que Santa Faustina diz: “Você é um sério candidato a descobrir, por experiência própria, que o Inferno existe!”; porque é para lá que vão aqueles que desconsideraram a amorosa pregação de Jesus — o Amor Encarnado, a Divina Misericórdia —, aquele que nos alertou sobre a condenação eterna.
Busquemos estar sempre em estado de graça, recorrendo com frequência à Confissão. É preciso parar de “brincar” com o pecado mortal. O confessionário deveria servir para nos livrarmos dos pecados veniais e nos fortalecermos contra essas nossas imperfeições, recebendo as graças de Deus para o nosso crescimento espiritual. O pecado mortal deveria ser uma coisa raríssima em toda a sociedade; mas, infelizmente, tornou-se coisa do nosso dia a dia, algo tratado como banalidade. As pessoas se esqueceram de que o pecado mortal é o sinônimo de morte eterna; é o que nos leva para o Inferno.
Nosso Senhor bondosamente nos adverte, e os santos nos fazem inúmeras exortações; mas as pessoas continuam no pecado mortal: faltam à Missa no domingo como se isso não significasse nada, como se não houvesse consequências espirituais, como se dissessem: “Precisei ir ali e perdi o horário; mas tudo bem, eu me confesso depois”. Ora, e se você morrer nesta noite? O que será de você? As pessoas caem olhando gratuitamente de forma luxuriosa para mulheres e homens. Caem continuamente nos pecados da masturbação, da pornografia, do adultério, das drogas etc. — e estamos falando apenas daqueles pecados mais grosseiros. Precisamos nos dar conta de que essas coisas estão nos levando para o Inferno! Uma pessoa que “dá de ombros” e simplesmente diz que “se confessa depois”, ainda está cometendo um pecado de presunção, ao mesmo tempo em que vai minando, aos poucos, a sua própria fé na existência do Inferno.
Santa Faustina nos diz: “A maior parte das pessoas que terminaram lá, nem sequer acreditavam que o Inferno existia”. A falta de convicção nesse importante dogma de que as almas podem se perder eternamente no Inferno é exatamente a maior armadilha de Satanás, e a fonte da perdição de milhões e milhões de almas. Vamos rezar por essas almas e por nós mesmos, invocando a Divina e Santa Misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo.
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