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Por que a Igreja batiza crianças pequenas sem catequese, mas exige, a partir dos sete anos, alguma instrução catequética para poder batizá-las? 

Antes de tudo, é importante saber quais são os efeitos do Batismo. O Batismo, em primeiro lugar, incorpora o fiel a Cristo, cujo Corpo místico é a Igreja. Somos por natureza seres humanos, mas o Batismo opera em nós uma modificação que nos insere numa ordem sobrenatural, na qual nos unimos a Cristo em Deus.

O batizado, portanto, torna-se membro do Corpo místico do Filho encarnado, sendo elevado a uma condição superior à da natureza humana. Pelo Batismo, já não somos meros filhos de homem, somos filhos no Filho de Deus.

Para isso, não é necessário catequese. Qualquer recém-nascido pode ser batizado e introduzido no mundo da graça.

No entanto, a partir dos sete anos, acontece não só o fenômeno da luz da razão, pelo qual a criança começa a enxergar as coisas como elas são, mas também passa a existir a possibilidade de pecar. E se a criança pecar, terá de se arrepender para ser perdoada. Eis por que se exige alguma catequese para batizar crianças maiores, ou mesmo adultos; afinal, outro dos efeitos do Batismo é o perdão de todos os pecados: “o pecado original e todos os pecados pessoais, bem como todas as penas devidas ao pecado” [1].

Vejamos de mais perto. Em primeiro lugar, nunca percamos de vista que os sete anos são uma idade aproximada para o exercício da razão. Pode acontecer antes ou depois em cada pessoa. De qualquer forma, alcançado o uso da razão, a criança torna-se consciente, com clareza suficiente, de que as coisas são o que são, independentemente do que dizem os sentimentos. Antes disso, as duas coisas tendem a se confundir. As crianças pequenas acham que tudo o que sentem é verdade. Não distinguem entre sentimento e realidade. Se sentem que uma coisa é ruim, acham que é ruim de fato; e se sentem que é boa, acham que é boa de fato. Quando fazem pela primeira vez a experiência de que a realidade nem sempre corresponde à sensação, de que aquilo que sentem como bom não o é realmente, e vice-versa, são introduzidas no mundo da moralidade, o mundo do “conhecimento do bem e do mal”, no dizer da Escritura.

A distinção entre o bem do mal, abre para a criança as portas da virtude. Somente a partir daí que ela pode amar de verdade, no sentido de pagar o preço do amor, de sofrer por aquilo que ama. Por outro lado, também é a partir daí que ela peca em sentido próprio, ou seja, é capaz de ofender a Deus e prejudicar-se moralmente. Isso ocorre quando ela sabe que algo é mau, e mesmo assim o pratica. 

Antes disso, a criança cometia atos desordenados (por exemplo, um menino de quatro anos que joga no chão os brinquedos, pisa-os, faz birra, bate nos irmãos, desobedece etc.). Tudo isso é desordem, mas não é pecado propriamente dito. Para tal, cumpre saber distinguir o que há de objetivamente mau na ação. A essa capacidade chamamos uso da razão, e é com ela, alcançada por volta dos sete anos de idade, que tem início a vida moral. 

Ora, assim como não é possível pecar inconscientemente, sem distinguir o bem e o mal, tampouco é possível livrar-se do pecado inconscientemente. É necessário arrepender-se dele, detestá-lo e fazer o propósito de nunca mais pecar. Se somente o uso da razão torna possível pecar, também somente ele possibilita atos de verdadeira virtude, como o arrependimento e o propósito de emenda. Nesse sentido, para o Batismo perdoar os pecados pessoais já cometidos, é necessária a cooperação livre e consciente do catecúmeno. 

O que faz o Batismo num recém-nascido? Apaga a mancha do pecado original, mas não perdoa pecados pessoais, neste caso inexistentes. O que permanece no bebê são desordens. A partir dos sete anos, a criança já devidamente catequizada, consciente do que é o pecado e arrependida, pode ir à fonte batismal, ser purificada da mancha original e, ao mesmo tempo, ter perdoados todos os seus pecados, sem precisar se confessar. 

É assim, aliás, que deveria ser. Todos deveríamos ter os nossos pecados perdoados no Batismo e, dali em diante, ter uma vida irrepreensível. Infelizmente, caímos em pecado muitas vezes, por isso necessitamos de outro sacramento, o da Reconciliação, Penitência ou Confissão, chamado antigamente de “segunda penitência”. A “primeira” era o Batismo, forma ordinária de perdoar os pecados; mas a Igreja, de forma “extraordinária”, oferece também o sacramento da Confissão, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo: “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20, 23).

Durante os primeiros séculos, o sacramento da Confissão não era tão frequente como hoje. Hoje se faz fila diante de confessionário, e muitos se confessam por devoção, sem ter pecado grave algum.

No início, porém, a Igreja administrava o sacramento da Penitência uma única vez na vida, para os pecados graves cometidos depois do Batismo. Era a única chance que se tinha de redimir os pecados mortais cometidos depois do Batismo e de reconciliar-se com Deus. Daí se vê que o Batismo, em princípio, deveria ser forma ordinária de ter os pecados perdoados. 

Na época de Santo Agostinho, por exemplo, havia o mau hábito — seguido até mesmo por santos como Santa Mônica — de esperar a fase adulta para batizar os filhos ou pedir o Batismo. O próprio Agostinho lamenta ter-se batizado tão tarde, aos trinta e dois anos. Era o costume da época, em que se via o Batismo como o sacramento por antonomásia para o perdão dos pecados.

Para nós, que graças a Deus vivemos numa sociedade com um bom número de católicos, o normal é batizar as crianças ainda pequenas, antes mesmo de saberem falar; mas se a pessoa, seja criança ou adulto, já houver pecado, deverá ser catequizada e instruída sobre a lei moral, para então poder se arrepender como convém à remissão sacramental dos pecados.

Notas

1. João Paulo II, Catecismo da Igreja Católica (1997), n. 1263.

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