Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 11, 11-15)
Naquele tempo, Jesus disse: "Em verdade, eu vos digo, entre todos os nascidos de mulher não surgiu quem fosse maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele. A partir dos dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência [βιάζεται], e violentos [βιασταὶ] procuram arrebatá-lo. Pois até João foi o tempo das profecias — de todos os Profetas e da Lei. E, se quereis aceitar, ele é o Elias que há de vir. Quem tem ouvidos, ouça."
No Evangelho de hoje, em que Cristo fala a respeito de São João Batista, somos postos diante de uma passagem algo curiosa: "[...] o Reino dos Céus sofre violência, e são os violentos que o conquistam." A expressão "violência" pode causar-nos aqui alguma confusão e perplexidade, porque vai em sentido contrário à imagem pacifista que costumeiramente se faz quer da religião cristã, quer do próprio Cristo, a mansidão em pessoa. O texto grego, no entanto, se serve do verbo βιάζομαι, "fazer violência", que encerra a ideia de força vital, duma energia pronta para ser posta em ação. Fica claro, com efeito, que o Reino dos Céus é arrebatado e conquistado não pelos tíbios, pelos mornos, por quem é cristão só de nome; são, na verdade, os determinados, os impetuosos que, tomando de assalto a vida espiritual, "fazem violência" ao Reino dos Céus, arrebatam-no, conquistam-no com as unhas da virtude e os dentes dum desejo esfomeado de Deus.
Esta pressa por chegar logo à presença do Pai é talvez a mais significativa característica da esperança cristã. Ordenando-se ao depois, que é a vida eterna, a esperança que anima os corações entregues a Cristo não é uma espera passiva e indolente, mas uma força que move a agir hoje, a amar hoje, a trabalhar pela santificação hoje, neste minuto mesmo. Expressão psicológica de uma alma enamorada de Deus e inquieta enquanto não o ver face a face, a esperança cristã, dom do Alto, nos dá a certeza firme de que, pelos merecimentos de Cristo, o Senhor nos dá — e dará sempre que lhas pedirmos com humildade — as graças necessárias para, amando-o verdadeiramente, conseguirmos a salvação eterna. Ele nos garante, pois, as forças necessárias e, por isso, nos convoca a sermos santos agora, a abandonarmos o pecado agora, a arrebatarmos agora, com a "violência" dos que amam, o Reino que está preparado aos que, por amor, tomam a peito a vocação à santidade e à filiação divina.
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