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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 17, 26-37)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Como aconteceu nos dias de Noé, assim também acontecerá nos dias do Filho do Homem. Eles comiam, bebiam, casavam-se e se davam em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. Então chegou o dilúvio e fez morrer todos eles. Acontecerá como nos dias de Ló: comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e construíam. Mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, Deus fez chover fogo e enxofre do céu e fez morrer todos. O mesmo acontecerá no dia em que o Filho do Homem for revelado. Nesse dia, quem estiver no terraço, não desça para apanhar os bens que estão em sua casa. E quem estiver nos campos não volte para trás. Lembrai-vos da mulher de Ló. Quem procura ganhar a sua vida vai perdê-la; e quem a perde vai conservá-la. Eu vos digo: nesta noite, dois estarão numa cama; um será tomado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo juntas; uma será tomada e a outra será deixada. Dois homens estarão no campo; um será levado e o outro será deixado”. Os discípulos perguntaram: “Senhor, onde acontecerá isso?” Jesus respondeu: “Onde estiver o cadáver, aí se reunirão os abutres”.

I. Reflexão

Celebramos hoje a memória de São Josafá, bispo e mártir, grande santo ucraniano, cabeça de uma das dioceses orientais que seguem o rito bizantino. Por isso, rezemos por nossos irmãos orientais em comunhão com a Sé Apostólica, para que Deus os conserve fiéis em todas as suas dificuldades e perseguições.

Hoje, lemos um trecho do evangelho de São Lucas, e é interessante observar que, conforme vai aproximando-se o final do ano litúrgico, a Igreja começa a ler evangelhos sobre a segunda vinda de Cristo. O de hoje, portanto, está dentro de um contexto escatológico.

Jesus quer nos explicar como será sua segunda vinda. Para isso, recorda dois episódios do Antigo Testamento: um de Noé e outro de Ló.Em ambos, Deu envia de repente um castigo do céu, surpreendendo a todos. Na época de Noé, o castigo foi pela água; no de Ló, pelo fogo.

A menção a esses castigos repentinos serve para mostrar que as pessoas, afundadas em seus pecados, vivem esquecidas de Deus, por isso Ele mandou um dilúvio na época de Noé e destruiu as cidades de Sodoma e Gomorra no tempo de Ló. Os castigos divinos, além de punitivos, servem também para que os homem acordem e se convertam. Assim também acontecerá no fim dos tempos. A segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo será precedida por uma grande tribulação, prevista não só nos evangelhos, mas em várias aparições de Nossa Senhora.

Nos últimos séculos, Maria tem aparecido com frequência e exortado seus filhos a fazer penitência, rezar o Terço e converter-se. No entanto, a humanidade, esquecida de Deus, continua impenitente, sempre a ofender Nosso Senhor.

Numa de suas aparições, a Virgem Maria disse: “Estou segurando a mão de meu Filho”. O que isso quer dizer?Jesus é Deus de bondade e não precisaria que Nossa Senhora lhe segure a mão. Ele mesmo é compassivo. Sucede que Jesus não quer nos amar sozinhos, mas que todos nós façamos parte de sua clemência e misericórdia, por isso nos dá tempo para a conversão. Mas, se não nos convertemos, Ele nos flagela com justos castigos, para que despertemos de uma vez para as consequência do pecado, a pior das quais é a ofensa e a aversão a Deus.

O que fazer, portanto? O que nossa Mãe santíssima pediu: penitência, conversão, oração pelos pecadores, suplicar a Deus clemência, assim como ele pede por nós e o próprio Cristo pediu na Cruz: “Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem”.

Além disso, para estar pronto para a segunda vinda de Cristo, é preciso entregar-se a Deus generosamente, desapegando-nos do mundo e lançando-se em direção àquele que tanto quer nossa conversão, como diz São Paulo aos filipenses: “Já que fomos alcançados por Cristo, agora temos que alcançar Cristo, deixando o que está para trás, eu me lanço para ver se alcanço o Cristo” (Fl 3, 13s). Esse deixar o que está para trás e lançar-se para alcançar o Cristo, atitude de desapego das ilusões mundanas e entrega a Jesus Cristo, se alcança por um remédio bem prático que Nosso Senhor ensina no Evangelho: “Lembrai-vos da mulher de Ló” (v. 32).

O que quer dizer isso? Nesse dia, quando vier o Filho de homem, “quem estiver no terraço, não desça para apanhar os bens que estão na sua casa, quem estiver nos campos, não volte para casa. Lembrai-vos da mulher de Ló”. Trata-se de desapego, desapego das coisas deste mundo — não olhar para trás nem procurar seguranças terrenas, mas lançar-se confiantemente nos braços dele. Eis uma segunda atitude muito importante. Precisamos, sim, fazer penitência e rezar pelos pecadores para estarmos prontos quando da sua vinda. Mas é preciso, além disso, desapegar-se de afetos mundanos, que podem ser um grande obstáculo à nossa perseverança quando vier a provação, prevista pela bondosa clemência de Deus para o fim dos tempos.

Que Deus nos ajude a viver esses dias de preparação para a Solenidade de Cristo Rei com o coração voltado para Deus, aquele em quem devemos nos lançar. Não nos apeguemos como a mulher de Ló, mas deixemos o que está para trás, lançando-nos na direção do Cristo que vem em cada Eucaristia, e que virá no fim dos tempos.

II. Comentário exegético

V. 26s. Não só não se sabe quando será a consumação do mundo, senão que ela tomará a muitos de surpresa, como atestam as Escrituras acerca do dilúvio universal. Com efeito, assim como os homens de então viviam ocupados em assuntos ordinários até o dia em que Noé entrou na arca, i.e. sem reconhecer o perigo iminente, e então chegou o dilúvio e fez morrer todos eles; assim também o advento do Filho de homem encontrará a todos despreparados.

V. 32s. Lembrai-vos da mulher de Ló, que pereceu porque olhou para trás, i.e. lembrai-vos deste caso, para que não vos aconteça o que aconteceu com ela, que, voltando o rosto para Sodoma em chamas, contra o que lhe tinha mandado o anjo, converteu-se em estátua de sal. Que vós, portanto, não contrarieis minha doutrina e estes meus preceitos, voltando aos costumes mundanos deste século, para que não pereçais junto com ele no dia da conflagração. — Agostinho: “Que significa a mulher de Ló? Os que, na tribulação, olham para trás e se afastam da esperança na promessa divina. Por isso tornou-se ela estátua de sal, como que advertindo os homens a não agirem igual e temperando-lhes coração para não serem insossos” (Quæst. Evang. 43).

V. 34s. Além disso, no tempo da parusia, não se há de separar aos eleitos dos réprobos senão no instante mesmo do juízo, nem estará na proximidade de lugar ou de tempo a igualdade de destinos, senão que, mesmo entre os mais próximos (dois no campo, na cama, a moer juntos [1]), será diversa a sorte de uns e de outros. É evidente que esta diversidade de fins deve-se à disposição interna de cada um.

NBNesta noite… Disto inferem alguns que o juízo universal terá lugar à noite, para maior terror dos homens. No entanto, o mesmo que o v. 31 chama dia é aqui chamado noite: 1) primeiro, porque o dia do juízo será para muitos, i.e. para todos os réprobos, fatal e calamitoso, e a noite e a escuridão são símbolos quase naturais de confusão, desconcerto etc.; 2) segundo, porque assim a noite dá fim ao dia e ao tempo de trabalho, assim também o último dia dará fim ao tempo de agir bem e merecer, segundo aquilo: Vem a noite, quando ninguém pode trabalhar (Jo 9,4). É adequado, portanto, chamar noite ao dia do juízo.

Referências

  1. Duas mulheres estarão moendo juntas. No Oriente, moinhos grandes eram pouco frequentes. O trabalho de moer grãos costumava confiar-se às mulheres, que os trituravam manualmente em moinhos compostos de duas pedras, uma plana e outra redonda.

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