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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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Depois do Concílio Vaticano II, a Igreja assistiu atônita a uma série de revoluções estudantis, que culminaram nos chamados movimentos de Woodstock e em toda a cultura hippie contra a guerra do Vietnã. Esses movimentos de orientação marxista, forjados na Escola de Frankfurt, pregavam uma nova moral, cuja síntese máxima se expressava pelo jargão “faça amor, não faça guerra”. Os jovens transformaram a sexualidade em uma ferramenta de revolução: eles mantinham relações para contestar a guerra, a sociedade burguesa, para libertar a mulher e a classe operária. Aos poucos, o sexo perdia as suas finalidades procriativa e unitiva para converter-se em um “parque de diversões”.

Quando, em 1968, o Papa Paulo VI publicou a corajosa encíclica Humanae Vitae, essa nova moral sexual já havia cerrado fileiras e dominado boa parte dos católicos, inclusive pastores. A reação ao novo documento papal foi inaudita. Nunca se havia visto uma revolta tão grande contra um ensinamento da Igreja como aquela. Teólogos, palestrantes, jornalistas, padres, freiras, bispos, conferências episcopais inteiras protestaram e, do púlpito das igrejas, incentivaram os fiéis à dissensão.

Mas o que explicaria tanta rebelião contra Paulo VI, o Papa que, há poucos anos, havia encerrado efusivamente o Concílio? O conteúdo da encíclica Humanae Vitae, em si, não dizia nada de espetacular, nenhum ensinamento que já não houvesse sido proclamado antes. Na encíclica Casti Connubii, por exemplo, Pio XI condena explicitamente os atos conjugais fechados à vida. Aliás, essa sempre fora a doutrina católica, sempre fora a mentalidade dos cristãos, que o Concílio Vaticano II queria proclamar novamente.

Portanto, não poderia haver qualquer expectativa diferente sobre o magistério de Paulo VI, que, ocupando a cátedra de São Pedro, tinha o dever de ensinar a mesma fé dos Apóstolos. O que Paulo VI escreveu na Humanae Vitae apenas confrontava os contraceptivos artificiais, que eram então uma novidade.

Para compreender a reação dos cristãos, é preciso conhecer um problema mais grave: a perda da fé. O que mudou, na verdade, foi a disposição dos cristãos para aceitarem os valores de Deus. Os cristãos haviam apostatado. Para eles, a existência já não servia ao conhecimento do amor e da bondade de Deus, ao seu encontro como preparação para a entrada no Céu, a verdadeira vida, mas para o acúmulo de riquezas temporais, para a satisfação da carne, satisfação dos desejos mais mundanos e corruptos. Os cristãos tinham passado a valorizar esta vida, a vida terrena, como o bem mais valioso de todos. E, para cristãos assim, a ideia de gastar a própria existência gerando outras vidas parecia totalmente absurda.

Essa mudança de valores ocorreu mais ou menos entre as décadas de 1940 e 1960, quando vários setores da Igreja resolveram aceitar a crítica marxista e, em vez de pregarem sobre o Céu, passaram a pregar sobre justiça social, direitos trabalhistas, luta de classes etc. Aos poucos, os fiéis esqueceram-se da missão mais importante, que é a conquista do Reino dos Céus, e começaram a procurar o Reino aqui neste mundo, nas assembleias sindicais, nos partidos políticos, nos paraísos fiscais, no progresso da técnica.

Ora, a Igreja existe para levar as almas para o Céu. Essa é a sua lei suprema, e enquanto os sacerdotes defenderam essa hierarquia de valores, dedicando-se à santificação dos fiéis, a Igreja prestou um serviço inestimável também no campo temporal: orfanatos, hospitais, abrigos, obras de caridade as mais incríveis e monumentais. De fato, os santos são os verdadeiros reformadores sociais, porque “não procuraram de maneira obstinada a própria felicidade, mas simplesmente quiseram doar-se, porque foram alcançados pela luz de Cristo” (Papa Bento XVI, Vigília de oração com os jovens na esplanada e Marienfeld, 20 de agosto de 2005). E, nessa entrega por amor a Deus, eles se opuseram às ideologias, “cujo programa comum era não aguardar mais a intervenção de Deus, mas assumir totalmente nas próprias mãos o destino do mundo” (Id.). Santos como Madre Teresa, Padre Pio e Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) mostraram que o “mundo melhor” só pode existir com a busca da santidade em primeiro lugar.

As obras de caridade da Igreja diminuíram vertiginosamente quando os sacerdotes, iludidos pela propaganda marxista, abandonaram o breviário para empunhar a espada da revolução. E agora “sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária”. Mas “um tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado” (Papa Bento XVI, Carta Apostólica Porta Fidei, n. 2).  

Nesse caso, a encíclica Humanae Vitae só pode ser aberta por um cristão que já abriu antes a porta da fé, por assim dizer, e acolheu os ensinamentos de dois mil anos de Igreja. Somente pessoas convictas de que esta vida serve apenas para preparar a nossa morada definitiva no Céu serão capazes de acolher o dom precioso da prole e da educação dos filhos. Os pais que assumirem essa vocação terão a graça de, um dia, no Céu, face a face com Deus, receberem o agradecimento de seus filhos pela vida e educação que receberam. Esses filhos estarão alegres porque contemplam o Sumo Bem, a fonte de toda alegria, na presença de seus pais amados.

Os portugueses, no passado, deixaram a segurança de suas nações para partirem em missão, sabendo que tinham grandes chances de morrer pelo caminho ou, ao menos, nunca mais voltarem para casa. Sabiam que as terras que procuravam eram inóspitas, cheias de perigos e estranhos. Mas, por amor a Cristo e ao Império, eles decidiram vencer o próprio egoísmo para trazer o Evangelho de Deus a estas terras que hoje habitamos. O que animava São José de Anchieta e tantos outros missionários era o desejo de levar as almas daquele povo recém conhecido para o Céu. Uma só alma já valeria a pena todo o sacrifício.

Hoje os casais não querem ter filhos, não têm coragem de viver o desconforto, uma vida sem iPhone e Smart TV e, em nome do bem-estar social, substituem os filhos por animais domésticos, consomem anticoncepcionais e aprovam o aborto para poderem viver longe dos problemas. E, quando têm filhos, abandonam-nos aos cuidados da babá, da escola, da gangue, do videogame, para poderem progredir profissionalmente e conquistar grandes fortunas. Afinal, pensam eles, o bem mais importante é a felicidade nesta vida mundana. Esses filhos, mais tarde, estarão nas universidades aprendendo ideologia de gênero, marxismo e fumando maconha enquanto uma professora acusa seus pais, que pagaram pelo curso, de serem opressores. Esse é o destino das famílias materialistas.

A sexualidade é um dom para a missão vocacional do homem e da mulher. Todos nós existimos hoje porque, de um modo ou de outro, nossos pais se abriram à vida. E preferimos a existência, por mais dura que seja, do que a tragédia do nada. Por que, então, os casais agora preferem manter seus filhos no nada em vez de trazê-los para participar da vida da graça em Deus? Essa mentalidade vitimista, egoísta, ressentida, que nega a vida aos próprios filhos terá como consequência uma única coisa: a tragédia do inferno, que já não está muito longe.

Temos de exorcizar a vasectomia e a laqueadura espirituais, que tornam os homens e as mulheres pessoas infecundas e egoístas. Essa mentalidade está forjando uma geração imatura, irresponsável, que considera os outros como objetos descartáveis. Com apenas 15 anos, Teresinha do Menino Jesus adotou um filho espiritual, um criminoso sentenciado à morte, e por ele rezou e ofereceu sacrifícios até conquistar a sua conversão. No dia da execução, esse criminoso obteve a graça da contrição perfeita e, antes de sofrer a pena capital, beijou o crucifixo do padre que o acompanhava na hora derradeira. Que exemplo luminoso de uma jovem que tão cedo se fez mãe! Que a sua maturidade e maternidade espiritual despertem os católicos do egoísmo e acendam, em seus corações, a luz divina da fé.

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