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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 10, 32-45)

Naquele tempo, 32os discípulos estavam a caminho, subindo para Jerusalém. Jesus ia na frente. Os discípulos estavam espantados, e aqueles que iam atrás estavam com. medo. Jesus chamou de novo os Doze à parte e começou a dizer-lhes o que estava para acontecer com ele: 33“Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos pagãos. Vão zombar dele, cuspir nele, vão torturá-lo e matá-lo. E depois de três dias ele ressuscitará”. Tiago e João, filhos de Zebedeu, foram a Jesus e lhe disseram: “Mestre. queremos que faças por nós o que vamos pedir”. Ele perguntou: “Que quereis que eu vos faça?” Eles responderam: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!” Jesus então lhes disse: ‘Vos não sabeis o que pedis. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados com o batismo com que vou ser batizado?” Eles responderam: “Podemos”. E ele lhes disse: “Vós bebereis o cálice que eu devo beber e sereis batizados com o batismo com que eu devo ser batizado. Mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. É para aqueles a quem foi reservado”. Quando os outros dez discípulos ouviram isso, indignaram-se com Tiago e João. Jesus os chamou e disse: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro seja o escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos.”

Com grande alegria celebramos hoje a memória de S. Filipe Néri, também chamado o apóstolo de Roma. Filipe Néri viveu no século XVI, dezesseis séculos depois de S. Pedro e S. Paulo terem derramado o sangue para consagrar a Cidade Eterna como centro do cristianismo. No entanto, durante esse tempo, Roma miseravelmente se transformara em cidade de ruínas, e não só físicas por causa da destruição dos bárbaros. Na época de S. Pedro, Roma tinha cerca de um milhão de habitantes; na de S. Filipe Néri, não passava dos cem mil. Foi uma mudança enorme de proporções. Mesmo assim, Roma vivia no século XVI uma forte expansão urbana. Muitas pessoas estavam saindo do campo e indo para a cidade, porque os tempos eram de paz e relativa prosperidade. Justamente por isso, Roma sofria também com os males dos grandes deslocamentos demográficos: havia muito desemprego, fome, crianças abandonadas nas ruas e, sobretudo, a miséria maior, que era gente sem instrução religiosa. A grande capital do cristianismo estava se transformando num centro de pagãos. A vida de santidade fora esquecida, e o escândalo maior é que a santidade não era vivida principalmente pelos Papas, pelos cardeais e pelos bispos… Havia inúmeros prelados importantes de vida dupla — com amantes e filhos —, além da falta de fé. S. Filipe Néri chegou a Roma sem a intenção de ser padre, queria somente viver a santidade entregue a Jesus, fazendo penitência, realizando suas peregrinações e visitas aos túmulos dos Apóstolos. Foi com ele, aliás, que surgiu o costume de visitar as sete grandes basílicas de Roma e renasceu entre os fiéis a devoção pelas catacumbas, aqueles antigos cemitérios cristãos onde muitos mártires foram enterrados. Filipe Néri, que começou a fazer essas peregrinações ainda leigo, juntou pouco a pouco um pequeno grupo de discípulos para viver essa entrega a Deus. Aos trinta anos, Filipe viveu então o fenômeno extraordinário do milagre de Pentecostes. Estando nas catacumbas de S. Sebastião em Roma na vigília de Pentecostes, ele viu uma bola de fogo vir em sua direção, entrar pela boca e fazer seu coração inchar. O coração aumentou a tal ponto, que quebrou duas costelas! (Sabemos disso porque, anos depois, quando fizeram a autópsia do corpo, descobriram duas costelas quebradas e o coração com uma cicatriz que mais parecia uma cauterização.) Deus fez em S. Filipe um novo Pentecostes para que Roma fosse mais uma vez evangelizada. Mais tarde, Filipe Néri foi convencido por seu diretor espiritual a aceitar o sacerdócio. Ordenado padre, começou a evangelizar a cidade. Para isso, teve de enfrentar muitas dificuldades — inveja de cardeais, perseguições, calúnias… No entanto, ele não desistiu. Com uma bondade e um bom humor extraordinários, típico dos santos sanguíneos e cheios de alegria, Filipe conseguiu cativar as pessoas e trazê-las para Deus. Aos poucos, foi-se fazendo amigo também de cardeais, alguns dos quais até se tornaram Papas; ele, porém, não se deixou seduzir pelas vaidades. Dois Papas, por duas vezes seguidas, tentaram criá-lo cardeal, mas sempre ouviram em resposta: Preferisco il Paradiso, “Prefiro o Paraíso”. Morreu como simples sacerdote, se é que pode haver “simplicidade” na missão altíssima de ser padre. Filipe Néri, em seus últimos dias, depois de uma longa vida de evangelização, de muitas confissões, de fazer os pecadores largarem os maus feitos, de trazer as pessoas para Cristo, viveu tempos mais recolhidos de oração, chegando a pedir ao Papa autorização para celebrar Missa em sua capela privada. Depois de S. Filipe comungar, ainda durante a Missa, o coroinha apagava as velas, deixava apenas uma acesa do lado, fechava a cortina e deixava o santo a sós por trinta minutos. A instrução recebida era essa: “Volta em meia hora e bate à porta. Se eu responder, abre a cortina; se eu não responder, volta meia hora depois”. Assim ele viveu misticamente os últimos dias de vida, comungando desta forma, em êxtases maravilhosos, numa caridade cada vez mais ardente, cada vez mais extraordinária. Mas por que S. Filipe Néri mereceu o título de apóstolo de Roma? Porque ele mostrou como se faz apostolado: não com poderes humanos, mas pela ação do Espírito Santo, isto é, por aquilo que o Espírito Santo faz em nós ao nos transformar. Vemos nesse grande apóstolo movido por Deus um modelo daquela alegria que habita os corações quando é o Espírito Santo quem age e conduz todas as ações do homem. É a alegria de entregar-se por Cristo, de sofrer por Ele com uma capacidade que ninguém tem naturalmente! Muitos olham para Pentecostes e acham que aquilo não passa de um “fenômeno psicológico”, mas não é nada disso. O Espírito Santo vem para nos transformar, tornando-nos capazes de agir divinamente, de uma forma que nem suspeitamos ser possível. Que S. Filipe Néri interceda do céu para que também nós, fazendo nossas penitências, peregrinações, orações etc., possamos alcançar o dom do Espírito Santo e ser os novos apóstolos de que a Igreja tanto necessita.

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