A direção espiritual de hoje refere-se a uma virtude importantíssima, sem a qual não é possível chegar à santidade. Trata-se da hypomoné (ὑπομονή), que se costuma traduzir por “paciência”, embora signifique também “perseverança”. O verbo do qual a palavra deriva, hypoméno (ὑπομένω), designa em sentido etimológico a ação de “suportar” ou, mais literalmente, “permanecer” (indicado pelo tema μένω) “em baixo” de algo (conforme o prefixo ὑπό).
No sentido espiritual em que costuma ser empregada no Novo Testamento, hypomoné denota a constância interior de quem, apesar dos pesares, se mantém fiel a Cristo e à vida de piedade, à semelhança daqueles que “ouvem a palavra com coração reto e bom, retêm-na e dão fruto pela perseverança (ἐν ὑπομονῇ)” (Lc 8, 15).
Embora não a nomeie explicitamente, Jesus se refere ao conteúdo desta virtude ao repreender a agitação de Marta de Betânia: “Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas” (Lc 10, 41). Essa inquietação não é senão falta de hypomoné, ou seja, daquela perfeita orientação interior a Deus que torna a alma já adiantada espiritualmente resistente às paixões desordenadas e constante no seguimento de Cristo, pois quem perseverar até o fim (ὁ δὲ ὑπομείνας εἰς τέλος), diz o Senhor, será salvo (cf. Mt 24, 13).
A hypomoné é também a porta de entrada para as quartas moradas de que fala S. Teresa d’Ávila em seu Castelo Interior. É ela que marca, portanto, a passagem da vida espiritual incipiente para o progresso efetivo na santidade. Trata-se de um ponto de inflexão no crescimento da alma, a partir do qual nela começam a atuar, de modo habitual e orgânico, os dons do Espírito Santo, conferindo às suas operações uma modalidade divina.
A alma que se encontra nesta etapa, por conseguinte, já superou as primeiras moradas (consistentes na simples posse do estado de graça e na luta contra o pecado mortal), as segundas (caracterizadas pela vida de oração íntima e a luta contra os pecados veniais) e, obviamente, as terceiras (marcadas pela luta ascética, mediante as virtudes morais adquiridas e infusas, contra as imperfeições e as desordens mais sutis).
A necessidade da hypomoné se deve a que, a partir das quartas moradas, o combate espiritual pela santidade se intensifica e requer, por isso mesmo, uma cooperação mais próxima do Espírito Santo. Deste momento em diante, a alma será provada cada vez mais e só poderá vencer se receber de Deus esta paciência e constância divina, que tudo suporta por amor a Ele.
Com efeito, se quanto mais a alma progride, tanto mais ama e deseja ver a Deus, é óbvio que lhe será preciso ter uma paciência sobrenatural a fim de poder superar os obstáculos que a impedem de alcançar o que deseja, porquanto Deus é um bem árduo, que só se deixa conquistar pelos que o arrebatam à força e com santa violência (cf. Mt 11, 12).
Que Ele se digne conceder-nos esta santa paciência, para que possamos carregar as cruzes do dia-a-dia e as mortificações involuntárias com que a sua divina Providência nos quiser purificar e provar na perseverança.
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