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Por que rezar todos os dias?

A oração é o alimento de nossa alma, de maneira que deixar de rezar um só dia é como deixar o corpo sem comida, fraco e definhando. Neste vídeo, Padre Paulo Ricardo explica de forma bastante didática o porquê de devermos pedir todos os dias as graças que nos são necessárias.

Texto do episódio
716

Um problema muito recorrente e não menos fundamental na vida espiritual de todas as pessoas é a questão da oração diária. Referimo-nos à chamada oração íntima ou mental, e não às práticas de devoção que, embora tenham, sim, a sua importância, são de certo modo “secundárias”, só adquirindo todo o seu valor quando estão unidas a uma vida de trato íntimo e pessoal com Jesus Cristo.

A oração mental diária é, com efeito, o “pão nosso de cada dia” mencionado no Pai-Nosso. A sua importância para a vida do espírito é tão crucial quanto comer e beber o são para a vida do corpo. Sem ela, a nossa alma definha como um organismo desnutrido, sem energias para amar e, portanto, crescer em virtude e santidade.

Ao transmitir o Pai-Nosso aos discípulos, Jesus ensinou-nos a pedir, em primeiro lugar, a glória de Deus: “Santificado seja o vosso nome”. Em seguida, mandou-nos rezar pela nossa própria santidade: “Venha a nós o vosso reino”. No entanto, para que isso aconteça, é preciso fazer o que Ele nos manda: “Seja feita a vossa vontade”. Ora, nós só poderemos cumprir a vontade de Deus se tivermos energias para tanto. É por isso que o Senhor nos ensina a pedir logo em seguida “o pão nosso de cada dia”, ou seja, o sustento necessário para levarmos a cabo o que Deus espera de nós e, assim, termos aquela santidade de verdadeiros filhos seus.

O texto grego do Pai-Nosso, é verdade, não traz a expressão “de cada dia”, traduzida às vezes como “cotidiano”. O termo ali empregado é ἄρτος ἐπιούσιος, isto é, “pão substancial”, cujo sentido é de pão ou alimento necessário para um dia de jornada. Isso significa, em outras palavras, que a cada dia de trabalho corresponde um tipo de alimento, ou seja, o sustento para este ou aquele dia de atividades. O pão de hoje é só para hoje, à semelhança do maná com que o Senhor alimentara o povo escolhido em sua travessia pelo deserto.

Deus quer, para o nosso próprio bem, que dependamos dele sempre e lhe peçamos todos os dias as graças de que precisamos para cumprir, aqui e agora, o que nos cabe fazer. Isso implica, na prática, que temos de rezar todos os dias, porque todos os dias Deus nos pede algo e nos chama a progredir no caminho da santidade.

A vida espiritual só funciona se for alimentada dia após dia. De nada adianta fazer um belo retiro mensal para depois, uma vez de volta à rotina, abandonar a oração e os propósitos feitos. Quem agisse dessa maneira, tratando a vida cristã como algo pontual e quase extraordinário, se comportaria como o filho pródigo da parábola. Em vez de depender do pai diariamente, pedindo-lhe com confiança o necessário para cada momento, aquele filho insensato quis matá-lo antes do tempo, pedindo a parte que lhe cabia da herança. O resultado disso é conhecido de todos: ele virou as costas para o pai, gastou à larga o que recebera e, no fim das contas, acabou sem nada, invejando as bolotas que eram dadas de comer aos porcos.

Muitos, infelizmente, assumem essa postura preguiçosa (no fundo, de soberba autossuficiência) e, como não poderia deixar de ser, terminam ou perdendo a esperança de uma vida santa e conforme os Mandamentos ou achando que Deus, visto por eles como um “injusto”, os abandonou. Nem lhes passa pela cabeça que a culpa por suas quedas, fraquezas e fracassos reside neles mesmos, na sua pretensão de achar que, sem pedir todos os dias as graças de que necessitam, tudo estaria magicamente resolvido.

Uma vida cristã, para ser séria e profunda, tem de ser uma vida de oração, e oração diária, conforme o tempo de que cada um dispuser. Sem isso, poderemos até parecer “bonzinhos” aos olhos de muitos, mas jamais alcançaremos, auxiliados pela graça que a Deus devemos pedir cotidianamente, aquela perfeição da caridade sem a qual a nossa passagem nesta terra se torna projeto frustrado e sem sentido.

Convençamo-nos logo de que quem não pede, não recebe. E quem não pede a Deus todos os dias a graça que cada dia reclama, acaba espiritualmente anêmico, pois a oração, não custa repetir, “é o alimento da alma: assim como o corpo não se pode sustentar sem alimento, assim, sem a oração, não se pode conservar a vida da alma” [1]. E se nos preocupamos em alimentar o corpo todos os dias, por que descuramos, afinal, o cuidado de nossa alma, que vale muitíssimo mais do que o corpo?

Referências

  1. S. Afonso de Ligório, A Oração. Trad. port. de Henrique Barros. 4.ª ed., São Paulo: Santuário, 1992, p. 22.
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