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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 16, 23b-28)

“Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes ao Pai alguma coisa em meu nome, ele vo-la dará. Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis; para que a vossa alegria seja completa.

Disse-vos estas coisas em linguagem figurativa. Vem a hora em que não vos falarei mais em figuras, mas claramente vos falarei do Pai. Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que vou pedir ao Pai por vós, pois o próprio Pai vos ama, porque vós me amas­tes e acre­ditastes que eu vim da parte de Deus. Eu saí do Pai e vim ao mundo; e novamente parto do mundo e vou para o Pai”.

Continuamos nossa novena de preparação para Pentecostes. Hoje, segundo dia da novena, comecemos recordando que Jesus, ao subir aos céus na quinta-feira, ordenou aos Apóstolos que permanecessem em Jerusalém até que viesse o Espírito Santo. Esses nove dias entre a Ascensão do Senhor, na quinta-feira, e Pentecostes, no domingo, são a origem de todas as novenas da Igreja Católica. Por isso se diz que a de Pentecostes é a mãe de todas as novenas. Ontem vimos a divina pessoa do Espírito Santo, o Espírito criador que ordena todas as coisas para Deus. Hoje, meditaremos de forma mais específica sobre o fato de que Deus não quer apenas manifestar-se na criação, mas acima de tudo habitar no nosso coração pelo dom do Espírito Santo. Quando Deus criou os céus e a terra, dizem as Escrituras que o Senhor plantou um jardim de delícias (cf. Gn 2, 8). Em grego, a palavra “jardim de delícias” é παράδεισος, da qual deriva, em portugûes, a palavra “paraíso”. Em hebraico, o termo é mais simples: גַּן (gan), isto é, jardim no sentido de horto cultivado. Para a mentalidade judaica, acostumada a viver em áreas desérticas, um oásis ou um jardim era de fato o máximo de conforto e amenidade que se podia imaginar. É a linguagem que a Bíblia usa para dizer que Deus, ao criar Adão e Eva, os pôs num jardim paradisíaco. Mas as amenidades ou delícias do jardim não eram só nem principalmente físicas, mas antes de tudo espirituais. O que a Escritura, em última análise, nos quer ensinar é que o paraíso, isto é, a felicidade original em que foram criados Adão e Eva estava na amizade que tinham com Deus, fundada na inabitação do Espírito Santo. Afinal, a felicidade humana, para ser verdadeira e completa, não pode limitar-se a um estado corporal de prazer. Nós mesmos vivemos num mundo cheio de confrontos, no qual impera o hedonismo — todos querem cama macia e ar-condicionado, e ninguém quer sequer uma unha encravada —, mas, apesar de tantas comodidades, nunca fomos tão tristes! De todas as gerações, a nossa parece ser a mais miserável que já viveu. Comparado com o de tempos passados, o nosso mundo é um verdadeiro “jardim de delícias” materiais, muito melhor do que qualquer oásis no deserto. Mas não somos felizes! Por quê? Porque no nosso coração não habita a fonte da felicidade. A felicidade está antes na alma que no corpo. O Bem verdadeiro, o único que nos pode fazer felizes, é Deus. Se o Espírito Santo, pela graça, habita em nossas almas, então temos dentro de nós mesmos o jardim de delícias. Disso nos fala, por exemplo, um trecho do Livro dos Provérbios (cf. 8, 31), no qual se inspirou S. Teresa d’Ávila para dizer que a alma do justo é o jardim em que Deus mesmo tem suas delícias, onde Ele gosta de passear. Também o Gênesis fala disso: antes de pecarem, Adão e Eva estavam no jardim, e eis que à hora da brisa da tarde o Senhor descia ao paraíso para passear com eles. Deus gosta de ser amigo do homem! Mas ai de nós! Que fizemos? Pecando, jogamos fora essa presença divina e amiga dentro de nós. Antes do pecado, o divino Espírito Santo habitava no coração de Adão e Eva, para os quais criara toda a terra, a fim de que eles, assenhoreando-se de tudo pelo trabalho, tudo oferecessem de volta a Deus num sacrifício de ação de graças. Adão e Eva foram criados para possuir o mundo e entregá-lo a Deus num sacrifício de amor. Porque Deus é o amigo que habita em minha alma, é o amigo que me criou, que quer o meu bem. A Ele, pois, eu tudo devo entregar, tudo que tenho, tudo que sou. Esse é o projeto de Deus, o convite maravilhoso do Espírito Santo a todos nós. No entanto, naquele jardim não havia somente o Espírito Santo, havia também a serpente, ou seja, um espírito maligno. O Espírito Santo é Deus infinito, o espírito mau é um anjo rebelde, criado por Deus, mas que, por inveja dos primeiros pais, os induziu a se revoltar contra a Deus. Aí aconteceu a tragédia: Adão e Eva pecaram e, pecando, perderam o paraíso, ou seja, expulsaram o Espírito Santo do jardim de seus corações, transformando-os em terra árida, em deserto repleto de espinhos, dores, trabalhos, sacrifícios e angústias. A história, porém, não parou por aí. Vendo a miséria dos primeiros pais, Deus planejou desde o início mandar-lhes um redentor. Ele profetizou que viria uma mulher, da qual nasceria uma descendência para esmagar a cabeça da serpente e, dessa forma, restaurar o projeto originário. O Espírito Santo quer habitar como amigo no nosso coração. Se não somos batizados, que busquemos logo o sacramento do Batismo; se já somos batizados, mas estamos em pecado mortal, procuremos o quanto antes um confessor! Façamos uma boa e frutuosa confissão, para que seja restaurado em nós o jardim de delícias. Pois a alma do justo é o paraíso em que o Espírito Santo habita e gosta de passear, como passeava à hora da brisa da tarde no coração de Adão e Eva.

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