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Sem os sacramentos! E agora?

É duro, mas é fato: estamos sem sacramentos. Acabou, portanto, a vida cristã, sem Missa nem Confissão? Pelo contrário, agora é a hora de vivê-la mais profundamente, fazendo das virtudes domésticas um “sinal” da graça de Cristo no meio de nós.

Texto do episódio
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Neste ano de 2020, em que estamos sofrendo a pandemia do novo coronavírus, celebraremos no dia 8 de dezembro os 150 anos do ato pontifício com que o bem-aventurado Pio IX declarou São José Padroeiro e Protetor da Igreja Católica. Por isso, é oportuno questionar: o que significa celebrar São José num contexto em que todos estão isolados em casa, privados dos sacramentos?

Antes disso, é preciso recordar o que são os sacramentos e, à luz da doutrina de sempre, considerar como devemos agir neste período de privação e confinamento doméstico. Os sacramentos, como é sabido, são eficazes por si mesmos, isto é, comunicam-nos a graça divina ex opere operato ou em virtude de sua simples realização e administração, independentemente da dignidade do ministro.

Nesse sentido, por exemplo, qualquer fiel que receba a Eucaristia está recebendo, sob as espécies sacramentais, o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas se a presença real de Cristo, por um lado, não depende nem da dignidade do ministro nem da fé do comungante, não deixa de ser certo, por outro, que a comunhão do segundo será digna e mais ou menos proveitosa em função de suas disposições interiores (estado de graça, maior ou menor fervor, preparação mais ou menos cuidadosa etc.).

Os sacramentos, porém, não são o único meio de o fiel crescer em graça; são, sim, o caminho ordinário e, devido à sua eficácia ex opere operato, o mais certo e seguro. Que outro meio, portanto, temos à disposição? São os atos de virtude, sobretudo das virtudes teologais. Ora, a peculiaridade desse meio de santificação, ao contrário do que se dá nos sacramentos, é que a sua eficácia depende essencialmente das disposições e atos do fiel, isto é, da medida com que cooperamos com a graça.

Eis por que neste período em que, privados de nossas paróquias, devemos transformar nossas casas em “igrejas domésticas”, ganha especial importância a presença de S. José. Ao contrário de Maria SS., que recebeu ao menos a sagrada Eucaristia (cf. Royo Marín, La Virgen María, p. 260), S. José “forjou” sua santidade sem haver nunca comungado nem, por razões óbvias, se confessado. De todos os santos, foi ele o maior exemplo de santidade doméstica, de exercício continuado das virtudes — especialmente da fé e da caridade —, de convívio íntimo e familiar com Cristo.

Por isso, não deixa de ser providencial que justamente neste ano, que decerto entrará para a história da Igreja como algo único, celebremos o 150.º aniversário da proclamação de S. José como Patrono de toda a santa Igreja, chamada agora, de modo mais particular, a reviver o fervor e a dedicação daqueles primeiros fiéis, escondidos em catacumbas, forçados pelas circunstâncias de viver sua fé às vezes sem outro recurso que o de suas virtudes infusas.

Precisamos recordar que a Igreja, nos três primeiros séculos, foi a Igreja dos mártires, daqueles que eram perseguidos e mortos por sua fé, e foi justamente nesse período que mais houve homens e mulheres que deram um exemplo luminoso de virtude e de santidade, como nos atesta o Martirológio romano. Esses homens e mulheres, contudo, não possuíam tamanho acesso e frequência aos sacramentos quanto estava disponível a nós até pouco tempo atrás.

A Confissão, por exemplo, nos primeiros séculos era realizada apenas em casos extraordinários, de modo que, depois de ser batizado, o cristão precisava esforçar-se ainda mais para se manter em estado de graça. Portanto, o fato de atualmente muitas pessoas não terem acesso à Confissão, deve servir-nos como um sinal de Deus para nossas vidas, pois “o dia do Senhor virá como um ladrão de noite. Quando os homens disserem: ‘Paz e tranquilidade!’, então repentinamente lhes sobrevirá a destruição” (1Ts 5, 3).

Infelizmente, muitas pessoas se portam de forma presunçosa diante do sacramento da Confissão, vendo-a como a “solução mágica” para pecados futuros que permanecem sendo cogitados, em vez de combatidos a partir de um arrependimento verdadeiro e de um propósito firme. Assim, mesmo sendo a favor da Confissão frequente e da Confissão devocional, precisamos neste momento em que não podemos realizá-las, reconhecer que há nisto uma ação benigna, providencial e misericordiosa de Deus Pai que sabe castigar seus filhos quando eles se tornam presunçosos.

Neste momento em que também não podemos comungar, devemos nos colocar diante de Deus para um profundo exame de consciência, questionando-nos: quantas comunhões mal feitas e desleixadas? Quanta irreverência e distração na hora de comungar? Quanta indiferença e tibieza tomava o nosso coração quando podíamos receber a Eucaristia e não o fazíamos? A seguir, precisamos, num ato de contrição profundo, pedir perdão a Deus pelas vezes que não valorizamos de forma devida o sacramento da Eucaristia, e, fazendo a comunhão espiritual, nutrir em nosso coração o desejo de comungar adequadamente assim que possível. Portanto, vivamos com fé este momento de dificuldade, pois “este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos!” (Sl 117, 24).

E é justamente neste momento que precisamos entronizar São José como protetor de nossas famílias, consagrando-nos a Ele. Que, sob sua intercessão, vivamos a “Igreja doméstica”, rezando o terço em família e apresentando ao Patrono da Igreja, valoroso esposo da Virgem Santíssima, as nossas angústias e necessidades. Desse modo, quando voltarmos a ter acesso à Eucaristia e à Confissão, perceberemos como este momento de dificuldade, vivido na oração, foi fundamental para darmos o devido valor aos sacramentos instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo para a nossa salvação.

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