A teologia de Lutero, como vimos, não admite a possibilidade de alguém ser santo. Para o fundador do protestantismo, a fé seria apenas um sentimento de confiança em Deus, que nos reveste com a sua misericórdia sem, no entanto, transformar o nosso coração.
Bento XVI recorda que, infelizmente, “essa interpretação se impôs também na exegese católica” (Spe Salvi, n. 7). Desse modo, a fé perdeu a sua eficácia de nos conduzir para além, de nos transportar para Deus. Mas a fé, ensina Bento XVI, “não é só uma inclinação da pessoa para realidades que hão-de vir, mas estão ainda totalmente ausentes; ela dá-nos algo”: o próprio Cristo (Spe Salvi, n. 7).
A teologia católica distingue dois momentos importantes no exercício da fé. Santo Tomás de Aquino fala em verbo interior e verbo exterior. Deus, que deseja a nossa salvação, procura-nos insistentemente, falando-nos no interior da alma e convidando-nos à sua intimidade. Mas para que escutemos a voz desse verbo interior, é preciso silenciarmos as nossas paixões. O verbo exterior, por outro lado, é todo sinal externo — palavra ou acontecimento — utilizado por Deus para fazer-nos prestar atenção ao seu verbo...