Na Carta XVII [1], Screwtape aconselha o sobrinho acerca de um pecado a que se costuma dar pouca importância: a gula. De fato, para a moral católica, a gula é uma falta menor. Trata-se, é verdade, de um dos sete pecados capitais, mas que um pecado seja capital não significa, por si só, que seja grave; significa simplesmente que dá origem a outros pecados. Por isso, contar a gula entre os pecados capitais é o mesmo que dizer que dela derivam, como de sua cabeça ou raiz, outros pecados, alguns muito mais graves, como um afluente que se torna tanto mais perigoso quanto mais se afasta da nascente. É a desordem no beber, por exemplo, que leva ao vício da crápula, popularmente conhecido como “encher a cara”, do qual dependem, por sua vez, as infelizes consequências da embriaguez, quer pessoais, quer familiares ou sociais.
Pois bem, Screwtape ensina a Wormwood a importância de manter o paciente preso no mundo da sensualidade, um mundo que é o avesso do criado originalmente por Deus. Antes da queda, as paixões humanas estavam submetidas ao império da razão e esta, por seu turno, à lei de Deus; depois que o homem se deixou seduzir pelo diabo, as coisas se inverteram: as...