Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 5, 17-19)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra. Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus”.
V. 17. “Não penseis”, como falsamente dizem alguns a meu respeito, “que vim abolir” (καταλῦσαι), isto é, ab-rogar e tornar írritos “a Lei e os Profetas”, ou seja, a vontade divina expressa nas SS. Escrituras. “Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento” (πληρῶσαι), isto é, para aperfeiçoá-los. Com efeito, como diz o Pseudo-Crisóstomo, “não é o mandamento de Cristo contrário à Lei, senão mais amplo do que ela. O mandamento de Cristo inclui em si toda a Lei, mas não ao revés. Quem, pois, cumpre os mandamentos de Cristo, tacitamente cumpre neles também os da Lei” (Op. imp., v. 21). Mas de que modo deu Cristo pleno cumprimento à Lei? De quatro formas: a) completou-lhe a parte dogmática esclarecendo alguns pontos da Revelação e aumentando-a em muitos outros (e.g., revelação plena da Trindade de pessoas em Deus); b) completou-lhe a parte ética, na medida em que a elevou a maior perfeição, sobretudo quanto aos atos internos (e.g., equiparação entre o adultério consumado e o de simples desejo), interpretou-a de forma perfeitíssima, libertando-a das minúcias farisaicas e, acima de tudo, deu aos homens graça abundante para obedecerem ao espírito de suas prescrições; c) completou-lhe a parte cerimonial substituindo o que nela eram apenas figuras e símbolos pela realidade que prefiguravam (e.g., instituição da SS. Eucaristia); d) enfim, completou os profetas além de toda expectativa, já que era Ele mesmo, não só quem Moisés havia anunciado, mas o próprio Filho de Deus encarnado.
V. 18. “Em verdade, eu vos digo, antes que o céu e a terra deixem de existir”, isto é, antes que este mundo deixe o seu estado atual e decaído e seja elevado a um estado novo e glorioso, após a ressurreição dos mortos (cf. 2Pd 3, 13) no Fim dos Tempos, “nem uma só letra” (um iota, a menor letra do alfabeto hebraico) “ou vírgula (κεραία) serão tiradas da Lei”, isto é, perderão o seu vigor, “sem que tudo se cumpra”, quer dizer, antes que se tenham cumprido de fato todas as profecias e disposições da economia da salvação. O texto de Lucas, neste ponto, parece ser um pouco mais claro: “Mais facilmente, porém, passará o céu e a terra do que se perderá uma só letra da Lei” (Lc 16, 17). — V. 19. “Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja”, isto é, quem negligenciar ou transgredir (para alguns, “quem pretender ab-rogar”) algum dos mandamentos da nova Lei, por menor que seja ou por menos importante que pareça a matéria de que trata (alusão ao iota e à vírgula do v. anterior), “e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus” etc. “O menor” (ὁ μικρότερος, ὁ ἐλάχιστος), “grande” (ὁ μέγας), “o maior” (ὁ μείζων) são termos empregados com muitíssima frequência na literatura rabínica para significar a diferente sorte dos eleitos no futuro reino messiânico.
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