Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 13, 31-33a.34-35)
Depois que Judas saiu do cenáculo, disse Jesus: “Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele. Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará logo.
Filhinhos, por pouco tempo estou ainda convosco. Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”.
Meditação. — 1. A liturgia destes domingos finais do tempo litúrgico da Páscoa procura preparar-nos para a solenidade de Pentecostes. Por essa razão, a Igreja deixa de proclamar os evangelhos posteriores à Ressurreição de Cristo para voltar ao discurso de Cristo na Última Ceia, exatamente quando Ele promete a seus discípulos o envio do Espírito Santo, que lhes ensinará todas as coisas. (Na liturgia antiga, o trecho proclamado neste domingo já fala explicitamente de sua vinda: cf. Jo 16, 5-14).
A antífona de entrada da liturgia nova e o intróito da antiga, no entanto, são o mesmo: Cantate Domino canticum novum. É um convite à alegria, porque estamos a cantar, ainda, as glórias da Páscoa.
E também o Evangelho deste domingo fala de glória, mas num contexto que poderia parecer inadequado a um primeiro olhar. De fato, Judas, o traidor, acabara de sair do cenáculo, disposto a entregar Jesus, e este diz aos demais Apóstolos: “Agora foi glorificado o Filho do Homem”. Ora, como entender que Nosso Senhor fale de glória justamente quando começa o seu opróbrio?
A 1.ª e a 2.ª leituras respondem a esta pergunta quando anunciam, respectivamente: “É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus” (At 14, 22) e “Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos” (Ap 21, 4, referindo-se aos justos no Céu).
Tudo aponta, pois, para o duplo aspecto da Páscoa, indivisível, inseparável: Cruz e Ressurreição, Paixão e Glória. Normalmente, quando uma coisa aparece, oculta-se a outra, e é preciso descobrir pela fé aquela que se tornou invisível. No Calvário, Cristo padecia sofrimentos os mais terríveis e atrozes; em sua alma, no entanto, já se encontrava a glória de que gozam todos os bem-aventurados. Estes, por sua vez, hoje vivem em grande alegria, embora nesta vida tenham derramado sangue e lágrimas para conservar em seus corações a fé e a caridade. Por essa razão, não podemos temer as cruzes: é através delas que nos tornaremos dignos de “entrar no Reino”.
2. Todavia, a única coisa capaz de transformar em glória os nossos sofrimentos chama-se amor.
A maior glória que existe no Céu — depois da glória que há na Santíssima Trindade e na humanidade santíssima de Cristo — é a da beatíssima Virgem Maria. Os artistas católicos chegaram a pintar os anjos boquiabertos a contemplá-la (cf., v.g., “A Assunção da Virgem”, de Alessandro Turchi). É uma glória maior do que a de todos os santos e santas da Igreja juntos. Mas a que se deve essa glória excelsa e sublime, senão ao grandíssimo amor que ela teve por seu Filho, Nosso Senhor? E esse amor, por sua vez, como foi possível senão por obra da graça divina, graça da qual, como se sabe, ela esteve repleta, desde a sua concepção imaculada?
3. Pois é justamente com a passagem do mandamento do amor que se conclui o Evangelho deste domingo: “Amai-vos uns aos outros”, diz Jesus a seus Apóstolos. “Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.”
Mas como foi mesmo que Cristo Nosso Senhor amou os seus discípulos?
Nossa tendência imediata, ao ouvir estas palavras de Jesus, é pensar na Cruz, onde Ele verteu amorosamente seu Sangue pela nossa salvação. E não está errada a associação, porque de fato “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos” (Jo 15, 13). Mas, àquela altura do Evangelho, Cristo não havia ainda sido entregue nas mãos dos homens, o Cordeiro não havia ainda se deixado imolar por nós. Estando, pois, o verbo usado por Nosso Senhor no passado — “como eu vos amei”, Ele diz, e não “como eu vos amarei” —, a que mais poderia Ele estar se referindo, naquela oportunidade, senão aos três anos que passou ensinando seus discípulos e acendendo em seus corações o fogo do amor divino?
Pois bem, se foi deste modo que Ele nos amou e é deste modo que Ele quer que nos amemos uns aos outros, o apostolado não é para os cristãos um luxo acessório, mas uma exigência irrenunciável. O maior desejo do coração de um católico deve ser levar a Cristo todos que estão ao seu redor. Nessa missão, devemos procurar imitar em tudo, é claro, o nosso divino Mestre, que usou de grande paciência para pescar os seus discípulos, foi pouco a pouco os cevando, até os fisgar e atrair em definitivo a si; mas a necessidade de pregar, com palavras e com a vida, é mesmo indispensável.
E “nisto todos conhecerão que sois meus discípulos”, diz o Senhor, “se tiverdes amor uns aos outros”, isto é, se buscardes com todo afinco a salvação de vossos irmãos, como Eu mesmo procurei; se os alimentardes continuamente com o pão da Palavra, como eu fiz convosco.
Oração. — Fazei, Senhor, que assim como vós amastes os vossos discípulos, também nós amemos de coração sincero nossos irmãos e irmãs, querendo e trabalhando pelo maior bem que vós podeis conceder às nossas almas, que é a salvação eterna. Amém.
Propósito. — À luz do amor de Nosso Senhor que alimentou os primeiros discípulos com as suas palavras e ensinamentos, meditar se temos levado a doutrina de Cristo e da Igreja aos que nos são mais próximos, especialmente aqueles que foram colocados por Deus sob nossa responsabilidade, e fazer propósitos concretos nesse sentido.
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