Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 6, 7-13)
Naquele tempo, Jesus chamou os doze e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura.
Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas. E Jesus disse ainda: "Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida. Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!"
Então os doze partiram e pregaram que todos se convertessem. Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo.
Jesus envia hoje seus discípulos para pregar o Evangelho e expulsar os espíritos impuros. Diante de tamanho e tão grave encargo, de que armas se podem valer esses novos evangelizadores? Que recursos o Senhor lhes põe à disposição? De fato, o menor e mais fraco dos demônios é incomparavelmente maior e mais forte do que os Golias de nossa miúda raça. Desse-lhes o Senhor a mínima permissão, poderiam as potestades do mal, poderosas e astutas, dizimar num átimo todo o gênero humano e dar nossa carne "às aves do céu e aos animais da terra" (1Sm 17, 44)! Se, portanto, tal é a desigualdade de forças entre os homens e as hostes do inferno, é de se esperar que Jesus, ao enviar seus discípulos a tão feroz contenda, lhes dê algum "poder sobre os espíritos impuros". Afinal, se grande e perigosa é a batalha, bons e eficazes devem ser os equipamentos de combate.
Mas não é nem elmo, nem couraça, nem gládio, nem escudo a arma que lhes confia o Senhor. Pois se nem os soldados humanos podem levantar-se contra o inimigo se estiverem sob o peso duma armadura demasiado grande, por muito maior razão não podem os combatentes do espírito estar sobrecarregados com as preocupações do mundo. Por isso, despoja Cristo os seus missionários de quanto lhes possa pesar o passo: "Recomendou-lhes", pois, "que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura." Não os envia Cristo como Saul quisera enviar Davi, de capacete de bronze e equipagem inusitada (cf. 1Sm 17, 38-40); antes lhes permite levar apenas um pobre bordão, a fim de avançarem contra o demônio como a um cão miserável (cf. 1Sm 17, 43). Tira-lhes o Senhor todo recurso humano, para que só nos auxílios divinos coloquem a sua esperança.
É com esse mesmo ânimo de entrega à Providência que Jesus nos envia às lutas espirituais que dia a dia temos de travar. Os demônios, com efeito, vêm contra nós com a espada da tentação, com a lança das insinuações e com o escudo da mentira; nós, porém, vamos contra eles "em nome do Senhor dos exércitos, do Deus das fileiras de Israel" (1Sm 17, 45), que nos providencia o pão nosso de cada e, com o seu braço forte, nos livra do Maligno e nos preserva do pecado. Abracemos, pois, esse estilo de vida livre e despojado, que faz nossas almas humildes, desprendidas dos cuidados terrenos. Esteja o nosso coração folgado, entregue, como criança, às mãos paternais do nosso Deus, que provê às andorinhas o alimento diário e tem em grande conta até os fios de nossa cabeça. Como criancinhas em Cristo, seremos como leões diante do diabo e suas tolas investidas!
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