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Homilia Dominical
11 Set 2014 - 25:40

Elevado na Cruz, elevado no altar

O mesmo Cristo que há dois mil anos foi erguido na Cruz é elevado todos os dias sobre o altar de nossas igrejas. Todas as Missas são, portanto, exaltações da Santa Cruz, pois renovam o perpétuo sacrifício de amor de Jesus.
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Homilia Dominical - 11 Set 2014 - 25:40

Elevado na Cruz, elevado no altar

O mesmo Cristo que há dois mil anos foi erguido na Cruz é elevado todos os dias sobre o altar de nossas igrejas. Todas as Missas são, portanto, exaltações da Santa Cruz, pois renovam o perpétuo sacrifício de amor de Jesus.
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo João(Jo 3, 13-17)

Neste Domingo, celebra-se a festa da Exaltação da Santa Cruz. O Evangelho relata o encontro de Nosso Senhor com Nicodemos, no qual Ele anuncia: “Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna”. A comparação de Jesus se relaciona com outra afirmação sua, contida no mesmo Evangelho de São João: “Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim” [1].

Mas, como é possível que Cristo crucificado, “de quem a gente desvia o olhar” [2], atraia todos a Si, cumprindo a profecia de Zacarias: “Olharão para Aquele que transpassaram” [3]

É assim porque a Cruz é um mistério de amor. De fato, ao celebrar a Exaltação da Santa Cruz, não se está exaltando o crime do homicídio de Cristo, nem a Sua dor [4], mas a vitória do amor de Deus, proclamada na famosa sentença também do Evangelho de hoje: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”.

Se hoje se percebe uma tendência de falar de Cristo crucificado como um homem abandonado por Deus, não se deve perder de vista que, muito mais que isso, a Cruz é o drama de Deus abandonado pelos homens. Infelizmente, as pessoas esquecem-se da divindade de Nosso Senhor, esquecem-se de que unus ex Trinitate passus est pro nobis: uma Pessoa realmente divina, impassível, esvaziou-Se e fez-Se homem, a fim de nos amar.

Esse amor de Cristo é renovado em cada sacrifício da Santa Missa. Importa explicar bem as coisas: o sacrifício de Nosso Senhor aconteceu uma vez por todas no Calvário, mas é renovado em cada celebração da Missa sacramentalmente, isto é, na separação do pão e do vinho para a consagração [5]. Substancialmente, todavia, trata-se do mesmo sacrifício, pois uma só é a vítima e um só o sacerdote que Se oferece: Jesus Cristo. “Com efeito, uma só e mesma é a vítima, pois quem agora se oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que então se ofereceu na cruz; só o modo de oferecer é diferente” [6]. Ainda que o modo de oferecer seja incruento e sacramental, após a consagração, estão realmente presentes debaixo das espécies eucarísticas o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor.

Em cada Missa, portanto, é celebrada a exaltação da Santa Cruz. Quando o sacerdote eleva a hóstia e o cálice, após a consagração, Nosso Senhor está sendo novamente elevado e atraindo todos a Si, e a profecia está novamente se cumprindo: “Olharão para Aquele que transpassaram”. Por isso, é importante que todos os fiéis tenham uma devoção especial pelo momento da consagração, que é, sem dúvida, o mais importante da Missa. Quando o sacerdote visível diz: Isto é o meu Corpo e Este é o cálice do meu Sangue, ele empresta suas palavras ao sacerdote invisível, Jesus, que oferece perpetuamente o Seu ato de amor a Deus pela salvação dos homens, na ação eucarística.

Para que bem participemos desse sacrifício, é preciso que nos unamos a Cristo oferente, entregando também a nossa vida a Deus, como resposta amorosa ao grande amor de Jesus: “Amavit nos, ut redamaremus eum; et ut redamare possemus, visitavit nos Spiritu suo - Amou-nos para que o amássemos de volta; visitou-nos com seu Espírito para que pudéssemos amá-Lo novamente” [7]. “Si amare pigebat, saltem nunc redamare non pigeat - Se antes nos custava amá-Lo, agora ao menos não nos custe corresponder ao Seu amor” [8].

Olhando para a Cruz, realmente somos curados em nossa capacidade de amar. Quando o Papa Bento XVI, em sua “reforma da reforma”, começou a celebrar a Santa Missa com o crucifixo no centro do altar, algumas pessoas sugeriram que a Cruz poderia “atrapalhar” a visão do celebrante. Na verdade, a visão de Cristo crucificado recorda ao sacerdote que ele se dirige não ao povo, mas a Deus; coloca diante dele o vínculo indissociável entre a Cruz e a Sagrada Eucaristia. Como diz o belo hino Adoro te devote, composto por Santo Tomás de Aquino, “na cruz estava oculta somente a tua divindade, mas aqui [na Eucaristia] se esconde também a humanidade.”

Por fim, como guia de oração, recomenda-se a bela súplica de São Nicolau de Flüe:

“Meu Senhor e meu Deus, arrancai de mim mesmo tudo o que me impede de ir a Vós. Meu Senhor e meu Deus, dai-me tudo aquilo que me conduz a Vós. Meu Senhor e meu Deus, tirai-me de mim mesmo e entregai-me todo a Vós.” [9]

Referências

  1. Jo 12, 32
  2. Is 53, 3
  3. Zc 12, 10
  4. Algumas pessoas não aceitam que Jesus, em Sua Paixão, sofreu mais do que qualquer homem, alegando que outras pessoas, na história da humanidade, sofreram tormentos muito maiores que o Cristo. Ao contrário, Santo Tomás de Aquino, escrevendo sobre essa questão, explica, por exemplo, que Jesus “tinha uma ótima compleição física”, pela qual “era agutíssimo nele o sentido do tato, com o qual se percebe a dor” (Suma Teológica, III, q. 46, a. 6). Por esse e por outros motivos, o Aquinate prova que a dor da paixão de Cristo foi, sim, maior que todas as outras dores.
  5. O Papa Pio XII explica isso bem claramente quando ensina que “as espécies eucarísticas, sob as quais [Cristo] está presente, simbolizam a cruenta separação do corpo e do sangue” (Mediator Dei, 63).
  6. Concílio de Trento, Sessão XXII, 2: DS 1743
  7. Santo Agostinho, Enarrationes in Psalmus, CXXVII, 8
  8. Santo Agostinho, De Catechizandis Rudibus, I, 4
  9. Cf. Catecismo da Igreja Católica, 226
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