CNP
Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
Todos os direitos reservados a padrepauloricardo.org®
Texto do episódio
00

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 18,35-43)

Quando Jesus se aproximava de Jericó, um cego estava sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. Ouvindo a multidão passar, ele perguntou o que estava acontecendo. Disseram-lhe que Jesus Nazareno estava passando por ali. Então o cego gritou: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” As pessoas que iam na frente mandavam que ele ficasse calado. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” Jesus parou e mandou que levassem o cego até ele. Quando o cego chegou perto, Jesus perguntou: “Que queres que eu faça por ti?” O cego respondeu: “Senhor, eu quero enxergar de novo”. Jesus disse: “Enxerga, pois, de novo. A tua fé te salvou”. No mesmo instante, o cego começou a ver de novo e seguia Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo o povo deu louvores a Deus.

I. Reflexão

Celebramos hoje a memória de Santo Alberto Magno, Doutor da Igreja e um dos maiores luzeiros da intelectualidade medieval, responsável por reintroduzir e reabilitar na cultura de sua época o pensamento de Aristóteles. Antes de entrar para a vida religiosa, Santo Alberto dedicara-se ao estudo das ciências naturais, sobretudo da biologia, na Universidade de Pádua. Tão grande era o seu amor ao saber que, embora consciente de sua vocação religiosa, acabou adiando seu ingresso na Ordem dos Pregadores com o fim de progredir nas ciências humanas. Uma visão de Nossa Senhora, no entanto, fê-lo tomar o hábito dominicano e, uma vez em Bolonha, dedicar-se ao estudo da teologia sagrada. Tornou-se monge já tarde, com mais ou menos trinta anos. Irá viver até os oitenta e sete, sobrevivendo ao seu mais dotado aluno, Santo Tomás de Aquino, em quem soube incutir o zelo por todo tipo de conhecimento e a convicção de que é do mesmo Deus que procedem harmonicamente as verdades de ordem tanto natural como sobrenatural, de forma que não há nem pode haver contradição entre o que diz a Revelação cristã e o que demonstram os saberes profanos. A razão e a fé, como diz o Papa São João Paulo II, “constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade” (Encíclica “Fides et Ratio”, de 14 set. 1998, pr.), que a nossa alma é capaz de enxergar sob duas luzes distintas: a luz natural da razão e a luz sobrenatural da fé, infundida em nós por Deus e alimentada dia após dia pela correspondência à graça divina. Que Santo Alberto Magno interceda por nós, e de modo particular pelos que se dedicam às ciências, e nos ajude a evitar tanto o racionalismo, que atribui à inteligência humana forças que ela não possui, como o fideísmo, “que não reconhece a importância do conhecimento racional e do discurso filosófico para a compreensão da fé” (ibid. n. 55) e para demonstrar os preâmbulos que preparam a inteligência, iluminada pelo Espírito Santo, para assentir às verdades reveladas como convém à salvação.

II. Reflexão sobre o evangelho

1. O êxodo de Cristo. — No Evangelho de hoje, Jesus realiza a cura maravilhosa do cego de Jericó, um cego cujo nome não é revelado no evangelho de Lucas, mas sim no de Marcos: “Bartimeu” (Mc 10,6), i.e. filho de Timeu. E o que esta cura do cego de Jericó tem a nos dizer? Lembremos, em primeiro lugar, que a cidade de Jericó fica perto de Jerusalém, mas está num desnível enorme, a ponto de situar-se abaixo do nível do mar, tão profundo é o buraco em que ela se encontra. Aqui, Jesus está prestes a concluir o seu caminho rumo a Jerusalém. O evangelho de S. Lucas, a partir do capítulo 9, é todo ele dedicado à narrativa da subida de Cristo até a Cidade Santa, para onde Ele se encaminha a fim de morrer na cruz e ir para o céu, como se fosse o seu êxodo, na linguagem usada pelo próprio evangelista (cf. Lc 9,31: gr. τὴν ἔξοδον αὐτοῦ). Mas, para subir aos céus, passar pela páscoa e abrir as portas do paraíso, Jesus quer que o sigamos: “Renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). É isso que Ele está ensinando aos seus discípulos, é isso que Ele está dizendo, e por isso uns o aceitam, outros o rejeitam.

2. Somos também Bartimeu. — É neste contexto dramático dos últimos dias de sua vida que Jesus cura o cego de Jericó. Essa cura se torna, então, emblemática, algo que realmente nos diz respeito: esse cego sou eu e é você. Somos nós, cegos na fé, fracos na fé. Sim, porque nós cremos em Jesus. Afinal, se você não tivesse fé, não estaria ouvindo esta homilia. Mas a nossa fé é fraca. Vemos pouco, e por isso precisamos aumentar a nossa fé, de tal modo que, fazendo-a crescer, estejamos prontos para ir com Jesus neste êxodo, nesta viagem, nesta subida para Jerusalém — não para a Jerusalém física, geográfica, de 2000 anos atrás, mas para a Jerusalém celeste, onde Jesus nos quer e espera. No entanto, para isso acontecer, é preciso todo um processo de conversão. Essa parábola nos propõe, nesse sentido, alguns pontos bem práticos, bem objetivos a esse respeito. Primeira coisa: o cego grita insistentemente por Jesus (cf. v. 38s). Remete-nos ao que refletíamos há dias, ou seja, à necessidade de perseverar na oração. Todos começam a mandá-lo calar a boca, mas o cego insiste, e insiste em fazer a sua oração: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” A oração insistente e perseverante de Bartimeu é o tipo de oração que também nós devemos ter.

3. Lancemos fora o manto de mendigo. — Qual será, então, a consequência dessa oração? A consequência dessa oração é que Deus, que quer nos escutar e dar-nos as graças necessárias para a nossa salvação, nos fará mais unidos a Jesus e desapegados deste mundo. O episódio do cego de Jericó no-lo ensina no momento em que Jesus manda o cego vir até si, e Bartimeu, desapegado, levanta-se e vai até Jesus. No evangelho de S. Marcos, diz-se inclusive que, “lançando fora a capa, o cego ergueu-se de um salto e foi ter com Ele” (Mc 10,50). Quem já viu cego pular?! Mas Bartimeu pula, com aquele impulso que nós devemos ter para ir até Jesus, desapegados de nossa vida passada, do nosso manto de mendicância, para encontramos em Cristo a nossa salvação. Vamos lá! É coisa simples de entender, mas difícil de fazer, por conta da nossa falta de generosidade. Rezemos, rezemos muito, rezemos perseverantemente. Quanto mais for crescendo nossa vida de oração, mais notaremos  nossa união com Jesus e nosso desapego das coisas do mundo, porque estaremos subindo com Jesus em direção a Jerusalém, louvando a Deus como o cego de Jericó (cf. v. 43).

O que achou desse conteúdo?

0
0
Mais recentes
Mais antigos
Texto do episódio
Comentários dos alunos