No dia 25 de julho de 2018, a encíclica Humanae Vitae, do Papa Paulo VI, completa 50 anos de publicação. Como qualquer outro documento magisterial, também esse, que originalmente trata da “reta propagação da vida humana” (do original latino: de propagatione humanae prolis recte ordinanda), precisa ser lido à luz da doutrina católica, e deve ser aceito por todos os católicos. Em linhas gerais, a encíclica não se limita ao tema da regulação da natalidade, como se pode entender pelas traduções do seu título em língua vernácula, mas repete aquilo que outro documento da Igreja já havia proclamado anos antes: que a natureza dos atos conjugais está primeiramente ordenada à geração da prole.
A limitação do número de filhos foi um tema discutido pela Igreja Anglicana na Conferência de Lambeth, em 1930. Nesse encontro, os bispos anglicanos aprovaram, pela primeira vez na história do cristianismo, o uso de métodos artificiais para a contracepção. Prevendo o alcance de uma decisão como aquela, o Papa Pio XI não demorou para reagir, e logo mandou publicar a encíclica Casti Connubii, de cujas linhas Paulo VI tomaria notas, quatro décadas depois, para redigir a Humanae Vitae.
Ambos os textos defendem a moral católica sobre o matrimônio, advertindo os fiéis contra a mentalidade anticristã. Todavia, a força de seus argumentos não procede só da luz sobrenatural da fé, mas apela à razão natural, à lei natural inscrita no coração de todos os homens.
Ninguém precisa de um documento papal para entender que a finalidade primária da alimentação é a nutrição. É verdade que, em nossas refeições, preparamos um ambiente celebrativo, onde podemos partilhar amigavelmente nossas experiências enquanto nos saciamos com os alimentos, cujos sabores agradáveis nos causam prazer e satisfação. Tudo isso faz parte desse momento que, aliás, nos distingue profundamente dos demais animais: um cachorro não partilha sua ração com nenhum outro animal, ao passo que os homens podem viver a fraternidade, dividindo a carne e outros alimentos sobre a mesa. Mas a nutrição é o elã das refeições. Se se perdesse essa finalidade primária, e os homens começassem a comer apenas por diversão, a humanidade estaria fadada à morte.
A mesma lei está na sexualidade. O sexo possui finalidades secundárias, até espirituais, mas o seu propósito mais radical é, sem dúvida, a procriação. Se a humanidade parar de se reproduzir, a espécie humana desaparecerá. É o que está acontecendo com a Europa, especialmente em países como a Alemanha, onde a taxa de natalidade é baixíssima. Em poucos anos, os alemães terão desaparecido do mapa, a não ser que haja alguma intervenção divina. E o mesmo pode acontecer com o Brasil se nosso país continuar incentivando uma agenda cultural antinatalista.
A cultura moderna inventou o “direito ao orgasmo”. As pessoas querem fazer sexo apenas por prazer, como se a união entre os órgãos sexuais masculino e feminino não estivesse perfeitamente ordenada à procriação. Para isso, homens e mulheres não se envergonham de recorrer à castração, comportando-se como verdadeiros animais. O falso alarmismo da bomba populacional transformou a geração de filhos em uma ameaça e o sexo em um parque de diversões. O resultado disso se expressa pela desmoralização total da sociedade, que já não se sacrifica pelas crianças. Trata-se de uma sociedade perversa, que está caminhando para a morte demográfica e espiritual.
Na encíclica Humanae Vitae, o Papa Paulo VI advertiu claramente para três consequências da pílula anticoncepcional: 1º) a infidelidade; 2º) a desvalorização da mulher; e 3º) a imposição estatal do controle de natalidade. Basta uma vista sobre a sociedade para admitir que Paulo VI estava correto. O número de traições e divórcios aumentou pelo “caminho amplo e fácil que tais métodos” abriram “à infïdelidade conjugal e à degradação da moralidade” (Humanae Vitae, n. 17). As mulheres marcham na rua pelo direito de serem “vadias” e, perdoem-nos a expressão, “depósito de esperma” para os homens que, habituados à contracepção, acabam perdendo o respeito pela mulher e as consideram “como simples instrumento de prazer egoísta e não mais como a sua companheira, respeitada e amada” (Id.). E, no fim das contas, o Estado castra os civis pela força das leis, do lobby e das ideologias.
A pílula anticoncepcional é, de fato, a pedra que rolou da montanha, causando a grande avalanche de imoralidades e perversões a que assistimos atualmente. Já se fala até em aceitação da pedofilia. Se a sociedade não aprender a virtude e voltar-se para a verdade o quanto antes, terminará soterrada por essa avalanche que ela mesma provocou ao apartar-se de Cristo.
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