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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 14, 1-12)

Naquele tempo, a fama de Jesus chegou aos ouvidos do governador Herodes. Ele disse a seus servidores: “É João Batista, que ressuscitou dos mortos; e, por isso, os poderes miraculosos atuam nele”.

De fato, Herodes tinha mandado prender João, amarrá-lo e colocá-lo na prisão, por causa de Herodíades, a mulher de seu irmão Filipe. Pois João tinha dito a Herodes: “Não te é permitido tê-la como esposa”. Herodes queria matar João, mas tinha medo do povo, que o considerava como profeta. Por ocasião do aniversário de Herodes, a filha de Herodíades dançou diante de todos, e agradou tanto a Herodes que ele prometeu, com juramento, dar a ela tudo o que pedisse. Instigada pela mãe, ela disse: “Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João Batista”. O rei ficou triste, mas, por causa do juramento diante dos convidados, ordenou que atendessem o pedido dela. E mandou cortar a cabeça de João, no cárcere. Depois a cabeça foi trazida num prato, entregue à moça e esta a levou para a sua mãe. Os discípulos de João foram buscar o corpo e o enterraram. Depois foram contar tudo a Jesus.

Celebramos hoje a memória de Santo Inácio de Loyola, o grande fundador da Companhia de Jesus. Todo o mundo conhece mais ou menos a vida de Santo Inácio e sua clamorosa conversão. Inácio de Loyola era soldado. Mais do que soldado, cavaleiro. Como oficial, queria seguir na corte do rei as glórias militares. Foi assim que, defendendo a cidade de Pamplona de uma invasão de franceses, atingido por um balaço de canhão em ambas as pernas, ele foi levado para o castelo da família em Loyola, onde teve de sofrer duas cirurgias dolorosíssimas. Durante o tempo de convalescença das lesões, ele, entediado, pediu livros de cavalaria, um de seus interesses. Ao saber que não havia nada do gênero, resolveu ler o que estava à disposição, que eram a vida de Cristo e a dos santos. Foi por essas santas leituras que ele se encontrou com Jesus, a Palavra viva de Deus, o Verbo eterno que lhe falava ao coração havia já tanto tempo. Ali começou o processo de sua conversão. Todo o mundo sabe que, mais tarde, Inácio viria a fundar a Companhia de Jesus, importantíssima para a história da Igreja no conturbado século XVI, quando a “reforma” protestante começou a tomar conta da Europa. Foram os jesuítas, um verdadeiro exército do Papa, que detiveram o avanço da revolta e expandiram a fé cristã no Oriente e nas Américas. O Brasil deve enormemente sua evangelização aos primeiros jesuítas que, como nosso grande santo, José de Anchieta, vieram a estas terras.

Mas hoje queremos considerar a importância de um livro escrito por Santo Inácio. São os famosos Exercícios Espirituais. Quem não conhece a história do livro talvez não lhe dê tanta importância porque, afinal das contas, o que se costuma pensar dos Exercícios? “São um livrinho para acompanhar num retiro”… No entanto, os Exercícios Espirituais são talvez o livro que mais conversões suscitou na história da Igreja. Sim, São Francisco de Sales, que viveu um século depois de Santo Inácio, pôde afirmar sem exagero: “Os Exercícios Espirituais converteram tantas pessoas quantas são as letras escritas neles”. Isso apenas um século depois! Que não poderíamos dizer do século XXI? Quantas pessoas se converteram graças a essa pequena obra? Pequena em tamanho, grande porém em importância e inspiração. E o mais admirável é que Santo Inácio a escreveu ainda no início da conversão. Ele era um soldado, queria as honras da cavalaria, estava encantado com uma moça, princesa importantíssima, com quem queria casar-se. No entanto, ele sabia que, se ficasse coxo, isto é, manco de uma perna, dificilmente poderia casar-se com sua amada. Por isso ele se submeteu a duas dolorosas cirurgias. Por causa de uma vaidade… Mas Deus tocou-lhe o coração. Inácio, então, deixou tudo por amor a Cristo: deixou a ideia de casamento, deixou as honras da cavalaria, tudo para querer somente a glória de Deus.

No desejo de progredir na conversão, dirigiu-se a Manresa, onde teve durante um retiro experiências místicas extraordinárias. Daí nasceram os Exercícios. Ora, Inácio era um recém-convertido, não tinha cultura teológica quase nenhuma, mal fora alfabetizado, e no entanto o livro só pode ter sido inspirado por Deus. É um livro muito acertado. Mas o que há de tão especial nos Exercícios Espirituais? É o fato de que estão pensados para levar as pessoas que estão à procura de uma finalidade na vida que não seja Deus a desentortar o caminho e começar a buscar a Deus. Esse é o princípio e fundamento de todos os exercícios. O homem foi criado para amar e servir a Deus, de sorte que todas as criaturas, — os bens materiais, até mesmo nossos corpos — foram criadas por Deus para nos ajudar a chegar a Ele. Por isso, temos de nos aproximar das criaturas, dos bens materiais criados por Deus, na precisa medida em que nos aproximam de Deus. Os Exercícios Espirituais são uma grande meditação em que, conduzidos por Inácio como que pela mão de um pai, vamos nos dando conta do que viemos fazer aqui, ou seja, da razão de ser, da missão de nossas vidas. Hoje, especialmente, devemos nos fazer esta pergunta: “Que eu vim fazer a esse mundo? Ora, eu tenho uma missão, uma razão de ser”. De fato, ninguém foi jogado a esmo no mundo, sem razão de ser!

Talvez estejamos procurando uma finalidade nobre… Lembremos que Santo Inácio era homem de enorme virtude. Sim, ele queria as glórias da cavalaria, desejava a mão de uma princesa importante etc., eram objetivos nobres, honrosos, elevados, honestos. Santo Inácio não queria pecados nem vivia como um grande pecador. Se compararmos a vida dele antes e depois da conversão, veremos que Inácio já era um homem de virtudes e qualidades extraordinárias. Ele, por exemplo, não aceitou durante o cerco de Pamplona a trégua desonrosa proposta aos espanhóis pelo inimigo francês. Inácio impôs-se, dizendo: “Não! É melhor morrer com honra que se entregar numa trégua vergonhosa!” Um homem de valor, de virtude, de grande porte moral! No entanto, ele agia bem, mas pela razão errada. “Errada”, entendamos, não quer dizer aqui “desonesta” nem “pecaminosa”, mas “por outro motivo que não Deus”. Numa palavra, ele era bom por causa de realidades criadas, por meras criaturas. Ora, os Exercícios Espirituais nos mostram que, por mais que façamos coisas boas, honrosas e até virtuosas, se não as fizermos por Deus como razão e fim último, isto é, como o porquê de nossa existência, teremos uma vida fundamentalmente vazia. Por isso nos perguntemos hoje: “Por que vim ao mundo? Já me dei conta de que estou aqui para amar e servir a Deus e, com isso, alcançar a glória do céu?” Se não, precisamos fazer o quanto antes os Exercícios Espirituais de Santo Inácio para desentortar nossa vida superficialmente virtuosa.

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