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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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O Santíssimo Sacramento da Eucaristia, por ser a fonte e o ápice da vida cristã, é a raiz de toda santidade. Por isso, não existe santo no céu que tenha se configurado totalmente a Cristo sem uma grande devoção pelo seu Corpo eucarístico. Daí a necessidade urgentíssima de firmarmos a nossa fé católica em tão augusto artigo da doutrina sagrada.

Este novo curso que vamos lançar tem exatamente este objetivo: ao tratar dos chamados milagres eucarísticos, queremos apresentar antes de tudo uma sacramentologia da Eucaristia, ou seja, a doutrina católica específica a respeito do dogma da presença real, verdadeira e substancial de Cristo sob as espécies do pão e do vinho após o fenômeno sobrenatural da transubstanciação. E mormente porque vivemos num período de muitas dúvidas e confusão sobre essas verdades, cuja importância fundamental, todavia, não é ignorada pela ação do diabo.

Se, por um lado, a Eucaristia é o centro da identidade católica e o meio ordinário para a nossa salvação, por outro, o diabo, sabendo dessa realidade, não se vence em malícia e astúcia para semear a descrença no coração dos fiéis. De fato, os últimos séculos da história da Igreja têm sido marcados por ataques contínuos à Santíssima Eucaristia, seja pelo efeito das heresias, seja pelo vilipêndio e a profanação. E à medida que a fé católica vai se enfraquecendo, cresce a sanha e a ousadia dos satanistas contra o Corpo de Cristo.

Não é estranho, por essa razão, o fato de boa parte dos milagres eucarísticos estar associada a pessoas ou que duvidavam do Santíssimo Sacramento, ou que desejavam profaná-lo. Para remediar a fraqueza de seus filhos e como que estabelecer um dique contra as enxurradas de imundícies borcadas pela serpente sobre a Divina Eucaristia, Deus tem manifestado a verdade a respeito do sacramento do seu Corpo tanto por meio de aparições e revelações privadas quanto através de milagres, confirmando a fé católica de dois mil anos.

Os católicos, embora creiamos formalmente na Eucaristia não por conta dos milagres, mas por conta unicamente da Palavra de Deus, que não se engana nem pode enganar, temos às vezes certa necessidade de sinais sensíveis para prestarmos mais firmemente o nosso assentimento de fé. Nesse caso, não podemos ignorar um sinal claro da intervenção divina, sobretudo quando ela é tão eloquente quanto extraordinária. Se Deus, afinal de contas, dignou-se realizar os milagres eucarísticos, nós temos a obrigação de mostrar esses milagres e torná-los mais conhecidos entre as pessoas. Era isso que pensava o Beato Carlo Acutis.

Neste curso, portanto, vamos nos servir precisamente da pesquisa que este bem-aventurado jovem realizou acerca dos vários milagres eucarísticos já conhecidos. O trabalho do Beato Carlo Acutis foi ainda enriquecido pela contribuição de Sérgio Meloni, do Instituto São Clemente, de modo que o seu livro I miracoli eucaristici e le radici cristiane dell’Europa traz, além da pesquisa de Carlo, textos de importantes teólogos, como o Cardeal Ratzinger, e do Magistério, como a Encíclica Mediator Dei, de Pio XII, e o Catecismo da Igreja Católica. Trata-se de bibliografia básica para quem tem o desejo de se aprofundar no tema.

Apresentada a justificativa para o nosso curso, vamos agora abordar em detalhes aquele que talvez seja o milagre eucarístico mais famoso: o de Lanciano. A crônica dos fatos é de conhecimento quase comum: “Uma antiga tradição cristã nos diz que no início do século VII, um sacerdote da Ordem Basiliana, enquanto celebrava a Santa Missa, na Igreja dos Santos Legonziano e Damiano, perto de Lanciano, província de Chieti, duvidou da verdade que se celebra no rito sagrado da Missa”. Assim descreve o episódio o professor Odoardo Linoli, em cujo relatório para o Quaderni Sclavo di diagnostica clinica e di laboratorio encontramos um material rico e seguro para entender o que realmente foi o evento de Lanciano, sobre o qual tanto se fala na internet. O professor Linoli teve a oportunidade de analisar clinicamente as espécies do milagre, pelo que podemos nos fiar em suas conclusões sobre o assunto.

O relatório do professor Linoli diz que, após ter duvidado da transubstanciação, o sacerdote “viu para sua imensa alegria e também para o povo presente, a transformação da hóstia em carne e do vinho em sangue”. Ao longo dos séculos, essa carne e esse sangue foram preservados e hoje se encontram expostos num ostensório e num cálice para a adoração dos fiéis, no Santuário do Milagre Eucarístico, em Lanciano (Itália). Segundo o professor Linoli, o tecido que ele analisou é mesmo uma “lâmina de tecido humano”, que “parece que afinou e que está lacerada na parte central, por causa da retração do tecido na direção da periferia, onde nessa periferia parece engrossado por pregas circulares”.

O tecido, então, não é exatamente idêntico à carne que acabou de ser tirada de um corpo, como julgam algumas fontes exageradas na internet. Linoli constatou o seguinte: “...esse tecido (essa carne) está uniformemente duro, com a dureza de madeira”, isto é, não é flexível como a carne humana viva, mas tem uma consistência “duro-línea”, o que exigiu “uma forte pressão da lâmina para retirar dois pequeninos fragmentos para a pesquisa”.

Em relação ao sangue, trata-se de “cinco fragmentos com um peso total de 15,85 gramas, de cor amarelo-marrom e tanto a hóstia como o sangue têm alguns pontinhos brancos”, que, de acordo com Linoli, são “fungos amorfos”, provenientes de contaminação devida à ação do tempo. Esse sangue também “está uniformemente duro e somente com uma forte pressão do instrumento cortante é que se conseguiu retirar, com dificuldade, uma pequenina parte”.

A partir da análise do material colhido, o professor Linoli chegou às seguintes conclusões: 1.º) o sangue e a carne do milagre eucarístico são mesmo sangue e carne; 2.º) o método de Uhlenhuth demonstrou que tanto a carne quanto o sangue são da espécie humana; 3.º) a carne pertence ao miocárdio, ou seja, é um tecido do coração, dado que se verifica pelo formato das fibras e das células; e 4.º) a carne e o sangue são do tipo AB, indicando, com isso, que pertenceram a uma mesma pessoa. Em todo caso, a análise ainda demonstrou que, mesmo após 1200 anos, as proteínas dentro do quadro soroproteico parecem ser distribuídas como se fosse sangue fresco, ou seja, sangue recém-extraído, conquanto o sangue do milagre esteja claramente coagulado, petrificado. Tal fator pode ocorrer em corpos mumificados por causa de um tratamento especial para a sua preservação, mas este não é o caso: nem o sangue nem a carne do milagre de Lanciano receberam tratamento, como indica o relatório.

Ora, o evento de Lanciano é para deixar qualquer pesquisador boquiaberto. A própria realidade da extração da lâmina do miocárdio, diz o relatório, é bastante emblemática, porque “se essa lâmina tivesse sido tirada de um cadáver, do coração de um cadáver, aqui deve se admitir que somente uma mão muito especializada em dissecação anatômica teria podido, e não sem seríssima dificuldade, obter uma fatia uniforme, contínua e tangencial da superfície de uma víscera”, como é o coração, um órgão “que é cavo”, ou seja, que tem um buraco dentro.

O milagre de Lanciano, por sua vez, não exige o assentimento de fé como as verdades reveladas por Nosso Senhor. Para a doutrina católica, os fiéis são livres para crer ou não nas ditas “revelações privadas” e nos milagres ocorridos após a conclusão da Revelação e reconhecidos pela autoridade da Igreja. O relatório a respeito de Lanciano, no entanto, dá razões suficientes para uma pessoa admitir que ali houve, de fato, um evento extraordinário em múltiplos aspectos. No fim das contas, o milagre de Lanciano é um sinal de uma realidade ainda mais profunda que é o mistério da transubstanciação, ou seja, a conversão das substâncias do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Nosso Senhor durante a consagração das espécies na Santa Missa. Por isso esse tema será o escopo de nosso curso.

Vale a pena mencionar que, em nosso estudo, nós mesmos nos vimos obrigados a retificar certas opiniões teológicas que defendíamos até então, a começar pelo juízo de que os milagres eucarísticos seriam “coisas supérfluas”. Hoje não só temos outra opinião, mas entendemos que, nas espécies do milagre de Lanciano, por exemplo, também Jesus está real e substancialmente presente em seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Chegamos a essa nova conclusão pelo argumento imbatível de Santo Tomás de Aquino.

Até pouco tempo, defendíamos erroneamente que o material presente no ostensório e no cálice de Lanciano era apenas o sinal de um milagre de Deus, e não mais propriamente a Eucaristia, por já não apresentar as espécies do pão e do vinho. Nosso raciocínio se devia à noção de que, uma vez dissolvidas as espécies, também desaparece a substância, como acontece quando dissolvemos na água as pequenas partículas que sobram da Eucaristia. Também quando comungamos, a presença de Cristo eucarístico só se mantém enquanto as espécies não são digeridas. Logo concluíamos que, no milagre de Lanciano, já não existia mais o Santíssimo Sacramento.

Acontece que, ao analisar o milagre eucarístico de Orvieto, o qual deu origem à festa de Corpus Christi, Santo Tomás tratou, na Suma Teológica (III, q. 76, art. 8), da questão se “a espécie de carne neste sacramento” conservava a presença do Corpo de Nosso Senhor. O Doutor Angélico demonstrou que houve “milagrosamente uma alteração sobre certos acidentes” enquanto permaneceram as dimensões anteriormente existentes. E como isso se deu para “figurar uma verdade, isto é, para mos­trar, por essa milagrosa aparição, que no sacra­mento está verdadeiramente o corpo e o sangue de Cristo”, então, não haveria aí nenhum engano, porque, “permanecendo as dimensões, fundamentos dos outros acidentes, como depois dizemos, permanece o verdadeiro corpo de Cristo neste sacramento”.

O mesmo raciocínio pode ser aplicado ao milagre de Lanciano. A genialidade de Santo Tomás de Aquino nos mostra mais uma vez como a sua teologia é um instrumento de primeira ordem “para aclarar, quanto for possível, os mistérios da salvação de forma perfeita” (Optatam Totius, 16). Na matéria deste curso, por conseguinte, não vamos nos furtar à contribuição inestimável do grande Aquinate. Por meio de sua ajuda, estamos certos de poder penetrar mais profundamente no grande mistério da Eucaristia, pelo qual Jesus, tendo amado os seus até o fim, tomou o pão e o vinho, consagrou-os, e garantiu a sua presença no meio de nós até a parusia.

Fica aqui, portanto, o convite para você se inscrever em nosso novo curso e descobrir conosco o tesouro do Santíssimo Sacramento através dos milagres eucarísticos.

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