Como atestam inúmeros exemplos de piedade e devoção no decorrer da história, tanto na liturgia como fora dela, a Igreja sempre tratou com sinais de especial estima e reverência o sacrossanto sacrifício eucarístico, que é a um tempo o mais augusto sacramento da nova Lei; disto se pode concluir que este divino mistério sempre foi tido por ela como um resumo de toda a fé cristã e o centro do culto católico. 

Renovação incruenta do sacrifício único e perfeito de Jesus, a Eucaristia é também o alimento por antonomásia da vida espiritual, não só por tornar a Deus propício ao homem pecador nem apenas por ser um meio especialíssimo de obtermos auxílios do céu para resistir ao diabo, perseverar no bem e prestar a Deus o devido culto, mas também e antes de tudo por conter sob as aparências de pão e de vinho ao próprio Cristo Senhor, que nela se imola sem sofrer e se dá aos homens em alimento da alma, como canta a Igreja nas Matinas de Corpus Christi: Eis que o pão angélico faz-se pão dos homens; dá o pão celeste às figuras término. Oh! coisa admirável: que ao Senhor manduque um servo pobre e miserável.

Para expor este sagrado mistério, dentro do que é possível à razão humana iluminada pela fé, com a ordem e o respeito devidos, seguiremos neste curso o seguinte caminho, dividido em três capítulos: 1) primeiro, veremos, como fundamento do mistério e princípio de toda a doutrina eucarística, o dogma da presença verdadeira, real e substancial do corpo e do sangue do Senhor, o modo pelo qual se opera essa milagrosa conversão e alguns corolários sobre o estado de Jesus sacramentado; 2) em seguida, veremos o caráter eminentemente sacrificial da Eucaristia, enquanto oblação propiciatória para aplicar os méritos da cruz; 3) por fim, veremos o uso que deste sacramento podem fazer os fiéis pela sagrada comunhão, as disposições necessárias à sua recepção digna e frutuosa e o valor da ação de graças e da chamada comunhão espiritual.