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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 1, 29-34)

No dia seguinte, João viu Jesus aproximar-se dele e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Dele é que eu disse: Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque existia antes de mim. Também eu não o conhecia, mas se eu vim batizar com água, foi para que ele fosse manifestado a Israel”.

E João deu testemunho, dizendo: “Eu vi o Espírito descer, como uma pomba do céu, e permanecer sobre ele. Também eu não o conhecia, mas aquele que me enviou a batizar com água me disse: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer, este é quem batiza com o Espírito Santo’. Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus!”

No décimo dia do Natal, ou seja, no dia 3 de janeiro, a Igreja celebra o SS. Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo. Trata-se de uma devoção que não consta mais do Calendário Geral, mas que ainda podemos celebrar. No Missal, há uma Missa votiva do SS. Nome de Jesus; no Lecionário também se encontram as leituras, todas muito profundas. É até um pouco “constrangedor” escolher uma delas, porque é tal a profundidade dessa devota celebração, que nós, numa homilia de poucos minutos, não temos condições de explorar toda a sua riqueza. Pois bem, no Antigo Testamento, como se lê no Livro do Êxodo, Deus revelou seu nome do meio da sarça ardente. Disse Ele a Moisés: “Eu sou o que sou”. Deus afirma ser a fonte de todo o ser, uma presença ativa em todas as coisas, porque Ele é aquele que é, enquanto nós, na realidade, “não somos”. Este nome, os judeus o guardaram com todo o zelo e devoção, com toda a reverência e cerimônia; esse mesmo amor, agora nós, cristãos, devemos tê-lo por Jesus e seu nome: Yeshua, “Jesus”, traduzido e adaptado para o português. A carta de S. Paulo aos filipenses nos diz com clareza que Jesus recebeu um nome que foi exaltado sobremaneira por Deus para que, “seja no céu, na terra ou nos abismos, todo joelho se dobre e toda língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai” (8,10s). Toda liturgia, não somente a da terra, mas também a celeste proclama o triunfo do grande nome de Jesus. A devoção a ele sempre existiu na Igreja. Tanto é assim que, durante a Liturgia, de cabeças descobertas, nos inclinamos ao ouvir o nome de Jesus e dobramos os joelhos em várias ocasiões. Não é um nome qualquer; é uma presença viva. Os próprios Apóstolos curavam os doentes em nome de Jesus e proclamavam o nome do Senhor. Quando os Apóstolos são chamados a comparecer ante o Sinédrio para serem julgados, os sacerdotes do Templo de Jerusalém dizem: “Nós vos proibimos de pregar este nome, e no entanto enchestes esta cidade com vossa doutrina” (At 5,28). Os Apóstolos saíram de lá alegres por sofrerem pelo nome de Jesus. Tudo isso, a Igreja o celebra e proclama em sua Liturgia. Nos últimos séculos, essa devoção cresceu graças aos cistercienses e franciscanos. Santos como S. Bernardino de Siena, S. João Capistrano etc. faziam pregações sobre o nome de Jesus e, ao cabo dela, levavam o povo a adorá-lo por meio do monograma de Cristo. Para nós, de línguas latinas, o monograma de Cristo escreve-se assim: IHS. Na verdade, é um iota (I), um éta (H) e um sigma (Σ) maiúsculos, ou seja, as três letras iniciais do nome “Jesus” em grego (Ἰησοῦς). Na tradição artística católica, é costume ver essas três letras rodeadas de raios de luz fulgurantes. Muitos santos, como dizíamos, faziam pregações sobre o nome de Jesus e, no último dia de pregação, desvelavam o monograma de Cristo para que as pessoas o adorassem, porque no nome santíssimo de Jesus está a presença do divino Salvador. E o que quer dizer o nome de Jesus, Yeshua? “Deus salva”! Por isso diz S. Pedro aos sumos sacerdotes: “Não há nenhum outro nome pelo qual nós possamos alcançar a salvação” (At 4,12).


Observação: Se não for celebrada a memória facultativa do Santíssimo Nome de Jesus, o Evangelho é o que vai abaixo, seguido do respectivo comentário exegético.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

(Mt 4,12-17.23-25)

Naquele tempo, Ao saber que João tinha sido preso, Jesus voltou para a Galileia. Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do mar da Galileia, no território de Zabulon e Neftali, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: “Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região do outro lado do rio Jordão, Galileia dos pagãos! O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz”.
Daí em diante, Jesus começou a pregar, dizendo: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. Jesus andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo. E sua fama espalhou-se por toda a Síria. Levaram-lhe todos os doentes, que sofriam diversas enfermidades e tormentos: endemoninhados, epilépticos e paralíticos. E Jesus os curava. Numerosas multidões o seguiam, vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia, e da região além do Jordão.

Comentário

Argumento. — Só Mt menciona a escolha de Cafarnaum como residência, acrescentando, como de costume, uma profecia do AT (vv. 13-16); em seguida, os três sinóticos apresentam um sumário da primeira pregação de Cristo.

Escolha de Cafarnaum (cf. Mt 4,13-16). — Jesus voltou então para a Galileia e, deixada a cidade de Nazaré, i.e. sem que nela entrasse (καταλιπών = passando ao largo, não entrando), ou: tendo entrado, dali saiu em seguida (1), veio e habitou (κατῴκησεν, assentou-se, i.e. fixou sede, morada) na Cafarnaum marítima, i.e. às margens do mar de Tiberíades (cf. Jo 6,59), nos limites de Zabulon e Neftali, i.e. nas fronteiras de ambas as tribos, entre a Galileia superior e a inferior. — O Senhor escolheu esta cidade como morada tanto pelo frequente afluxo de pessoas, em razão do comércio, quanto pela facilidade de partir dali em viagem, fosse por mar ou por terra. 

V. 14ss. Nisto vê cumprida o evangelista uma profecia de Isaías, citada a partir do hebr. um pouco livremente (8,23–9,1): A terra que outrora foi Zabulon (na Galileia inferior), e a terra que outrora foi Neftali (na Galileia superior), no caminho do mar… Em Isaías, estão todas as palavras no acusativo; em Mt (segundo Lagrange), parecem estar no vocativo; mas deve, tratar-se, na verdade, de simples nominativos, sujeitos do verbo viu (v. 16). — Caminho do mar (em gr., no acusativo: ὁδὸν θαλάσσης), pode tomar-se preposicionalmente (como no hebr. derekh ha-yām, não raro, e.g. 1Sm 8,48; 2Cr 6,34; Ez 41,12; 47,2; 48,1 etc.), i.e. de frente para o mar, no caminho para o mar, como aposição aos termos precedentes: Terra de Zabulon e etc., situadas de frente para o mar (de Genesaré); pode também introduzir um novo sujeito: Terra de Zabulon e terra de Neftali (e) caminho do mar, o que designaria o caminho de Damasco até o litoral do Mediterrâneo (e daí para o Egito), pelas zonas setentrionais de Genesaré, ou antes o caminho que cinge o lago de Genesaré no sentido O-N-E. — No além Jordão, i.e. na região depois do rio, sobretudo o trecho E-N adjacente ao lago, visitado muitíssimas vezes pelo Senhor; a Galileia é chamada dos gentios por ser vizinha de povos pagãos, como se fosse o extremo da Palestina.

O povo destas regiões, que estava sentado (em hebr. andava) nas trevas, i.e. que vivia triste e aflito (Is), ou oprimido pela ignorância religiosa e pelos pecados (Mt), viu uma grande luz, i.e. foi reconfortado pela felicidade messiânica (Is), ou contemplou a presença e a pregação de Jesus (Mt). O hemistíquio seguinte, por paralelismo poético, diz exatamente o mesmo, embora a locução sombra da morte (hebr. salmāweth) pareça um erro de pontuação dos massoréticos no lugar do isaiano salmuth = treva ou caligem densíssima. Sob a imagem da luz retrata muita vez Isaías a salvação messiânica (cf. 42,6; 49,6; 60,1ss etc.).

De acordo com a opinião mais comum dos intérpretes católicos, esta profecia refere-se em sentido literal ao tempo messiânico, uma vez que pertence ao chamado Livro de Emanuel. Além do que, o próprio evangelista sugere claramente que o vaticínio se cumpriu no advento e na pregação de Cristo (cf. ἵνα πληρωθῇ = para se cumprir etc.). — Não se pode afirmar, com Calmet, Lépicier e outros, que o evento significaria apenas um propósito (o de ir pregar àquelas regiões), e que a única intenção do evangelista seria a de mostrar que, ao ir Jesus para a Galileia, aconteceu algo semelhante às coisas preditas por Isaías. Tampouco parece sólida o bastante a opinião de Jansênio, que interpreta este vaticínio segundo a história da libertação de Jerusalém das mãos de Senaqueribe, e apenas tipicamente em referência à pregação do Evangelho.

Suma da pregação (cf. Mt 4,17; Mc 1,14b-15; Lc 4,14b-15). — Jesus começa, pois, a pregar na Galileia o Evangelho (do reino) de Deus, i.e. o alegre anúncio da chegada da salvação messiânica, dirigido por Deus aos homens. Inicialmente, Jesus o faz quase com mesmas palavras de João Batista: a) completou-se o tempo (Mc), i.e. aquela medida ou número de anos que Deus, por sua providência, constituiu para fundar o reino da graça (cf. Gl 4,4); b) fazei penitência; c) aproximou-se, i.e. está perto ou, o que é mais correto, já chegou o reino dos céus; d) e crede no Evangelho (Mc: πιστεύετε ἐν τῷ εὐαγγελίῳ), i.e. nesta felicíssima notícia que vos é dada sobre o advento do reino messiânico.

Embora as palavras sejam quase as mesmas, esta primeira pregação de Cristo não é de todo idêntica à de João Batista. João, com efeito, não pregou o ‘evangelho’, nem anunciou diretamente o advento do reino de Deus, mas limitou-se a pregar um batismo de penitência como preparação para o reino, já iminente. Jesus também exortou os homens à penitência, mas o que principalmente anunciava era o advento do reino de Deus; a penitência por ele recomendada, por sua vez, era menos uma disposição preparatória para entrar no reino (como em João) que a real entrada nele. O reino, afinal, está tão às portas, que é como se já tivesse chegado; portanto, todo o que crê ‘no alegre anúncio dele’ se torna, eo ipso, partícipe em alguma medida da alegria do reino. Por último, João falava somente da penitência, ao passo que Jesus foi o primeiro a insistir na necessidade da fé no Evangelho.

Lc assinala brevemente o efeito desta primeira pregação: A fama dele se espalhou por toda a região, e o costume de Jesus de ensinar nas sinagogas, onde desde o princípio alcançou o aplauso de todos.

V. 23ss (cf. Mc 1,35-39; Lc 4,42ss). Logo após o primeiro sábado em Cafarnaum dedicado ao ministério, Jesus começa a percorrer a Galileia, não sem antes entregar-se à oração (Mc). As partes centrais deste ministério são a pregação nas sinagogas e também noutros lugares, e a cura de doentes de vário tipo, especialmente dos energúmenos.

Referências

  1. Esta visita, para os que preferem a ordem de Lc, teria sido ministerial, a saber: a narrada em Lc 4,16ss; para outros, não foi senão em transcurso rumo a Caná.

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