11. O erro do kenotismo. — Apoiadas em uma conhecida passagem de S. Paulo na Epístola aos Filipenses, algumas correntes cristológicas contemporâneas vêm propondo uma interpretação do mistério da Encarnação que não só se distancia do entendimento canônico da Igreja, mas que implica a anulação do próprio mistério de Cristo. O texto em questão é o hino cristológico em que o Apóstolo das gentes canta em tons poéticos — eco talvez da liturgia pré-paulina que já se celebrava entre os primeiros cristãos — a humildade com que o Filho eterno de Deus, assumindo a natureza humana, veio ao mundo para nos redimir: “Sendo Ele de condição divina”, diz, “não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fp 2, 6ss).
Desse texto pretendem concluir os kenotistas que o Filho de Deus se despojou por completo da natureza divina, tornando-se puramente homem, quer no instante mesmo da Encarnação, quer ao longo da vida, em um processo de autoaniquilamento que se consumaria no Calvário....