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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 14, 13–21)

Naquele tempo, quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu e foi de barco para um lugar deserto e afastado. Mas, quando as multidões souberam disso, saíram das cidades e o seguiram a pé. Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes. Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram: “Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar comida!”.

Jesus, porém, lhes disse: “Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!”. Os discípulos responderam: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes”. Jesus disse: “Trazei-os aqui”.

Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama. Então pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida, partiu os pães e os deu aos discípulos. Os discípulos os distribuíram às multidões. Todos comeram e ficaram satisfeitos, e, dos pedaços que sobraram, recolheram ainda doze cestos cheios. E os que haviam comido eram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.

Meditação. — 1. O Evangelho deste domingo nos apresenta o famoso episódio da “multiplicação dos pães”. Das três versões que os Sinóticos narram sobre esse milagre de Jesus, a de São Mateus é, segundo S. Tomás, exatamente a mesma de São João. E isso significa que, ao realizar tal prodígio no meio dos homens, Nosso Senhor estava a poucos dias da celebração da Páscoa e, consequentemente, a um ano da sua Paixão, Morte e Ressurreição. Em razão disso, temos a oportunidade de meditar, neste domingo, sobre o significado do amor de Cristo, do qual, como nos adverte a segunda leitura, “nem a morte, nem a vida” é capaz de nos separar (Rm 8, 38).

O amor de Deus é um amor, antes de tudo, efetivo, porque realiza uma ação para o bem do amado, e, como tal, possui quatro características básicas: 1.º, ele é extático; 2.º, ele é unitivo; 3.º, ele é dedicado; e, 4.º, ele é elevante. Vejamos, afinal, o que significa cada uma dessas coisas. 

Extático tem a ver com “estar fora de si”, em “êxtase”. Alguém que ama precisa estar “fora de si” para voltar-se à necessidade do amado, como uma mãe que, mesmo estando cansada, corre para socorrer seu bebê. De modo mais sublime, Deus “saiu de si”, por assim dizer, e encarnou-se para vir ao encontro do gênero humano. Para recordar a famosa expressão de Santo Irineu de Lião, que aparece no Catecismo, “o Verbo de Deus habitou no homem e fez-se Filho do Homem, para acostumar o homem a apreender Deus e Deus a habitar no homem, segundo o beneplácito do Pai” (n. 53). 

O amor de Deus também é unitivo, pois Ele quer unir-se a nós. No Evangelho de São Lucas, vimos com que desejo ardente — desiderio desideravi (22, 15) — Jesus esperava pela Ceia Pascal com seus discípulos. Ali, naquele momento, Nosso Senhor buscava a mais perfeita das uniões, que é a concórdia, isto é, a união dos corações. Em linguagem filosófica, devemos dizer que é quando duas ou mais pessoas estão vinculadas umas às outras pelo intelecto e pela vontade, ou seja, elas buscam as mesmas coisas e rejeitam as mesmas coisas (idem velle, idem nolle). 

2. Num mundo tão carnal, é comum a crença de que a união mais profunda que pode existir entre os seres humanos é a sexual. Todavia, esse tipo de relação logo cai no tédio, o que explica a facilidade com que muitos casais se desfazem e buscam outros parceiros. Mas, se possuem boa disposição, os casais unidos por um objetivo mais elevado, como a educação dos filhos, por exemplo, devem experimentar uma união íntima muito maior que a da relação sexual, porque a vontade e o intelecto de ambos estarão orientados ao mesmo fim. Além de esposos, eles serão amigos. 

Deus, por sua vez, também quer ser nosso amigo. Em razão disso, Ele se dá a conhecer por meio da Revelação, a fim de que, iluminados pela luz da graça, nossa inteligência e vontade se voltem para o sumo Bem. Nas páginas sagradas do Evangelho, vemos Jesus se revelando à multidão, com pregações, milagres, prodígios e outros sinais. Ele deixa como que “feridas de amor” no coração do povo, para depois recolher-se no deserto, onde somente aqueles que o amarem de verdade o irão procurar.

Na aridez de nossas orações, devemos nos achar nesse deserto de amor onde se encontra o Cristo recolhido. Assim, pelo empenho de nossa inteligência e de nossa vontade, e auxiliados pela luz da graça, estaremos unidos a Nosso Senhor.

3. Essa união é bem apresentada na comunidade de Jerusalém, conforme o relato dos Atos dos Apóstolos: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma, onde ninguém considerava próprias as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum” (4, 32). E isso só aconteceu porque, na oração, o Espírito Santo iluminou a inteligência desses fiéis, movendo-os para a intimidade do Coração de Jesus, onde todos são um (cf. Gl 3, 26). Aconteceu uma união de corações e de alma.

Além disso, vemos que esse amor gerado pelo Espírito Santo é o de alguém dedicado, porque cada membro da comunidade de Jerusalém se colocava a serviço das necessidades dos demais. Jesus também se dedicou a nós, doando-nos a sua eternidade e fazendo-nos “filhos de Deus”. Ele se entregou a cada um de nós para que fôssemos salvos da condenação e, desse modo, Deus Pai fosse mais glorificado. Essa era a sua missão aqui neste mundo e deve ser a nossa também.

4. O amor de Deus é, finalmente, elevante, porque nos transforma espiritualmente ao ponto de nos tornarmos participantes da natureza divina. Trata-se de um amor que nos arrebata e nos faz experimentar o Céu já aqui na terra. Ele nos eleva porque deseja o nosso bem.

Todas essas quatro características do amor de Deus devem estar bem gravadas em nossos corações, para que, na hora de nosso exame de consciência, vejamos se estamos cumprindo o mandamento de amar como Jesus nos amou e sintamo-nos impelidos — caritas Christi urget nos — a buscar o bem de nossos irmãos, que é a salvação eterna.

Oração.Manifestai, ó Deus, vossa inesgotável bondade para com os filhos e filhas que vos imploram e se gloriam de vos ter como criador e guia, restaurando para eles a vossa criação, e conservando-a renovada. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

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