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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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Esta aula é um pontapé inicial para aqueles que desejam se consagrar à Virgem Maria no próximo dia 8 de dezembro, pelo método conhecido de São Luís Maria Grignion de Montfort. No seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, São Luís recomenda que o tempo de preparação para a consagração seja de, ao menos, um mês como uma espécie de exercício espiritual. Na verdade, são 30 dias de preparação divididos em seções:

  • 12 dias para o desapego do mundo (de 8 a 19 de novembro);
  • 6 dias para o conhecimento de si mesmo (de 20 a 25 de novembro);
  • 6 dias para o conhecimento da Virgem Maria (de 26 de novembro a 1.º de dezembro); e, finalmente,
  • 6 dias para o conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo (de 2 a 7 de dezembro).

Desde o lançamento de nosso novo site, está no ar também o novo curso de preparação para a consagração, cujas 20 aulas apresentam, de maneira breve mas profunda, a teologia mariana da Igreja, além de responder às dúvidas mais frequentes que os postulantes têm diante das afirmações do Tratado.

Para compreender verdadeiramente a consagração à Virgem Maria, é preciso partir do fato de que todos nós, batizados, prometemos, no dia de nosso batismo, por meio de nossos pais e padrinhos, romper completamente com o demônio e amar a Deus de todo o coração. O nome disso é santidade. Notem: romper com o demônio significa deixar de pecar, isto é, cumprir diariamente aquilo que está estabelecido nos dez mandamentos. Mas isso ainda não é a santidade, que é mais exigente do que simplesmente parar de ofender a Deus. As pessoas costumam se equivocar quanto a esse tema, achando que basta cumprir os mandamentos para serem santas.

A pessoa que deixou de pecar encontra-se na estaca zero do processo de santificação, porque o pecado nos coloca abaixo de zero. A santidade é acima de zero e ela consiste na prática constante do amor a Deus e ao próximo, de modo que incentivar uma pessoa que deixou de pecar a amar é o mesmo que incentivar um cadeirante a andar. Essas pessoas não saberão o que fazer. Elas precisam, antes de tudo, recuperar os movimentos, fazer fisioterapia, exercitar-se até que a vida volte ao normal. A santidade consiste em um processo semelhante. Amar é um processo que começa com a súplica a Deus do dom da caridade.

Esse amor a Deus também não pode ser de qualquer modo. Para ser completamente feliz, o homem deve amar a Deus de todo coração. Temos de nos entregar totalmente, sem reservas, àquele que é a fonte de toda a felicidade.

As dificuldades para a santidade se resumem em duas. A primeira delas é a luta para parar de pecar, para viver a lei de Deus conforme Ele a prescreveu para nós. É verdade que, por natureza, Deus nos fez com a capacidade de amar. No entanto, assim como o cadeirante que, não por natureza, mas por conta de uma deficiência, não pode andar sem antes passar por uma terapia, também nossa alma, marcada pelas sequelas do pecado, precisa de uma terapia para novamente amar. Os homens não foram feitos para o egoísmo.

A consagração à Nossa Senhora é uma espécie de auxílio, ou melhor, um atalho para viver isso. Para amar a Deus, temos de nos entregar a Ele de todo o coração. Mas é verdade também que temos medo de Deus. Apesar de Deus ser amor infinito e não existir dúvida quanto a isso, o nosso coração ferido olha para Ele e o enxerga como um “desmancha prazeres”, como o Deus que nos proíbe de fazer o que é “legal”, o que é “gostoso” e o que supostamente nos faz feliz.

Como fazer, então, para nos entregarmos a Deus se, apesar de nossa inteligência saber que Ele é amor, nosso coração tem medo dEle?

A solução está em Nossa Senhora.

Um exemplo que Padre Paulo Ricardo costuma dar é o de sua irmã Ana, que se encontra com uma enfermidade grave. Padre Paulo, quando reza pela irmã, sabe teologicamente que a vontade de Deus sempre será a melhor. Mas, em seu coração, ele teme essa vontade. Esse medo existe por causa do pecado original, por causa do egoísmo. Vejamos o que dizem as Sagradas Escrituras. Elas narram que Adão e Eva, antes do pecado, viviam com tranquilidade no paraíso, onde Deus caminhava com eles na brisa da tarde, como verdadeiros amigos. Mas, depois da queda, originou-se o medo de Deus: “Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo, porque estou nu; e ocultei-me.” (Gn 3, 10). O pecado levou a humanidade a ver Deus como inimigo.

Essa é a primeira consequência do pecado original. O homem, por mais que Deus demonstre seu amor incondicional, não consegue se entregar totalmente a Ele. A ferida de Adão esperneia e diz: “E se Ele não me amar e exigir de mim uma cruz insuportável?”

Acontece que neste mesmo paraíso Deus providenciou uma solução, uma mulher que seria inimiga da serpente, esmagando-lhe a cabeça. Essa mulher é a Virgem Maria. É a Virgem Maria quem esmaga esse medo que existe dentro de nós. A terapia do amor está, portanto, na devoção a Nossa Senhora, porque ninguém tem medo de se jogar nos braços de uma mãe bondosa. Quando nos entregamos totalmente a Nossa Senhora, Ela nos ajuda a entregarmo-nos totalmente a Deus. Colocamos tudo nas mãos de Maria e Ela, imediatamente, coloca tudo nas mãos de seu filho Jesus.

É claro que o amor de Maria não é maior que o amor de Deus. O próprio São Luís deixa isso bem claro ao assinalar que, perto de Deus, a Virgem Maria é menor até do que um átomo (cf. Tratado, I, 14). O problema é que nosso coração ferido tem medo de ir para Deus. Isso pode ser entendido pela comparação entre o Sol e a Lua. O Sol é, obviamente, muito mais luminoso que a Lua. Mas nosso olhar limitado não consegue olhar diretamente para a luz solar, ao passo que a luz da Lua, que vem do Sol, pode ser apreciada com toda simplicidade, embora seja infinitamente menor. A luz da Lua não tira a glória do Sol. De modo semelhante, o amor que vem de Maria é o amor que vem de Deus. Esse amor se reflete nela e vem aos nossos corações sem agredi-los, sem nos deixar com medo. Eis o porquê de nos consagramos à Virgem Maria.

A consagração à Virgem Maria não é uma consagração propriamente à Virgem Maria, mas a Nosso Senhor Jesus Cristo, sabedoria encarnada, pelas mãos da Bem-aventurada Virgem Maria. A consagração é a Jesus Cristo.

E que garantia podemos ter de que, entregando tudo a Maria, Ela entregará tudo a Deus? Pela diferença de atitudes entre Ela e Eva. No paraíso, Eva olhou para o fruto da árvore do bem e do mal, assim narra o livro de Gênesis (3, 6), e o cobiçou para si. Maria, por outro lado, entregou o fruto da árvore da cruz totalmente a Deus, apesar de sua dor. Se a Virgem Maria foi capaz de entregar Jesus, seu filho querido, o Deus encarnado, não há dúvida de que ela nos entregará também, com tudo o que somos e tudo o que temos.

Isso tudo aqui explicado até agora nos motiva a querer consagrar tudo a Maria, como pede São Luís. Mas há também um fundamento teológico da consagração que precisa ser conhecido.

Se você pedir a um filósofo para ele analisar e abstrair a essência da consagração em termos filosóficos e teológicos, este filósofo poderia dizer duas coisas.

Primeiro, a Virgem Maria tem uma ação salvífica. Embora Jesus seja o Salvador por excelência, e não há dúvida quanto a isso, Ele entrou no mundo por meio da ação de Maria. Portanto, Jesus entra na vida dos homens por meio de Maria. Essa é a primeira verdade da essência da consagração. Maria não é simplesmente uma intercessora como os outros santos; Ela tem uma ação salvífica, um poder de cooperar na salvação como corredentora.

Segundo, a promessa de sempre recorrer à Virgem Maria até o fim dos tempos. A consagração a Nossa Senhora é uma promessa séria, solene, diante de Deus, de recorrer constantemente à Virgem Santíssima, que possui um poder de salvação em nossas vidas.

De fato, Jesus é o Salvador e só nEle existe salvação como único mediador da humanidade inteira. Contudo, Jesus entrou no mundo, como vontade soberana de Deus, da mesma maneira que a perdição entrou no mundo, ou seja, por uma mulher. Havia uma mulher, virgem imaculada, noiva de um homem, que foi visitada por um anjo. Essa mulher era Eva. Ela, desobedecendo a Deus, teve uma participação na queda da humanidade. Muitos séculos depois, Deus repetiu a mesma história para que a salvação entrasse no mundo. Para isso, escolheu uma mulher, virgem imaculada, noiva de um homem, e mandou que Gabriel a visitasse para convidá-la a ser Mãe do Filho de Deus, por quem a humanidade seria redimida.

Deus poderia ter enviado Jesus ao mundo de muitas maneiras. O Salvador universal, Salvador de todas as pessoas do gênero humano, inclusive de Maria, preferiu, no entanto, vir ao mundo por meio de uma mulher. E essa mesma mulher disse: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim conforme a vossa Palavra” (Lc 1, 38).

Essa participação de Maria na encarnação do Verbo refere-se a um ponto fundamental da fé católica, que os protestantes, infelizmente, rejeitam. Deus quer mesmo nos salvar por meio de Jesus Cristo, Deus que se fez homem, contando, para isso, com a cooperação dos demais homens. E além de Jesus, o primeiro ser humano com o qual Deus contou foi a Virgem Maria. Ele quer também a cooperação dos demais humanos, que são os santos. Conforme ensina Santo Agostinho, “Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti”. Deus não vai nos salvar sem a Virgem Maria, mesmo que alguns, como os protestantes, não notem isso. Ela é Mãe de todos e não rejeita nenhum de seus filhos.

A cooperação de Maria na obra da graça é reconhecida desde os tempos mais antigos da Igreja, o que se sabe por meio desta oração do século III, o Sub tuum praesidium: “À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita! Amém”. Vejam que essa oração antiquíssima não pede a intercessão de Maria, pede, antes, a proteção. Ou seja, pede-se a proteção de um poder salvador da Virgem Maria. Ela, que ao lado de Miguel, luta contra o dragão, contra a serpente primitiva. Deus constituiu a inimizade entre Satanás e a Virgem Maria.

É altamente recomendável, por isso, que todos os cristãos se consagrem à proteção de Nossa Senhora. Tamanha é a eficácia desse ato que, como comprovam os inúmeros testemunhos, o diabo sempre põe algum empecilho, a fim de dissuadir as pessoas de se consagrarem. Mas, ao mesmo tempo, a Virgem Maria sempre providencia os meios necessários para a consagração também.

A preparação da consagração consiste, conforme a explicação de São Luís no Tratado, em:

227. Primeira prática. Aqueles e aquelas que quiserem adotar esta devoção, que não está erigida em confraria, como seria de desejar, depois de ter, como já disse na primeira parte desta preparação ao reino de Jesus Cristo, empregando ao menos doze dias em desapegar-se do espírito do mundo, contrário ao de Jesus Cristo, dedicarão três semanas a encher-se de Jesus Cristo por intermédio da Santíssima Virgem. Eis a ordem a observar:

228. Durante a primeira semana aplicarão todas as orações e atos de piedade para pedir o conhecimento de si mesmo e a contrição por seus pecados. Tudo farão em espírito de humildade. Para isso poderão, se quiserem, meditar sobre o que ficou dito sobre o nosso fundo de maldade, e considerar-se, nos seis dias desta semana, como uma lesma, um sapo, um porco, uma serpente, um bode; ou, então, estas três palavras de São Bernardo: “Cogita quid fueris, semen putridum; quid sis, vas stercorum; quid futurus sis, esca verminum”. Pedirão a Nosso Senhor e a seu Espírito Santo que os esclareça, dizendo: “Domine, ut videam; ou “Noverim me”; ou “Veni, Sancte Spiritus”, e dirão todos os dias a ladainha do Espírito Santo e a oração que segue. Recorrerão à Santíssima Virgem e lhe pedirão esta grande graça que deve ser o fundamento das outras, e para isso recitarão todos os dias o “Ave, Maris Stella” e as ladainhas.

229. Durante a segunda semana, aplicar-se-ão em todas as suas orações e obras cotidianas, em conhecer a Santíssima Virgem. Implorarão este conhecimento ao Espírito Santo. Poderão ler e meditar o que já dissemos a respeito. Recitarão, como na primeira semana, as ladainhas do Espírito Santo, o “Ave, Maris Stella”, e mais um rosário todos os dias, ou pelo menos o terço, nesta intenção.

230. A terceira semana será empregada em conhecer Jesus Cristo. Poderão ler e meditar o que dissemos neste sentido, e recitar a oração de Santo Agostinho, inserida no número 67. Poderão, com o mesmo santo, dizer e repetir centenas de vezes por dia: “Noverim te: Senhor, que eu vos conheça”, ou então: Domine, ut videam – Senhor, fazei que eu veja quem sois”. Como nas semanas precedentes, recitarão as ladainhas do Espírito Santo e o “Ave, Maris Stella”, ajuntando as ladainhas do Santíssimo nome de Jesus.

231. Ao fim destas três semanas, confessar-se-ão e comungarão na intenção de se darem a Jesus Cristo na condição de escravos por amor, pelas mãos de Maria. E depois da comunhão, que cuidarão de fazer conforme o método que segue, recitarão a fórmula de consagração, que se encontra também adiante; será necessário que a escrevam ou mandem escrever, se não estiver impressa, e a assinem no mesmo dia em que a fizerem.

232. Nesse dia, será bom renderem algum tributo a Jesus Cristo e a sua Mãe Santíssima, seja em penitência de sua infidelidade passada às promessas do batismo, seja em sinal de sua dependência do domínio de Jesus e de Maria. Ora, esse tributo será conforme a devoção e capacidade de cada um: um jejum, uma mortificação, uma esmola, um círio. Ainda que não dêem mais que um alfinete em homenagem, contanto que o dêem de bom coração, é o bastante para Jesus, que só olha a boa vontade.

233. Todos os anos, ao menos, no mesmo dia, renovarão a consagração, observando as mesmas práticas durante três semanas.

A consagração é também importante para ratificar nossa filiação mariana. Ou se é filho da Mulher, ou se é filho da serpente. Sejamos, portanto, todos da Imaculada.

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