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Texto do episódio
01

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
(Jo 17, 20-26)

Naquele tempo, Jesus ergueu os olhos ao céu e rezou, dizendo: “Pai santo, eu não te rogo somente por eles, mas também por aqueles que vão crer em mim pela sua palavra; para que todos sejam um como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, e para que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste.

Eu dei-lhes a glória que tu me deste, para que eles sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que assim eles cheguem à unidade perfeita e o mundo reconheça que tu me enviaste e os amaste, como me amaste a mim. Pai, aqueles que me deste, quero que estejam comigo onde eu estiver, para que eles contemplem a minha glória, glória que tu me deste porque me amaste antes da fundação do universo. Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheci, e estes também conheceram que tu me enviaste.

Eu lhes fiz conhecer o teu nome, e o tornarei conhecido ainda mais, para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu mesmo esteja neles”.

Continuamos nossa novena de Pentecostes, em preparação para a grande festa do nascimento da Igreja. Hoje, gostaríamos de falar a respeito de Jesus, a quem damos o título de Cristo. Pouca gente se dá conta de que Cristo é antes um título que um nome. E o que quer dizer “Cristo”? Quer dizer “Ungido” (Χριστός, em grego; Messias, em hebraico, משיח), ou seja, “aquele que recebeu uma unção”. A unção, é claro, refere-se aqui ao Espírito Santo, como o próprio Jesus afirmou na sinagoga de Nazaré ao iniciar sua vida pública: “O Espírito do Senhor repousa sobre mim”. Existe, porém, uma diferença entre o nosso relacionamento com o Espírito Santo e o de Jesus com ele. Podemos dizer que nós recebemos o Espírito Santo, enquanto Jesus o tem desde sempre, isto é, desde o momento de sua concepção, quando assumiu para si corpo e alma no ventre da Virgem Maria. Ele é o Ungido por excelência, isto é, tem a superabundância da graça e, portanto, da presença do Espírito Santo. Lembremos quem é Jesus. Jesus, sim, tem uma humanidade igual à nossa em tudo, com corpo e alma; mas Ele é uma pessoa divina. Deus, que existe desde toda a eternidade, é Pai, Filho e Espírito Santo: o Pai é igual em dignidade ao Filho, e o Espírito Santo é igual em dignidade ao Pai e ao Filho. Por isso rezamos: “Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo”. É o mistério de um só Deus em três pessoas realmente distintas, mas iguais em tudo. Sucede que a segunda pessoa da SS. Trindade, ou seja, o Filho eterno, por um decreto da vontade divina assumiu uma humanidade no ventre da Virgem Maria. O próprio anjo Gabriel, cujo nome significa “a força de Deus”, disse a Nossa Senhora que a concepção daquele Menino se daria pelo poder do Espírito Santo. O anjo disse: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra, por isso aquele que vai nascer de ti é santo e será chamado Filho de Deus”. Jesus não “recebeu” o Espírito Santo, senão que, desde o primeiro instante de sua concepção, é o portador do Espírito Santo, é aquele que, por ser o próprio Filho eterno, traz consigo o Pai, por quem é gerado, e o Espírito Santo, que de ambos procede. Com efeito, onde está uma pessoa divina, ali estão também as outras duas. Mas por que, numa novena de Pentecostes, estamos falando da messianidade de Jesus, o Ungido pelo Espírito Santo? Porque temos de nos dar conta de que é Jesus quem nos envia o Espírito, de modo que ninguém pode recebê-lo senão através dele. Cristo é a escada que une o céu e a terra e faz com que possamos receber a graça do Espírito Santo. É como se, para usar a comparação do Salmo, o óleo da unção fosse derramado tão abundantemente sobre a cabeça, que é Cristo, que descesse pela barba até a orla das vestimentas. A unção da cabeça é a unção que recebem também os membros. É pela humanidade de Cristo que recebemos aquele que nos é dado no Batismo e sobretudo na Confirmação. Precisamos nos dar conta disso. Muita gente faz a novena do Espírito Santo, mas se esquece de pedi-lo ao único que o pode dar. Deus quer nos enviar o Espírito Santo, e o Espírito Santo quer se doar a nós, mas isso não acontecerá a não ser pelo canal ou instrumento escolhido para tanto. É a humanidade de Jesus, por seu corpo e, sobretudo, por sua alma, inteligência e vontade. Deus nos conhece — todo o mundo sabe disso —, mas Deus quer nos conhecer pela inteligência de Cristo, uma inteligência humana que alcança uma sabedoria virtualmente infinita. Aquele Menino nascido da Virgem Maria, que cresceu em Nazaré, trabalhou na carpintaria, pregou nas sinagogas, curou os doentes, foi crucificado, morto, sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, Jesus, o Filho de Deus, que assumiu a nossa natureza humana, nos conhece humanamente, mas com um conhecimento humano agraciado de forma extraordinária. É por essa união pessoal com Deus, essa união no Espírito Santo, que é a união hipostática, que o faz conhecer-nos assim. Deus me conhece, mas Ele quer me conhecer também pela inteligência de Jesus. Deus me ama, mas Ele quer me amar com um coração, uma vontade humana, a vontade de Jesus. Cristo, conhecendo-nos por sua inteligência, tanto a divina quanto humana, e amando-nos por sua vontade, tanto a divina quanto a humana, diz: “Quero que recebais o Espírito Santo”. É por isso que Ele disse aos Apóstolos na Última Ceia: “Estais tristes agora porque subo para o Pai, mas a vossa tristeza vai se transformar em alegria. Porque convém que eu vá para o Pai porque, se eu não for, vós não recebereis o Paráclito, o Espírito Santo”. Sabemos que Jesus é a cabeça sobre a qual está toda a unção, por Ele recebemos o Espírito Santo. É importante que nos demos conta de que o Espírito Santo nos é enviado por intermédio de Jesus Cristo. Quando comungarmos e rezarmos em ação de graça a oração antiga: “Alma de Cristo, santificai-me”, lembremos: por sua inteligência e vontade humanas, Cristo nos conhece e quer enviar o seu Espírito Santo sobre nós.

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