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Evangelho de Lucas: um ícone precioso da Virgem Maria

Inspirado por Deus para relatar fielmente os acontecimentos da nossa salvação, o evangelista São Lucas nos mostra que a devoção à Virgem Maria, longe de ser um empecilho, é um caminho fácil e seguro para conhecer Cristo mais a fundo.

Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 10,1-9)

Naquele tempo o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. E dizia-lhes: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita.
Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós. Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: ‘o Reino de Deus está próximo de vós’”.

Lucas, contração de Lucano [1], parece ter sido antioqueno, segundo o testemunho de Eusébio (HE 3.4), nascido fora da religião judaica [2] e perito em medicina, pelo que diz São Paulo: “Saúda-vos Lucas, o caríssimo médico” (Col 4,14). Seus principais feitos foram conservados em parte nos livros do Novo Testamento (em Atos e algumas epístolas paulinas), em parte nos documentos da Tradição. É autor de Atos dos Apóstolos, onde emprega desde o início a terceira pessoa, embora, ao narrar a segunda viagem de Paulo (ca. 51–54 d.C.), desde a expulsão do Apóstolo de Trôade até sua ida a Filipos (At 10,16-40), utilize a primeira. A partir daí, volta a usar a terceira pessoa até o retorno do Apóstolo, ao cabo da terceira viagem (ca. 55–59 d.C.), à cidade de Filipos (At 20,5s). Deste ponto da narração até o final do livro, o autor fala sempre na primeira pessoa. É opinião comum que o uso da primeira pessoa designa o tempo em que Lucas acompanhou São Paulo.

Também é fato, pelo que consta nas epístolas, que Lucas foi companheiro e ajudante de Paulo (Col 4,14), esteve junto do Apóstolo quando do primeiro aprisionamento (Fl 24) e não o abandonou no segundo (2Tm 6,9ss). Tampouco parece provável, de resto, que durante o período entre ambas as prisões (i.e., nas expedições apostólicas pela Hispânia, por volta de 62–67 d.C.) que Lucas, seu “médico caríssimo” (Col 4,14), tenha deixado o Apóstolo das gentes.

Que o terceiro evangelista haja coroado a vida com o martírio, afirmam-no desde a antiguidade tantos autores, que seria difícil enumerá-los. São incertas, em todo caso, suas pegadas. De acordo com Santo Epifânio (Hær. 51.11), Lucas teria evangelizado a Dalmácia, a Gália, a Itália e a Macedônia; segundo São Gregório de Nazianzo (Orat. 30.11), a Acaia; segundo Simeão Metafrastes (Vita S. Lucæ, 7), o Egito e Tebas. O prólogo monarquiano acrescenta: “Não teve nunca mulher nem filhos, morreu aos 74 anos na Bitínia, cheio do Espírito Santo”, ao que fazem eco Santo Isidoro de Sevilha (De vita et ob. Patrum, 82) e São Jerônimo (De vir. ill., 7): “Foi sepultado em Constantinopla, viveu 84 anos, sem esposa, à qual cidade, no vigésimo ano de Constâncio, os ossos dele, junto com as relíquias do Apóstolo André, foram transferidas da Acaia”.

Um antiga tradição, atestada por Nicéforo Calisto (Hist. Eccl. 2.43), Simeão Metafrastes (Vita S. Lucæ, 6) e, antes deles, já no séc. VI, por Teodoro Anagnosta (Excerpta, 1.1), afirma que Lucas teria sido pintor e o primeiro retratista da Virgem Maria. Nesse (suposto) quadro primitivo se teria inspirado, tempos mais tarde, o autor do ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Embora não se possa ter certeza de tal tradição, tampouco há razões para rejeitá-la. É incerto porém quando e onde os dois se teriam encontrado: se em 49–50 d.C., no início da segunda viagem paulina, Maria teria 67/70 anos; se apenas em 58 d.C., quando Lucas acompanhou Paulo a Jerusalém, teria ela 78/80.

No terceiro Evangelho há vários indícios de uma tradição proveniente dos lábios e do coração de Maria. Com isso estão de acordo não só os católicos como também alguns protestantes e racionalistas. Embora não falte quem ponha em dúvida que Lucas se tenha encontrado alguma vez com a Virgem bendita, tampouco faltam razões para pensar que o evangelista não só a viu como dela ouviu a narração do mistério da encarnação e muitos outros fatos da vida oculta em Nazaré. Tome-se, e.g., (a) o testemunho mesmo de Lucas, que supõe uma relação direta com Maria (2,19.33.51); (b) o conteúdo de certas passagens, que, se não fosse revelado por ela, não poderia ser conhecido por outra pessoa; (c) nem é verossímil que Lucas, preocupado em consultar as fontes mais em primeira mão (1,1-4), haja negligenciado uma testemunha tão privilegiada como a Mãe do Senhor, principalmente para o relato da vida oculta. 

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