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Christo Nihil Præponere"A nada dar mais valor do que a Cristo"
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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 10,38-42)

Naquele tempo, Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e escutava sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!” O Senhor, porém, lhe respondeu: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.

Celebramos hoje a memória de São Francisco de Assis, santo extraordinário cuja vida foi uma aplicação muito concreta do Evangelho de hoje. O Evangelho de hoje é o evangelho em que Jesus, na casa de Marta e de Maria, é servido por Marta, a agitada Marta nas suas panelas, e é também acolhido por Maria, a contemplativa. Jesus olha para Marta e diz: “Marta, Marta, tu te agitas e te inquietas por muitas coisas. Uma só coisa é necessária, e Maria escolheu a melhor parte”.

São Francisco de Assis é uma aplicação histórica, concreta, deste encontro com Cristo, no qual a pessoa, vendo em Cristo o único necessário, se encanta por esta pobreza. Ou seja, quando nós nos desapegamos de tudo nesta vida, vivemos uma pobreza, uma pobreza material e, ao mesmo tempo, sentimos uma pobreza espiritual que é sede de Cristo, vontade de estar com Ele, de estar aos pés dele como está Maria, contemplativa, aos pés de Cristo.

Assim era São Francisco de Assis, um jovem que vivia agitado nas coisas do mundo, agitado com seus projetos intra-mundanos. A sociedade européia, na época de Francisco de Assis, estava vivendo certo crescimento econômico, porque estava surgindo uma pequena burguesia, estavam circulando mais mercadorias. Estamos num período, digamos assim, de “ouro” da Idade Média. Mas havia também muitas desigualdades sociais e muita pobreza.

Francisco era dessa burguesia e ele, que pensava — como era o sonho de todo filho de burguês — em ser nobre, ou seja, em ser cavaleiro para ser elevado à nobreza, aventurou-se numa guerra. Terminou prisioneiro, e aquela frustração fez com que ele se encontrasse com Jesus na prisão de Perugia. Não sabemos exatamente o que aconteceu naquele desastre pessoal de Francisco. O fato é que ele voltou diferente, começou a entender que Jesus é o único necessário, começou a olhar para sua vida e perceber como ela era supérflua: as coisas que antes, para ele, eram sonhos tornavam-se agitações inúteis.

Por isso a vontade de Francisco de Assis de viver o Evangelho sine glosa, o Evangelho sem adaptações, o Evangelho na radicalidade. Algumas pessoas ficam chocadas com a radicalidade de Francisco. Afinal de contas, estamos num tempo em que muitos estão dispostos a fazer concessões ao mundo, a adaptar o cristianismo a uma espécie de comodidade burguesa, a um “Jesuzinho” que não faz mal a ninguém nem exige de mim nenhuma mudança. Afinal, Jesus é tão “bonzinho”, não é verdade?…

São Francisco de Assis sabe que Jesus não é “bonzinho”. Jesus é o Amor, por isso ele chora com o coração dilacerado, com as mãos chagadas, com o coração transpassado. Ele chora e diz: “O Amor não é amado”. O Amor não é amado, e amar este Amor é o único necessário! Que nós, então, sejamos como Francisco, pobres de espírito, ou seja, desapegados desse mundo, e sintamos a pobreza espiritual de quem quer cada vez mais, até finalmente ser saciado com Cristo, o único necessário. Saibamos com São Francisco levar as pessoas para este Amor, o único necessário.

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