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Texto do episódio
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 6,43-49)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons. Toda árvore é reconhecida pelos seus frutos. Não se colhem figos de espinheiros, nem uvas de plantas espinhosas.
O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio. Por que me chamais: ‘Senhor! Senhor!’, mas não fazeis o que eu digo?
Vou mostrar-vos com quem se parece todo aquele que vem a mim, ouve as minhas palavras e as põe em prática. É semelhante a um homem que construiu uma casa: cavou fundo e colocou o alicerce sobre a rocha. Veio a enchente, a torrente deu contra a casa, mas não conseguiu derrubá-la, porque estava bem construída.
Aquele, porém, que ouve e não põe em prática, é semelhante a um homem que construiu uma casa no chão, sem alicerce. A torrente deu contra a casa, e ela imediatamente desabou; e foi grande a ruína dessa casa”.

Celebramos hoje a memória de São Cornélio e São Cipriano, dois santos que estão presentes no Cânon Romano, naquelas listas de santos da Oração Eucarística I. Quem foram eles? Os dois foram bispos, mas um chegou a ser Papa. Cornélio era bispo de Roma, portanto Papa, e Cipriano era bispo de Cartago. Esses dois bispos, ambos mártires, viveram por volta do ano 250, numa época em que a Igreja era perseguida enormemente pelo então imperador romano, chamado Décio. Foi uma das maiores perseguições que a Igreja teve de enfrentar naqueles tempos. A primeira foi de Nero, depois a de Décio, depois a de Diocleciano. Foram os grandes focos de perseguição aos cristãos naquela época.

Bom, como em cada onda de perseguição, houve muitos mártires; mas infelizmente, devido à fragilidade humana, houve também aqueles que caíram. Pois bem, aqueles que de alguma forma renegaram a fé, seja porque sacrificaram aos imperadores, ídolos falsos, seja porque, diante da requisição dos soldados e da polícia romana, entregaram os livros da Sagrada Escritura, seja porque, com falsidade, “compraram” um certificado para dizer que tinham sacrificado ao imperador e estavam livres, estes eram todos chamados de “lapsi”, ou seja, caídos, pessoas que caíram e cometeram o grave pecado de, tendo ocasião de testemunhar sua fé por Cristo e morrer mártires, terminaram encontrando o melhor caminho, o caminho mais “confortável”.

De repente, a Igreja então se encontrou com esse número enorme de pessoas que eram antes bons cristãos, mas que, diante dessa perseguição, tiveram aquele momento de fraqueza. O que fazer com essas pessoas? Havia duas reações extremas: em Roma, um padre chamado Novaciano era rigoroso e não queria que ninguém fosse readmitido. São Cornélio, seguindo a tradição antiquíssima da Igreja, dizia: “Não, também não é assim. Eles pecaram, mas se eles fizerem penitência, depois de muita penitência, poderemos readmiti-los, poderemos perdoar os pecados deles”.

Do outro lado do Mediterrâneo, lá na África, em Cartago, o extremo era o oposto. Havia outro herege, chamado Novato (não confundir com Novaciano, lá de Roma). Novato queria simplesmente que as pessoas fossem admitidas sem penitência nenhuma, já São Cipriano, bispo de Cartago, quis equilibrar as coisas e dizer: “Nós precisamos readmiti-las, sim, mas através da penitência”. Então, veja como São Cornélio e São Cipriano adotaram ambos uma posição moderada e equilibrada diante dos dois extremos: o extremo de que os pecadores não podiam ser readmitidos e o extremo de que podiam, sim, ser readmitidos sem penitência alguma.

Pois bem, o que a vida destes santos nos ensina hoje? Talvez nos ensine que nós estamos caindo no excesso que teve de enfrentar São Cipriano, ou seja, nós pecamos, vamos ao confessionário, mas não nos preocupamos depois de fazer penitência. Mas a penitência não é somente para colocarmos sobre nós aquilo que merecemos, por nossas culpas; é também para reconstruir o nosso coração, que se comportou como um egoísta, a fim de se configurar e se unir ao Cristo crucificado!

Esse é o valor da penitência cristã. A realidade de que nós, que não temos a oportunidade de derramar o nosso sangue como mártires, precisamos, sim, dar o nosso testemunho de morrer para o mundo, para a carne e para as tentações do demônio, exatamente através da penitência.

Por isso, não somente confessemos os nossos pecados, façamos penitência, pedindo a Deus a mudança do nosso coração e do coração de tantos pecadores.

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