A devoção, como vimos na aula passada, não se confunde com sentimento, uma vez que sua nota essencial é a prontidão da vontade com que nos entregamos ao serviço de Deus. A devoção se funda, por conseguinte, em uma disposição permanente, que costuma receber o nome técnico de hábito. Ora, é o hábito que nos permite produzir, aqui e agora, tal como as circunstâncias concretas o exigem, aquele ato de vontade sem o qual se torna impossível não só cumprir o dever, mas ir além do dever e agir por amor e generosidade. Mas se a devoção pode ser caracterizada em termos de uma disposição habitual permanente e estável, em virtude da qual nos tornamos dispostos a servir a Deus, de que modo ela pode crescer e desenvolver-se?
Antes de mais nada, precisamos estar atentos ao fato de que, como assinala Santo Tomás de Aquino [1], a causa extrínseca e principal da devoção não pode ser senão o próprio Deus. É ele, com efeito, que dá a quem quer a graça de ser devoto, de tal maneira que, se assim tivesse querido, poderia ter suscitado os mais religiosos espíritos dentre os mais indiferentes samaritanos. À semelhança, porém, de todo e qualquer hábito, a devoção pode e deve crescer em nossas...