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Consagração Total a Nossa Senhora

Os bens espirituais (I)

A nossa consagração à Virgem Santíssima deve ser tão perfeita e completa que se estenda inclusive aos bens da alma, o que inclui não somente a nossa inteligência e vontade, mas também o valor de nossas obras, o mérito de nossas ações, a satisfação de nossos sacrifícios e a impetração de nossas súplicas.

Nesta nova aula do curso de Consagração Total a Nossa Senhora, você vai descobrir a imensa riqueza espiritual que entregamos sem reservas a nossa Mãe do Céu.

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Ao nos consagrarmos à Virgem Santíssima, como vimos na aula passada, colocamos à sua disposição tudo o que somos e possuímos, seja na ordem da natureza, seja na ordem da graça [1]: corpo e alma, bens exteriores, toda sorte de sucesso que nos estiver reservado etc. Entregamos-lhe também nossos bens interiores e espirituais, e é sobre eles que falaremos na presente aula, haja vista não só a importância do assunto para a vida de todo consagrado, mas ainda a triste difusão de certas idéias protestantes que, de um modo ou de outro, vieram obscurecer na mente de não poucos fiéis a real natureza desta classe de bens.

São Luís Maria Grignion de Monfort distingue no Tratado três tipos de bens espirituais, em correspondência com o valor de que nossas boas obras, isto é, aquelas feitas em estado de graça, podem revestir-se. Trata-se do que ele denomina valor a) meritório, b) satisfatório e, por fim, c) impetratório. Vejamos com um pouco mais de vagar em que consiste cada um desses bens.

O mérito, como o próprio nome já indica, é uma realidade associada à noção de justiça, de retribuição. Dizemos, com efeito, que algo é meritório na medida em que é digno de recompensa. “É uma ação”, define-o Santo Tomás, “em virtude da qual se torna justo dar algo àquele que age” [2]. É evidente que, na ordem sobrenatural, não há nada que possamos fazer, a partir de nossas forças naturais, que nos torne merecedores da glória do céu. A bem-aventurança eterna, que nada mais é do que a visão fruitiva e gozosa de Deus, é um bem que supera e transcende infinitamente a nossa condição e não é, rigorosamente, devida a nenhuma criatura; trata-se, pelo contrário, de um dom gratuito, que Deus dá a quem ele quiser.

Apenas Cristo podia realizar obras dignas de um prêmio — de um “salário”, por assim dizer — como a alegria do céu. Por ser ele o próprio Verbo divino encarnado, todas as suas ações eram ações de um Homem-Deus, capaz de um amor à altura de tamanha recompensa. Só precisamos ter o cuidado de lembrar que Cristo não mereceu a visão beatífica, que é o que comumente entendemos por “céu”, pela simples razão de que, devido à união hipostática, ele a possuía desde o primeiro instante de sua concepção. Isso não o impediu, contudo, de merecer “sua gloriosa ressurreição, sua admirável ascensão aos céus, a glória do corpo, estar à direita do Pai, a exaltação de seu nome e o título de Rei universal e Juiz supremo de vivos e mortos” [3].

Nós, ao contrário, só poderíamos merecer se recebêssemos a capacidade para isso, ou seja, se nos fosse concedida, antes de qualquer mérito nosso, a graça especialíssima de também nós merecermos. E foi este um dos mais preciosos dons que nos conquistou Cristo por seu sacrifício redentor. O nosso mérito, é claro, não pode ser comparado com o de Jesus. O dele é infinito, universal (cf. 1Jo 2, 2), superabundante (cf. Rm 5, 20), de rigorosa e estrita justiça; o nosso é limitado, imperfeito, de justiça meramente proporcional, condicionado, ademais, pela intensidade do amor que pomos em nossas ações. De modo que quanto maior for nesta vida a nossa caridade, maior será a recompensa à nossa espera no céu: “A cada um”, diz o Senhor, “segundo suas obras” (Mt 16, 27).

O valor satisfatório, por sua vez, está bastante relacionado com a realidade do Purgatório. Sabemos pelas Escrituras que só o que é puro e santo pode ser admitido à presença de Deus: só entra no céu, em outras palavras, quem antes de morrer o amou de todo coração, com toda a inteligência e com todo o seu ser. No paraíso celeste não há espaço para corações divididos nem manchas de qualquer espécie. Ora, como esta vida é o único período de prova que temos, o único momento que nos é concedido para merecermos aos olhos de Deus, é evidente que aquelas almas que, embora não tenham morrido em pecado mortal, não estão ainda em condições de entrar no gozo do seu Senhor necessitam ser purificadas, e para isso contam com as orações e penitências que em sufrágio delas oferecem os fiéis que ainda vivem neste mundo. Seria uma imensa falta de caridade nos recusarmos a oferecer um pouco de alívio a essas almas tão benditas quanto sofredoras. Seria como recusar um analgésico que nos está ao alcance da mão a um enfermo em dores agudas e lancinantes.

O terceiro e último bem espiritual arrolado por São Luís Maria é o chamado valor impetratório, derivado do verbo latino impetro, que significa pedir, postular, rogar. Trata-se do valor que uma boa obra possui e com o qual podemos, oferecendo-o a Deus, ou obter uma nova graça [4] ou suplicá-la em benefício de outrem. Podemos fazer sacrifícios, jejuns, rezar terços e novenas, assistir à Santa Missa, praticar, enfim, todo tipo de boas obras e pedir ao Senhor que se digne aplicar o valor delas, por exemplo, para a conversão de uma alma, para a perseverança de outra, por uma intenção particular etc. Tudo isso constitui um tesouro espiritual de que podemos dispor conforme a nossa vontade e que desejamos oferecer integralmente à Virgem Maria.

Veremos noutra oportunidade como viver essa entrega, quais suas consequências e vantagens.

Referências

  1. São Luís M.ª G. de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 39.ª ed., Petrópolis: Vozes, 2009, p. 120, n. 121.
  2. In IV Sent., d. 15, q. 1, a. 3, ad 4.
  3. A. Royo Marín, Jesucristo y la Vida Cristiana. Madrid: BAC, 1961, p. 321, n. 294.
  4. São Luís M.ª G. de Montfort, op. cit., loc. cit.
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