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Consagração Total a Nossa Senhora

O que significa ser devoto?

Para lermos com proveito o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, nada mais natural do que nos perguntarmos logo no início o que significa, afinal de contas, ser devoto. O que é isto a que chamamos “devoção”? Trata-se de sentimentos, de emoções? Serão verdadeiramente devotas aquelas almas que, apesar de seu empenho e prontidão em servir a Deus sem demora, têm de carregar a cruz da sequidão e da aridez espiritual?

São estes os temas abordados nesta segunda aula do nosso curso de Consagração Total à Virgem Maria.

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Para podermos compreender em profundidade o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, de São Luís Maria Grignion de Montfort, nada mais natural do que começarmos nossa reflexão dizendo algumas palavras sobre o conceito mesmo de “devoção”, palavra tão usada quanto mal entendida. Vista no mais das vezes como algo associado a sentimentos e emoções de ordem religiosa, a devoção consiste, em sentido próprio, na prontidão da vontade para entregar-se com fervor a tudo quanto diz respeito ao culto e ao serviço de Deus. Disto já podemos tirar a conclusão de que a nota característica da verdadeira devoção é o amor e que, enquanto ato da virtude da religião, o fim ou termo sobre o qual ela recai não pode ser senão Deus mesmo.

Por esse motivo, a devoção aos santos, e até mesmo a devoção à Virgem Maria, deve ter sempre a Deus, princípio e fim de todas as coisas, por destinatário. Ser devoto da excelsa Mãe do Verbo encarnado, assim como deste ou daquele santo, significa, em última análise, venerar o que neles há de Deus, isto é, venerar nos servos a grandeza, o poder, as perfeições, a bondade etc. do Senhor. Longe de afastar-nos de Deus, como querem alguns, ou de fazer-nos prestar a simples homens um culto que só ao Criador é devido, como pretendem outros, a devoção — em suas múltiplas e legítimas manifestações — é um meio mais do que eficaz de nos aproximarmos dele e fazermos o nosso coração arder de amor por aquele que de tantos benefícios cumulou seus fiéis discípulos.

No que respeita à devoção à Virgem Maria, de modo particular, São Luís adverte, logo nos capítulos iniciais de seu Tratado, que é Jesus Cristo o fim último da verdadeira devoção mariana; trata-se, portanto, de uma realidade eminentemente cristocêntrica: “Jesus Cristo”, escreve ele, “é o alfa e o ômega, o princípio e o fim de todas as coisas. Nós só trabalhamos, como diz o Apóstolo, para tornar todo homem perfeito em Jesus Cristo, pois é em Jesus Cristo que habita toda a plenitude da divindade” [1].

A devoção possui, naturalmente, uma dinâmica própria. Nesse sentido, convém observar que ela possui, por assim dizer, um dúplice aspecto. Enquanto ato da virtude da religião, pela qual nos inclinamos a prestar a Deus o culto que por justiça lhe devemos, a devoção ordena-se primariamente ao que se refere ao culto divino; é, portanto, uma disposição da vontade pela qual nos tornamos disponíveis para servi-lo sem demora. Ela pode, no entanto, brotar também de outra virtude, ainda mais excelente por seu objeto: a caridade. Neste último caso, a devoção passa a estar orientada, antes de mais nada, à união amorosa com Deus, de quem nos tornamos amigos em virtude da graça santificante. Desse modo, como escreve um autor espiritual, “a caridade causa a devoção, na medida em que o amor nos faz prontos para servir o amigo, e, por sua vez, a devoção aumenta o amor, pois a amizade se conserva e aumenta com os serviços prestados ao amigo” [2].

Outro ponto em que vale a pena insistir, sobretudo nos tempos que correm, é o fato de a devoção ser, essencialmente, uma prontidão da vontade, conforme dito mais acima. Isso significa, entre outras coisas, que ser devoto e fervoroso não é o mesmo que sentir este fervor da vontade:

O fervor ou prontidão — escreve o mesmo autor em outra obra — consiste primária e principalmente na enérgica determinação da vontade de permanecer fielmente consagrado ao serviço de Deus, apesar das frequentes e dolorosas securas, aridezes e provações espirituais. Este fervor da vontade, chamado também devoção substancial, constitui, ao mesmo tempo, o fundamento firme sobre o qual repousa toda a prática da devoção e a causa de todo o seu mérito diante de Deus. Sem ele, a devoção puramente sensível não tem consistência nem utilidade verdadeira. Com ele, a alma permanece tranquila e inquebrantável no serviço de Deus em meio a todas as flutuações das impressões sensíveis [3].

O Senhor quer, com efeito, que estejamos prontos e bem dispostos para o servir sem demora, ao primeiro chamado, à primeira solicitação. Ciente porém de nossa radical incapacidade, de nosso apego excessivo e desordenado às sensações e consolações, ele bondosamente nos confiou ao cuidado materno da Virgem Maria, a quem tantas vezes nos parece mais fácil e até mais doce servir, quais filhos ocupados amorosamente das necessidades e interesses de sua Mãe. E não há como duvidar de que, ao servirmos com fidelidade a toda pura Mãe de Deus, estaremos servindo também aquele que a quis por Genitora e auxiliar adequada (cf. Gn 2, 18) na obra da Redenção.

Maria Santíssima, que ao contrário de Eva (cf. Gn 3, 6) ofereceu totalmente a Deus, no patíbulo da cruz, o fruto bendito formado em seu ventre por obra do Espírito Santo, não há de recusar entregar ao Pai a oferta de si mesmos daqueles que a ela se consagram como filhos e escravos. Unindo-nos a ela, é impossível não nos unirmos a Cristo e, por Cristo, a Deus.

Referências

  1. São Luís M.ª G. de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 39.ª ed., Petrópolis: Vozes, 2009, p. 63, n. 61.
  2. A. Royo Marín, Teología de la Perfección Cristiana. Madrid: BAC, 2012, p. 561, n. 394.
  3. Id., La Virgen María. Madrid: BAC, 1968, p. 361, n. 339.
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