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Os Quatro Temperamentos

Introdução

O papel que desempenha o temperamento na vida espiritual costuma ser objeto de dois mal-entendidos: de um lado, há quem defenda uma ataraxia que nada tem de católica; de outro, há quem, rendido à desesperança, pense que o temperamento é um fato biológico invencível. Entre tais extremos, encontra-se a verdade, sempre serena e modesta, da genuína espiritualidade cristã.

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O objetivo geral deste curso, dedicado ao tema dos temperamentos, é oferecer aos alunos um conhecimento básico sobre si mesmos que possa ajudá-los a alcançar a santidade. Antes, porém, de entrarmos diretamente no assunto que aqui nos ocupa, é conveniente estabelecer algumas noções prévias que servirão de “pano de fundo” para as próximas aulas.

Deve-se saber, em primeiro lugar, que a santidade consiste em unir-se a Jesus Cristo já nesta vida, por meio da graça divina, a fim de unir-se a Ele por toda a eternidade no céu. A esta união, incoativa neste mundo e consumada no outro, se resume o fim supremo e a vocação única da nossa existência.

Comparada com ela, qualquer atividade, qualquer conquista, qualquer sucesso que tenhamos aqui, seja como padres ou religiosos, seja como pais ou profissionais, não passa de uma trivialidade sem importância. Pela mesma razão, qualquer desgraça, dor, tribulação ou injustiça que venhamos a sofrer é um momento passageiro que redundará em glória e felicidade eternas, se tivermos a graça de nos unirmos a Cristo por todo o sempre no céu.

Eis por que a única tragédia verdadeiramente digna desse nome é o inferno. Os que para lá vão, condenados a nunca ver a Deus face a face, frustraram de modo irreparável o único objetivo para o qual foram criados. Diante de tão lamentável destino, toda a “glória”, todos os prazeres, todas as falsas alegrias que neste mundo tiveram os precitos são não apenas ninharia e loucura, mas motivo de dores e remorsos que jamais conhecerão fim.

Daqui se vê, pois, a importância desta vida: é nela, como numa longa e muitas vezes sofrida peregrinação, que temos a oportunidade de preparar a nossa eternidade, e é à luz dessa meta, ao mesmo tempo árdua, se pensamos na insuficiência das nossas forças, e esperançosa, se nos fiamos dos auxílios de Deus, que devemos medir o valor de todas as outras coisas. 

Pois bem, sabemos que, feitos para a glória do céu, temos de ser santos e que, para ser santo, é necessário unir-se a Jesus Cristo. Ora, o que une duas pessoas não é outra coisa senão o amor, que é uma forma muito especial de amizade, porque só os que se conhecem e se querem bem, de forma mútua e manifesta, podem ser amigos e amar-se como tais. Por isso, quanto mais amor tivermos a Jesus, mais unidos a Ele estaremos e, por conseguinte, maior será a nossa santidade. 

Aqui, no entanto, se nos depara uma dificuldade: se devemos nos unir a Jesus, onde encontraremos o amor com que iremos amá-lo? Afinal, sendo Ele não somente verdadeiro homem, mas verdadeiro Deus, é digno de um amor que em muito supera qualquer afeto humano que lhe possamos dar. O nosso carinho, a nossa estima, a nossa amizade, por mais sinceros que sejam, são de per si insuficientes, no plano meramente humano, para nos unir a Cristo. Temos necessidade, numa palavra, de um amor proporcionado à grandeza de Deus, razão por que tal amor só pode ser, também ele, de natureza divina.

Sabendo da nossa incapacidade, Deus, que nos amou antes que pensássemos em amá-lo, deu-nos a solução: trata-se da graça santificante, de ordem estritamente sobrenatural, pela qual somos elevados à condição divina e enriquecidos com a capacidade de amar a Deus com o amor com que Ele quer ser amado.

Prova disso é a vida dos inúmeros santos da nossa Igreja. Nela, vemos com clareza meridiana que a graça divina é não somente uma realidade viva, mas um poder efetivo e fecundo, que realiza na alma humana uma modificação de tal ordem, que ela se torna capaz de atos de amor a Deus que, em si mesmos, não podem ser fruto da nossa simples natureza. De fato, assim como seria um milagre que uma pedra pensasse, assim também é como um “milagre” que o homem, de coração tão pequeno e mesquinho, ame a Deus com o amor do próprio Deus.

Redimidos, pois, pelo Sangue de Cristo, dele recebemos esse dom preciosíssimo que é a graça sobrenatural, qual semente do amor divino que podemos e devemos cultivar, para que ela frutifique nos mesmos atos de amor que vemos na vida dos santos, isto é, em frutos de santidade, de união íntima com Nosso Senhor.

Ora, o objeto de estudo deste curso é justamente o “terreno” em que Deus deposita a semente da graça, ou seja, o substrato humano, em sua dimensão fisiológica, que a graça não só não destrói como supõe, aperfeiçoa e sobre o qual se desenvolve, segundo o conhecido adágio da Escola: gratia non tollit naturam, sed perficit. A graça, com efeito, supõe a natureza humana, com todas as características que lhe são inerentes, e é por isso que, conhecendo como funciona o nosso temperamento, isto é, a compleição (complexio) ou conjunto de disposições afetivas, emocionais, passionais etc. que nos caracteriza, poderemos trabalhar melhor e com mais consciência na nossa santificação, isto é, no cultivo da graça divina. 

A razão disto é óbvia: não somos anjos, mas seres humanos, unidades de corpo e alma, e é neste “terreno”, em que convergem o material e o espiritual, o intelectual e o sensitivo, que está plantada a graça e, portanto, há de crescer a árvore frondosa de uma santidade perfeita. E o temperamento é uma, não a única, das propriedades deste terreno que devem ser levadas em conta se queremos entender e orientar de forma inteligente a dinâmica da santidade.

Por isso, a santidade não se alcança por certa ataraxia, como se fôra necessário “reprimir” ou anular todas as nossas paixões. Antes, pelo contrário, é preciso ordená-las, orientando-as segundo as disposições temperamentais de cada um, para fazê-las servir à nossa vida espiritual. É fato que as paixões predominantes de cada temperamento podem às vezes ser um grande obstáculo; mas se as conhecemos e, com a ajuda da graça, aprendemos a dominá-las racionalmente, podem ser um auxílio poderoso, como um “combustível”, para caminharmos a passos rápidos na senda da perfeição.

Por outro lado, também é preciso advertir que os temperamentos não são, no sentido forte do termo, determinantes. O que isto significa? Significa que, por mais que cada indivíduo tenha seus traços temperamentais, que tendem a permanecer estáveis ao longo da vida, não existe uma pré-determinação biológica que impeça esta ou aquela pessoa de vencer os aspectos negativos do seu temperamento ou de adquirir, com esforço e constância, as boas qualidades que comumente caracterizam outros tipos temperamentais.

Nesta matéria, é preciso lembrar sempre que somos livres e, por mais “peso” que tenha o corpo, está sempre em nossas mãos decidir a que tendências, vícios, qualidades etc. daremos livre curso. No fim das contas, não estamos nunca “aprisionados” no nosso temperamento: Deus nos deu um para ajudar-nos a amá-lO, pois, sendo seres corpóreos, também a nossa dimensão físico-biológica entra em jogo na hora de nos entregarmos a Ele com tudo o que somos e possuímos.

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