Na primeira aula do curso, vimos que o pensamento de Lutero, tal qual ele se reflete em seus escritos, não corresponde estritamente ao que veio a tornar-se mais tarde o luteranismo e a sua justificação teológica; na segunda, estudamos como a filosofia nominalista teve um peso decisivo na formação intelectual de Lutero. Falta-nos ainda, como já anunciamos no início do curso, mostrar em que sentido o heresiarca alemão pode ser considerado um ideólogo, ainda que — frisêmo-lo bem — nem o luteranismo nem o protestantismo como tais sejam ideologias, mas construções teológicas posteriores. Por ora, convém-nos explorar mais um pouco a questão da influência nominalista no pensamento de Lutero e, de modo particular, no seu repúdio à teologia escolástica tradicional.
Pois bem, não há dúvida de que Lutero, apesar dos seus erros, foi um homem extremamente culto. Prova-o, entre outras coisas, a sua capacidade de traduzir a Bíblia dos originais e de dominar línguas como o grego, o hebraico e o aramaico, sem contar o seu conhecimento de latim. No entanto, sabe-se que uma das principais deficiências na formação de Lutero foi a sua pouca afeição à metafísica e a formas mais...