No ano de 1520, durante o pontificado de Leão X, foi redigida a bula de excomunhão de Lutero, Exsurge Domini, que condenava também 41 teses da nova teologia. Vimos anteriormente que o que está jogo em todo esse conflito político-religioso não é, como às vezes se crê, uma questão de moralidade. Com efeito, Lutero não está preocupado em reformar uma Igreja corrupta, que, aliciada pelas riquezas e sedenta de poder, teria abandonado o fervor primitivo dos antigos cristãos. Antes, pelo contrário, o problema é de fundo mais dogmático do que qualquer outra coisa. Espírito religioso e atormentado por uma série de conflitos interiores cuja natureza é difícil de precisar, Martinho Lutero pensou ter descoberto nas Escrituras uma solução doutrinal definitiva para os tormentos que sempre o perseguiram.
Tal solução, como estudamos na aula passada, implicava, entre outras coisas, a destruição de todo o sistema sacramental da Igreja Católica, e foi assim que Lutero terminou fabricando para si mesmo, como meio de dar razão de seus conflitos ante a própria consciência, uma ideologia de cunho marcadamente religioso. No entanto, a convicção pessoal — que aqui não pomos em dúvida — que...