Ocupamo-nos nas aulas passadas daqueles anos que foram gerando na alma de Lutero a revolta espiritual que se converteria mais tarde na “Reforma” Protestante. Vimos, com efeito, que a primeira solução que Lutero tentou dar às suas crises de escrúpulos, acentuadas por uma obsessão quase paranóica com a possibilidade ser condenado ao inferno, foi viver rigorosamente os seus votos monásticos. Mas foi apenas depois de sua volta de Roma, onde não conseguira lograr a conciliação entre as alas rigorista e relaxada dos agostinianos, que Lutero decidiu afrouxar a dureza ascética com que até o momento ele vinha buscando contornar suas inseguranças espirituais.
Uma vez em Wittenberg e “apadrinhado” por Johann von Staupitz, Lutero logo se doutorou em Teologia e, num curto espaço de tempo, galgou altos postos não só nos meios acadêmicos como também entre os seus confrades de religião. Nessa época, Lutero teve o que se convencionou chamar “experiência da torre”, isto é, uma experiência de “iluminação” que o levou a se dar conta de que a justiça de Deus, no sentido em que as Escrituras utilizam a palavra, se refere não tanto à justiça ativa com que Deus nos pune e condena quanto à...