Dedicamos a aula passada a desconstruir a versão canônica e panfletária sobre a origem da chamada "Reforma" Protestante. Vimos, com base em seus próprios escritos, que a motivação de Lutero não foi nem o desejo de reerguer espiritualmente a Igreja nem o escândalo diante da corrupção moral das autoridades eclesiásticas, mas sua oposição a uma série de ensinamentos da doutrina católica. Antes porém de compreendermos quem foi o homem por trás da “Reforma”, precisamos entender primeiro como ele pensava, já que só assim podemos ter acesso ao porquê de sua resistência ao dogma cristão.
Em 1501, aos dezoito anos de idade, Martinho Lutero matriculou-se em uma das universidades mais prestigiadas da Alemanha, a Universidade de Erfurt. Mas, por renomada que fosse, também Erfurt vinha seguindo há tempos o ritmo cada vez mais decadente dos estudos superiores na Europa, que dia após dia se distanciavam do ideal de sabedoria que inspirara a criação do sistema universitário para se converter, pouco a pouco, em simples meio de ascensão social. Com a multiplicação das universidades, com efeito, os estudantes passaram a aspirar mais ao diploma do que ao saber, mais ao reconhecimento...