Escritas sob o ditado do Espírito Santo e entregues por Cristo à sua Igreja, as Escrituras Sagradas têm a Deus mesmo por autor principal [1]. Esta divina autoria se estende, com efeito, à totalidade e a cada uma de suas partes, de modo que tudo quanto nelas é afirmado, enunciado e insinuado pelo hagiógrafo se deve considerar como a própria Palavra de Deus [2]; os textos inspirados guardam, pois, tudo e somente o que Ele, falando por meio de homens e à maneira humana, quis revelar-nos para a nossa salvação [3]. Ora, a fim de entender o que a Deus aprouve transmitir-nos mediante os autores sagrados, a Igreja, auscultando a pregação apostólica sob a assistência do Espírito Santo, esteve sempre atenta ao fato de as Escrituras conterem um dúplice sentido, literal e espiritual, "como é ensinado pela prática de Nosso Senhor e dos Apóstolos" [4] e confirmado por uma antiga e constante tradição [5].
Isto porque, para significar algo, Deus tem o poder de falar-nos não apenas por meio de palavras — o que também nós somos capazes de fazer —, senão também por meio das coisas significadas por elas [6]. Por isso, somente à Escritura é próprio que as coisas expressas pelas palavras...