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Texto do episódio
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Neste dia 20 de maio, data em que nosso site celebra o seu 13.º aniversário, queremos oferecer a nossos amigos uma meditação sobre a aparição de Nossa Senhora em Tuy, na Espanha. Trata-se de uma visão que a Irmã Lúcia, a última sobrevivente dos três pastorinhos, teve no dia 13 de junho de 1929, e que, de certo modo, completa e resume toda a mensagem de Fátima.

Sabe-se pelas Memórias da Irmã Lúcia que Nossa Senhora havia prometido retornar à terra uma vez mais para pedir a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração. Essa consagração deveria ser feita pelo Papa em reunião com todos os bispos do mundo. Em todo caso, a aparição de Tuy foi além desse pedido, e a Virgem Maria fez as vezes de “apóstola”, por assim dizer, confirmando os mistérios fundamentais da fé cristã: a Santíssima Trindade, a união hipostática, a Redenção e a própria mediação de Maria. Enfim, Nossa Senhora queria estabelecer e firmar no coração dos cristãos a rocha inabalável do dogma católico.

Como tudo se deu naquela noite, há quase 90 anos, é a própria Irmã Lúcia quem no-lo revela: “Eu tinha pedido e obtido licença das minhas Superioras e Confessor para fazer a Hora-Santa das 11 à meia-noite, de quintas para sextas-feiras” (Memórias, p. 195). Ou seja, ela iria rezar aquilo que hoje conhecemos por Passio Domini. Na ocasião, estando ela sozinha, ajoelhou-se entre a balaustrada, no meio da capela, e começou a rezar, prostrada, as orações que o Anjo lhe havia ensinado em 1916: “Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo…”. De fato, essas orações haviam sedimentado no coração de Lúcia o desejo de sempre adorar o Senhor, fazendo-a crescer nas virtudes teologais.

Para não acabar dormindo por conta do cansaço, Lúcia fez o sacrifício de rezar numa posição bem incômoda, com os braços estirados. Em toda a capela, a única luz que irradiava naquele momento era a do sacrário. Mas logo a Irmã Lúcia percebeu outra. Que seria agora? 

Na verdade, é interessante notar como “a luz”, nas aparições de Fátima, sempre registrou algo da graça de Deus para auxiliar os três pastorinhos na sua missão de tudo sofrer pela salvação das almas. Tamanha era a iluminação sobrenatural dessas crianças que Jacinta chegou uma vez a exclamar: “Esta gente fica tão contente só por a gente lhe dizer que Nossa Senhora mandou rezar o terço e que aprendessem a ler! O que seria, se soubessem o que Ela nos mostrou em Deus, no Seu Imaculado Coração, nessa luz tão grande!” (Memórias, p. 144). 

Estando, pois, diante daquele novo fenômeno, Lúcia ergueu-se e, de repente, “iluminou-se toda a Capela com uma luz sobrenatural e sobre o Altar apareceu uma Cruz de luz que chegava até ao teto”  (Memórias, p. 195). Foi então que se revelou algo fascinante: “Em uma luz mais clara via-se, na parte superior da cruz, uma face de homem com corpo até à cinta, sobre o peito uma pomba também de luz e, pregado na cruz, o corpo de outro homem” (Memórias, p. 195). Era a visão da Trindade. Depois, conta a irmã, “um pouco abaixo da cinta, suspenso no ar, via-se um cálice e uma hóstia grande, sobre a qual caíam algumas gotas de sangue que corriam pelas faces do Crucificado e duma ferida do peito”.

Dum ponto de vista teológico, pode-se ver a unidade do dogma da fé, sintetizado por uma aparição que, ao mesmo tempo, reúne a Santíssima Trindade e o sacrifício de Cristo na cruz. De fato, “escorregando pela Hóstia”, Lúcia via essas gotas caírem dentro do cálice. Finalmente, ao lado de Jesus, estava de pé Nossa Senhora de Fátima, que trazia na mão esquerda o seu Imaculado Coração, “sem espada, nem rosas, mas com uma Coroa de espinhos e chamas…” (Memórias, p. 195); do outro lado da cruz, avistavam-se “umas letras grandes, como se fossem de água cristalina que corresse para cima do Altar” e “formavam estas palavras: Graça e Misericórdia”.

Muitas coisas podem ser ditas sobre essa aparição. A princípio, chama a atenção o Imaculado Coração de Maria. Na visão de Lúcia, ele não é do jeito que costumamos representá-lo; ao contrário, esse coração é idêntico ao de Jesus, o que revela a intimidade do Filho com a Mãe. Ainda mais do que São Paulo, Maria pode afirmar sem medo que Cristo vive nela. Mas o ponto fundamental é aquele indicado por Lúcia: “Compreendi que me era mostrado o mistério da Santíssima Trindade e recebi luzes sobre este mistério que não me é permitido revelar”  (Memórias, p. 195). 

Ora, o mistério da Santíssima Trindade é a razão e o sentido de todo o universo. Não foi por menos que, no limiar do século XX, o papa Leão XIII fez questão de recordar sobre tal artigo da fé aquilo que os Doutores da Igreja sempre disseram: “O Dogma da Trindade é, por assim dizer, a substância do Novo Testamento, o maior de todos os mistérios, já que é a fonte e a origem de cada um deles” (Divinum illud munus, n. 3). Se existimos, portanto, não é por outro motivo senão o de conhecer, amar e contemplar a Trindade Santíssima, motivo este que nos une intimamente aos anjos do Céu. Como eles, também fomos criados para a eterna verdade.

Aqui percebemos, então, o erro nefasto que circunda os homens e põe em risco toda vocação: o indiferentismo religioso, que nivela as mais variadas profissões de fé, como se, no fim das contas, todas prestassem culto às mesmas Pessoas Divinas. Isso não só ofende o bom senso como ignora diferenças teológicas fundamentais e históricas. Os muçulmanos, por exemplo, não reconhecem nenhuma Trindade e, para eles, soaria mesmo blasfemo relacioná-los ao culto do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Também os judeus, embora tenham sido preparados durante o Antigo Testamento para reconhecer o Messias, tanto o rejeitaram como o crucificaram. Dos protestantes, por sua vez, pode-se dizer que o pietista Immanuel Kant resumiu bem a opinião geral do que pensam os mais modernistas: o mistério da Trindade é, dum ponto de vista filosófico, totalmente inútil.

Esse irenismo no qual foi fundada a era moderna não pode, por outro lado, ser a medida e o termo da nossa fé católica. Contra todas as heresias modernistas, a aparição de Nossa Senhora, em Tuy, levanta-se como um gigante para defender o depósito sagrado da Fé, manifestando mais uma vez aos homens a eficácia do seu precioso auxílio. De fato, o Imaculado Coração de Maria é nosso refúgio, onde podemos e devemos nos proteger, pois nele se consuma aquilo que é o chamado para todos os homens: a configuração ao Sagrado Coração de Jesus.

Com esse panorama, cabe agora uma palavra sobre a consagração da Rússia, a fim de que ela não espalhasse seus erros pelo mundo. Consagrada ou não, o fato é que os seus erros acabaram contaminando boa parte do mundo, causando dor e perseguição à Igreja. Em suas memórias, a Irmã Lúcia conta que Nossa Senhora se queixou a ela dizendo: 

Não quiseram atender ao Meu pedido!... Como o rei de França, arrepender-se-ão e fá-la-ão, mas será tarde. A Rússia terá já espalhado os seus erros pelo mundo, provocando guerras, perseguições à Igreja: O Santo Padre terá muito que sofrer. 

Tais erros são de conhecimento público: comunismo, naturalismo, indiferentismo… todas essas perversões estão presentes no modus pensandi e operandi da sociedade moderna, como verdadeiras chagas sociais. Neste sentido, a aparição de Tuy talvez tenha ultrapassado o propósito da consagração da Rússia justamente pela possibilidade de que tal consagração não acontecesse em tempo oportuno. Como uma verdadeira Mãe providente, Nossa Senhora então apresentou o remédio definitivo para a doença: tratava-se da fé dos Apóstolos, dos mártires, dos Padres da Igreja que, para defender o primado da Santíssima Trindade, não temeram derramar o próprio sangue. 

Nós também precisamos repetir a mesma profissão de fé, a mesma adoração à Trindade, como remédio às convulsões do mundo e consolo ao Coração de Jesus. Apenas assim chegará a nós o triunfo do Imaculado Coração.

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