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Homilia Dominical
23 Set 2017 - 26:42

O chamado de Deus e a inveja da graça fraterna

No Evangelho deste domingo, Jesus narra a parábola do empregador generoso que, contratando empregados em diferentes momentos do dia, recompensa-os igualmente, ainda que uns tenham trabalhado menos que outros. Com essa parábola, Nosso Senhor quer nos advertir contra a presunção de adiar nossa conversão para a velhice, rejeitando o chamado que Deus faz em nosso “hoje”, e contra a inveja da graça fraterna, que nos faz pecar contra o próximo.
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Homilia Dominical - 23 Set 2017 - 26:42

O chamado de Deus e a inveja da graça fraterna

No Evangelho deste domingo, Jesus narra a parábola do empregador generoso que, contratando empregados em diferentes momentos do dia, recompensa-os igualmente, ainda que uns tenham trabalhado menos que outros. Com essa parábola, Nosso Senhor quer nos advertir contra a presunção de adiar nossa conversão para a velhice, rejeitando o chamado que Deus faz em nosso “hoje”, e contra a inveja da graça fraterna, que nos faz pecar contra o próximo.
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt
20, 1-16)

Naquele tempo, Jesus contou esta parábola a seus discípulos: "O Reino dos Céus é como a história do patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. Combinou com os trabalhadores uma moeda de prata por dia, e os mandou para a vinha. Às nove horas da manhã, o patrão saiu de novo, viu outros que estavam na praça, desocupados, e lhes disse: 'Ide também vós para a minha vinha! E eu vos pagarei o que for justo'. E eles foram. O patrão saiu de novo ao meio-dia e às três horas da tarde, e fez a mesma coisa. Saindo outra vez pelas cinco horas da tarde, encontrou outros que estavam na praça, e lhes disse: 'Por que estais aí o dia inteiro desocupados?' Eles responderam: 'Porque ninguém nos contratou'. O patrão lhes disse: 'Ide vós também para a minha vinha'. Quando chegou a tarde, o patrão disse ao administrador: 'Chama os trabalhadores e paga-lhes uma diária a todos, começando pelos últimos até os primeiros!' Vieram os que tinham sido contratados às cinco da tarde e cada um recebeu uma moeda de prata. Em seguida vieram os que foram contratados primeiro, e pensavam que iam receber mais. Porém, cada um deles também recebeu uma moeda de prata. Ao receberem o pagamento, começaram a resmungar contra o patrão: 'Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor o dia inteiro'. Então o patrão disse a um deles: 'Amigo, eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata? Toma o que é teu e volta para casa! Eu quero dar a este que foi contratado por último o mesmo que dei a ti. Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja, porque estou sendo bom?' Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos".

Do Evangelho deste domingo, que nos narra a parábola do empregador generoso, ou dos trabalhadores da última hora, podemos tirar duas lições importantes: uma a respeito do chamado de Deus e outra sobre a recompensa dispensada por Ele aos servos que lhe são fiéis.

Para compreender bem essa parábola, precisamos, antes, voltar nossos olhos à primeira leitura da missa que, como de costume na liturgia da Igreja, sempre nos apresenta uma chave interpretativa para o Evangelho. Diz o texto de Isaías: "Buscai o Senhor, enquanto pode ser achado; invocai-o, enquanto ele está perto" (55, 6). O profeta chama nossa atenção para o chamado de Deus em nossas vidas, que pode acontecer em ocasiões inesperadas, e para as quais talvez não estejamos preparados. Isaías quer, assim, que aproveitemos sempre as ocasiões de Deus, como adverte também Santo Agostinho, ao dizer: Timeo Deum transeuntem et non redeuntem, "Tenho medo do Deus que passa e não volta mais", da graça que passa sem que eu a perceba.

Esse mesmo Santo Agostinho comenta a parábola de hoje dizendo que, do mesmo modo que o patrão contratou um funcionário às 5h, outro às 9h e outro às 12h, Deus também vai ao nosso encontro em tempos diferentes de nossas vidas. Para os jovens, esse encontro ocorre justamente ao meio-dia, período de maior calor; ou seja, quando estes mesmos jovens se encontram na fase das paixões mais ardentes e intensas. Tomados de assalto pelo convite divino, eles podem tanto seguir o apelo de Deus, renunciando a suas paixões, como podem recusar-se a caminhar na verdade, adiando sua conversão para a velhice. Santo Agostinho avisa, entretanto, que ninguém tem a garantia de que irá completar a jornada, de que chegará até às cinco da tarde. Por isso, é preciso buscar a Deus, como aconselha o profeta Isaías, enquanto Ele se deixa encontrar.

Acontece que um dos efeitos mais malignos do pecado original em nossas almas é a desconfiança de Deus, o que nos impede de fazer uma entrega livre e sincera aos seus projetos. No coração de todo pecador há uma impressão errônea de que, na verdade, Deus não passaria de um velhaco que deseja tolher nossa felicidade. Deus é considerado nosso inimigo. Desse modo, muitos jovens adiam sua conversão para entregarem a carne ao mundo e somente os ossos a Deus; e isso quando já estiverem velhos e cansados.

A primeira leitura denuncia a insensatez dessa atitude, recordando, com as palavras do profeta Isaías, que os pensamentos de Deus "não são como os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são como os meus caminhos" (55, 8). Apesar de nossos pecados, Deus é e sempre será amor e misericórdia. O nosso egoísmo é que nos distancia dEle e faz com que Ele se torne nosso rival.

O segundo ensinamento que podemos tirar do Evangelho de hoje diz respeito ao pecado da inveja. Como na relação de Caim com Abel, de José com seus irmãos, do filho pródigo com o filho mais velho, também os trabalhadores mais antigos sentem ciúmes dos mais novos por estes terem recebido a mesma quantia pela obra realizada. Esse valor pago pelo patrão aos seus empregados é, na verdade, a graça de Deus. O pecado da inveja, por sua vez, ocorre justamente quando a pessoa se sente triste pela felicidade alheia, pela graça que seu irmão recebeu.

Ora, Deus é livre para agraciar mais a quem Ele quiser. O que precisamos entender é que essa graça abundante dispensada a uns e não a outros não consiste em uma predileção injusta de Deus. Com as graças da Virgem Maria, por exemplo, Deus não cometeu uma injustiça contra a humanidade, mas, antes, converteu Nossa Senhora em instrumento para a causa de nossa salvação. Maria, a cheia de graça, tornou-se um presente para nós. Assim ocorre com nossos irmãos. Deus não nos trata igualmente para que, vencendo o orgulho, sejamos presentes uns para os outros.

A inveja, por outro lado, cega nosso coração e atenta contra o Espírito Santo. Trata-se, portanto, de um pecado gravíssimo e mortal, como indica o Catecismo Maior de São Pio X (n. 961). O invejoso não ama a Deus. O que ele deseja, por assim dizer, é que Deus deixe de amar o seu irmão. Assim agiram Caim, os irmãos de José e o filho mais velho da parábola.

Deus, por outro lado, deseja profundamente nos amar e, dando o merecido a alguns e com maior generosidade a outros, quer que sejamos também graça para nossos irmãos, como foi José, retirando sua família da fome. Assim, estejamos sempre preparados para o chamado de Deus e abramos nosso coração para as graças recebidas por nossos irmãos na fé.

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